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sexta-feira, 7 de agosto de 2015

10 ANOS SEM ARRELIA

Ao longo de 2015 completa-se uma década de saudade deste artista que povoou o imaginário de várias gerações de crianças brasileiras.

Por Luiz Rodrigues Monteiro Júnior



Waldemar Seyssel, o famoso Palhaço Arrelia, cuja família se confunde com a história do circo no Brasil. Aos 91 anos, a maior parte dos quais passados no picadeiro ou nos estúdios de TV, Arrelia é daquele tempo em que os artistas de circo praticamente nasciam no picadeiro. A arte circense ia sendo ensinada de pai para filho e nenhum membro da família pensava em se dedicar a outra atividade. Ele começou a atuar com seis meses de idade. Foi no circo chileno de seu tio, irmão de sua mãe; “Precisamos, para a comédia, de uma criança que chorasse muito e eu era um especialista em choro”, fala Arrelia.

Sua família começou a se dedicar ao circo a partir do avô paterno – Julio Seyssel, que nascera e vivia na França. Era professor da Sorbonne, quando conheceu uma jovem espanhola, artista de um circo que excursionava pelo o país. Fazia acrobacias em cima do cavalo e Júlio apaixonou-se por ela.

Sua família não queria o casamento, mas os dois resolveram se casar mesmo assim. Júlio deixou o cargo de professor da Sorbonne e foi morar no circo. Tornou-se apresentador de números circenses. O casal acabou vindo para o Brasil com o Grande Circo inglês dos Irmãos Charles e ao invés de prosseguir com a excursão para outros paises, ficou por aqui mesmo, dando origem a uma linguagem circense: filhos e netos, dedicados a arte circense. Só Arrelia tem mais cinco irmãos que foram do circo. O Palhaço Pimentinha, Walter Seyssel é filho de Paulo Seyssel, o Palhaço Aleluia, irmão de Arrelia.

Arrelia depois de longos anos de trabalho dentro do circo, resolveu trocar o picadeiro pela televisão, foi o primeiro da sua família a abandonar o circo, resolveu investir na TV. Arrelia falava que o circo não dava dinheiro suficiente para viver, ele tinha medo de acabar sua vida na Casa do Ator. Em 1958, foi a vez de seus irmãos entrarem na TV e foram trabalhar com ele na TV Record. Segundo Arrelia, o circo não progride no Brasil por falta de escolas de circo, reconhecidas pelo governo. Os grandes circos são obrigados a trazerem os artistas de fora, porque não há profissionais. As famílias tradicionais foram deixando de ensinar seus filhos, ou eles não quiseram aprender. Arrelia diz que nenhum de seus filhos é de circo e quem quiser aprender a arte, praticamente não tem mais como fazer.



Waldemar Seyssel começou em circo, saltando, passando pelo trapézio, pela cama elástica e em outras acrobacias, com seus dois irmãos, Henrique e Paulo. Mas quando o pai cansado deixou o circo, substituiu o nome artístico, usando o apelido de família que seu tio Henrique lhe dera: Arrelia. “Porque eu sempre fui muito inquieto, dando muita sorte e pagando com facilidade, principalmente junto ao público infantil”.* Seu primeiro parceiro foi o ator Feliz Batista, que fazia o palhaço de cara branca, vindo depois o irmão Henrique Sobrinho e finalmente, quando deixou o circo, em 1953, pela televisão, outro parceiro foi o Palhaço Pimentinha, Walter Seyssel, seu sobrinho.

O avô de Waldemar, Ferdinando Seyssel, saiu de Seyssel, região de Grenoble, na França, com a filha do diretor de circo, uma excelente eqüestre. Na Itália, trabalhou com os irmãos Fratellini. Na Áustria nasceu o filho mais velho, na França o segundo, na Alemanha o terceiro, na Argentina nasceu Vicente, outro filho e no Brasil nasceu Henrique, mais tarde artista famoso. Júlio Seyssel, pai de Waldemar, nasceu na Itália, mas veio para o Brasil com os pais aos dois anos de idade juntamente com o Circo Irmãos Charles da Inglaterra.

Júlio criou no Brasil, o tipo “Pinga-Pulha”, que é um tipo de palhaço que usava muita acrobacia e toava violino. Waldemar Seyssel – Palhaço Arrelia – tem uma imagem sofrida, de homem cansado de tantas lutas, a cada saída honrosa para a arte que ele assimilou de seu pai, Ferdinando Seyssel, na pureza do picadeiro: “uma simples pintura no rosto, gestos que atendiam até o rebolado, tudo para ver o sorriso franco da platéia, de crianças, adultos, brancos, negros, ricos e pobres, sentados na arquibancada tosca”.** Os tempos mudaram e Waldemar Seyssel sabe da realidade, embora não desanime: “Sou o último que ainda quer o picadeiro de terra batida, a arquibancada circular, envolvendo o pavilhão, os camarins sem luxo, o pipoqueiro na porta e na marquise do circo. Não sei se conseguirei, mas minhas reivindicações estão ai há anos, esperando uma decisão favorável das autoridades”.***

Uma frase famosa do Arrelia: “Como vai, como vai, como vai, vai, vai”; a qual as crianças respondiam: “Muito bem, muito bem, muito bem, bem, bem”.





CARACTERIZAÇÃO DO PALHAÇO ARRELIA

Ele próprio diz ser um palhaço bem diferente. Alto e desengonçado, quando todos os palhaços excêntricos são baixos, sem sapatos de bicos imensos e finos e sem bengalas compridas, falando difícil sem saber e errando sempre. Enfim, é um tipo de rua, “um misto de gente que encontrei no circo, teatro, cinema, TV e na própria rua. Um tipo que vai indo aos trambolhões, mas vai indo, mesmo sem instrução e metido a sebo” *, fala Arrelia. Ele acredita muito no estudo acurado do personagem, que vai representar e o sucesso depende muito disso, e por isso mesmo acha que a escola de circo será um sucesso pleno. “A forma com que as crianças me procuram, prova não só o interesse que elas têm pelo Palhaço Arrelia, mas também o interesse que elas têm pelo espetáculo circense em geral”.**

Definindo-se como palhaço fora de órbita, Arrelia cita grandes nomes da sua arte: Eduardo Neves, Benjamim de Oliveira, Polidoro, Caetano Namba, Serrano, Alcebíades e Henrique Seyssel, seu irmão e parceiro.

Waldemar Seyssel- o Palhaço Arrelia - faleceu em 2005, aos 99 anos na cidade do Rio de Janeiro.


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