Em novo álbum, a cantora e compositora Fernanda Cunha atesta seu gene musical pautado na premissa do bom gosto.
Por Bruno Negromonte
Poucos são aqueles, que não são da área, que trazem consigo a capacidade de mensurar a qualidade musical existente em nosso país. Talentos surgem aos borbotões nos mais distintos rincões deste país continente, no entanto restringem-se ao conhecimento de poucos por não contar com o apoio dos grandes conglomerados midiáticos que procuram reger gostos e tendências neste panorama social ao qual vivemos. Tal contexto acaba gerando um contexto desfavorável não apenas para as manifestações populares e tradições existentes nas diversas regiões do país, mas também ocasiona um desfavorável contexto para a produção fonográfica de qualidade e independente existente. Com este cenário adverso, resta o caminho tortuoso para aqueles que não se deixam corromper por estes ditames mercadológicos existentes e que, de certo modo, acabam impondo aquilo que julgam como mais adequado aos ouvidos da grande massa. É o que acontece com a cantora e compositora mineira Fernanda Cunha, que ao tirar ao leite de pedra, por tabela regozija os ouvidos mais apurados e exigentes. Com o dom de ser uma daquelas artistas que arrebata os ouvidos dos que tem a oportunidade de conhecer o seu trabalho já em sua primeira audição, Fernanda vem traçando uma história musical bastante singular em quase duas décadas de estrada. Coerente, sua discografia teve início em 2002 e desde então vem sendo composta por interpretações carregadas de personalidade e de uma sutileza que a destaca entre as grandes intérpretes de sua geração a partir dos nomes que compõem o panteão da música brasileira tais quais nomes como Chico Buarque, Tom Jobim, Sueli Costa, Djavan, Johnny Alf, Ivan Lins e tantos outros, em projetos que abarcam músicos das mais distintas nacionalidades. Outra característica importante e que faz-se também necessário ressaltar é a sua intimidade com o universo da composição, uma vez que tal característica encontra-se arraigada na família a partir dos parentes mais próximos. Portanto, nada há de se estranhar quando ocasionalmente o nome da artista surge entre os compositores presentes em seus álbuns. Com “Olhos de mar”, novo projeto de sua discografia, a coisa não seria diferente. Mesmo antes de chegar ao estado físico, este sexto álbum de sua discografia por si torna-se um produto de fácil conclusão levando-se em consideração todas as características de seus projetos anteriores. E com um “plus” a mais: é o primeiro projeto lançado por Fernanda composto exclusivamente por canções inéditas.
À margem dos grandes canais de televisão e emissoras de rádio, a cantora vem construindo uma sólida e coerente carreira desde 1997 quando resolveu aventurar-se em um ambiente cuja a família vem, de modo singular através de gerações, escrevendo capítulos representativos dentro do cenário musical nacional. Filha da saudosa cantora Telma Costa, sua incursão dentro da música a princípio ocorreu a partir do circuito musical carioca, onde ao lado de grandes músicos, a aspirante cantora apresentava um seleto repertório até o momento em que seguiu para uma longa temporada nos Estados Unidos, local este onde teve a oportunidade de gravar o seu primeiro álbum em 2002 sob o título de “O tempo e o lugar”. Este primeiro disco já mostra características que adornarão seus projetos fonográficos até os dias atuais, como a presença de grandes autores da música popular brasileira e uma sonoridade ímpar, caracterizada pela participação de exímios músicos. Dois anos após o lançamento deste primeiro álbum a artista apresenta, de modo independente, “Dois corações”, disco onde Fernanda interpreta Johnny Alf e Sueli Costa. Tal projeto conta com a participação dos homenageados em dois momentos: Johnny Alf interpreta, em duo com Fernanda, “Luz eterna”; e Sueli Costa, tia da intérprete, acompanha a mesma em “Bóias de luz”, canção esta que em 1978 deu título ao sexto LP da cantora Marília Medalha. Sucesso de crítica e público, este álbum propiciou à Fernanda a sua primeira turnê no Canadá em 2005. Tal oportunidade acabou oportunizou-a, posteriormente, a participar de diversos festivais de jazz existente no país como os de Vancouver, Toronto, Edmonton e Calgary entre outros. E essa afinidade sonora com o país seria responsável, em 2009, pelo disco “Brasil-Canadá”, projeto que retrata não apenas esta sua proximidade com a música canadense, mas também a excelente receptividade do público daquele país para com a sua arte. Em nove faixas Fernanda celebra de modo contagiante este encontro buscando unir canções e músicos dos dois Países. A discografia da artista ainda conta com os projetos “Coração do Brasil” (disco lançado em 2012 e que traz, entre contemporâneos e consagrados, os mais distintos compositores ) e “Zíngaro”, disco lançado em 2007, ano em que Tom Jobim completaria oitenta anos de vida. Acompanhada pelo violonista e guitarrista Zé Carlos, Fernanda interpreta dez parcerias de Tom e Chico Buarque no formato voz e violão. São por essas e outras razões que mesmo antes do resultado final de um novo projeto da cantora chegar aos nossos ouvidos, já temos as mais distintas referências para julgarmos e avaliarmos previamente de modo positivo.
Como em time que está ganhando habitualmente não se costuma mexer, a cantora procurou adotar este mesmo bordão para este novo projeto e manteve na tessitura de “Olhos de mar”, nomes que vem contribuindo com a sonoridade de seus projetos em momentos anteriores tais quais a pianista Camilla Dias, o pianista Cristóvão Bastos (que também assina os arranjos), o guitarrista Zé Carlos e o baixista Jorjão Carvalho. Ainda corroborando para manter a qualidade sonora e o alto nível do projeto, o disco conta com o baterista Edson Ghilardi e com o guitarrista e violonista Reg Schwager. Previsível pela qualidade artística de sua ficha técnica e por também apresentar um garboso repertório, este novo disco reitera que Fernanda não se dá por vencida e segue indo de encontro a um mercado a cada dia mais nefasto. Talvez a justificativa mais plausível para tudo isso seja a sua origem. Oriunda de uma linhagem nobre dentro da música popular brasileira, é de se esperar que seu gene tenha falado mais alto nesse atual contexto adverso e deturpado ao qual a nossa atual música se encontra.
Resoluta, Fernanda Cunha não se entrega e mantém-se cada dia mais firme em seu propósito de fazer música de qualidade, o que consequentemente nos faz acreditar que nem tudo está perdido dentro do atual cenário musical brasileiro. São lançamentos como estes que possibilitam o alento necessário para que a tão combalida música de qualidade por um momento possa respirar. Partindo pelo viés do ineditismo, a faixa que batiza o disco tem melodia composta por Cristóvão Bastos e letra de Nelson Wellington. “Olhos de mar” ainda apresenta novas produções de compositores como Filó Machado e Judith de Souza (“Manhã mineira”), Carlinhos Vergueiro (autor de duas das faixas presentes no disco: “Dando um tempo” e “Misteriosa”), Antonio Adolfo e ZéJorge (“Floresta azul”), assim como também da própria Fernanda (que assina as letras das faixas “Saudade de Você” e “Pode Ser que Eu Fique Dessa Vez”, escritas para as melodias do guitarrista Canadense Reg Schwager). O disco ainda traz “Naquele outono”, única composição deixada por sua mãe. A canção trata-se de uma parceria com o não menos saudoso poeta e compositor Tite de Lemos.
Trabalho de primeira grandeza, “Olhos de mar” nasce para fazer-nos enxergar além do que se ver. Longe da consensual imposição mercadológica regida pelas mais distintas e pejorativas características que regem o mercado do disco, este novo disco de Fernanda traz consigo uma espécie de chancela que acaba não fazendo do seu conteúdo o subproduto cultural demasiadamente consumido pela grande massa neste cenário funesto em que a música brasileira de qualidade encontra-se. Enquanto perpetuamos o nosso “Complexo de vira-lata” (termo tão bem criado pelo saudoso Nelson Rodrigues) com o que há de mais genuíno em nossa cultura estaremos privados de sorvermos a sonoridade que Fernanda Cunha vem apresentando nesta coesa trajetória. Uma sonoridade superior e devidamente reconhecida ao redor do mundo. Soma-se a isso a graça e o talento da artista e eis a fórmula que vem galgando espaços cada vez mais significativos nos diversos festivais nos quais tem se apresentado ao redor do mundo. As mais distintas plateias no exterior já atentaram para o talento dessa artista, falta agora nós valorizarmos esse talento à altura que merece.
Resoluta, Fernanda Cunha não se entrega e mantém-se cada dia mais firme em seu propósito de fazer música de qualidade o que consequentemente nos faz acreditar que nem tudo está perdido dentro do atual cenário musical brasileiro. São lançamentos como estes que possibilitam o alento necessário para que a tão combalida música de qualidade por um momento possa respirar. Partindo pelo viés do ineditismo, a faixa que batiza o disco tem melodia composta por Cristóvão Bastos e letra de Nelson Wellington. "Olhos de mar" ainda apresenta novas produções de compositores como Filó Machado e Judith de Souza ("Manhã mineira"), Carlinhos Vergueiro (autor de duas das composições presentes no disco: "Dando um tempo" e "Misteriosa"), Antonio Adolfo e ZéJorge ("Floresta azul"), da própria Fernanda (em duo com o guitarrista Canadense Reg Schwager). O disco ainda traz "Naquele outono", única composição deixada por sua mãe. A canção trata-se de uma parceria com o saudoso poeta e compositor Tite de Lemos. É claro que, longe do coro dos contentes, haverá quem julgue tal trabalho como uma fórmula aparentemente enfadonha, mais do mesmo, ou qualquer coisa do gênero; no entanto há existe a plena necessidade de imergir-se em sua discografia antes de qualquer avaliação premeditada. Ainda mais neste cenário funesto em que a música brasileira de qualidade encontra-se. Enquanto perpetuamo, s o nosso "Complexo de vira-lata" tão bem criado pelo saudoso Nelson Rodrigues, Fernanda Cunha vem mostrando toda a superioridade inerente a música brasileira ao redor do mundo. Com graça e talento a artista vem galgando espaços cada vez mais significativos nos diversos festivais nos quais tem se apresentado ao redor do mundo. As mais distintas plateias no exterior já atentaram para o talento dessa artista, falta agora nós valorizarmos esse talento à altura que merece.
Maiores Informações:
Site Oficial - www.fernandacunha.com
Myspace - www.myspace.com/fernandacunha
Aquisição do álbum:
Arlequim - http://www.arlequim.com.br
Cd Baby - http://www.cdbaby.com/cd/fernandacunha5Spotify - https://play.spotify.com/album/3PGsqLR7P0ae3AItfY3db6
Contato para Shows:
(11) 3083-4628
Cd Baby - http://www.cdbaby.com/cd/fernandacunha5Spotify - https://play.spotify.com/album/3PGsqLR7P0ae3AItfY3db6
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