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quarta-feira, 1 de julho de 2015

AUTOR DA BIOGRAFIA PROIBIDA SOBRE ROBERTO CARLOS GARANTE: "VAI SER PUBLICADA POR NECESSIDADE HISTÓRICA"

O historiador Paulo César Araújo, pivô da polêmica sobre a guerra das biografias, encerrada no último dia 11 de junho pelo STF, concedeu entrevista exclusiva ao Viver

Por Fellipe Torres - Diario de Pernambuco



Principal símbolo da celeuma em torno das biografias não autorizadas, o jornalista Paulo César de Araújo, autor da biografia proibida sobre Roberto Carlos (Roberto Carlos em detalhes, da editora Planeta, que ganhará nova edição, atualizada), concedeu entrevista exclusiva ao Viver, na tarde do último dia 11. Para ele, a decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a liberação das obras sem necessidade de autorização prévia é uma "vitória da sociedade brasileira", porque agora estão garantidos não somente a liberdade de expressão mas o direito de acesso à informação, por parte do leitor.

O livro O réu e o rei, que conta os bastidores da biografia e a briga na Justiça, também será reeditado, pois, segundo ele, até agora não tinha desfecho, o que o autor classifica de "final feliz". Para Paulo César, o livro se torna o "testemunho de uma época no Basil quando autores e leitores eram impedidos de escrever e ler livros". O mais grave, para o escritor, não foi a proibição de algumas biografias, e, sim, os livros que não foram pesquisados e escritos.


O que representa para você a liberação das biografias pelo Supremo Tribunal Federal?

Esta é uma vitória da sociedade brasileira, uma conquista nossa, porque não era somente o direito à liberdade de expressão que estava vetada, mas o de acesso à informação. O direito de publicar é indissociável do direito de ler. Claro, me sinto parte dessa história. Estamos comemorando isso, até porque antes de ser escritor, sou leitor. É importante lembrar que a decisão da justiça também inclui personagens de televisão e documentários.


Seu livro Roberto Carlos em detalhes se tornou símbolo dessa causa. Ele será publicado? Há previsão?

Será publicado, sim, por uma necessidade histórica! Já era uma absurda o fato de ter sido proibido em 2007 e se tornaria uma aberração continuar proibido agora. O STF disse que o artigo no qual a proibição do livro foi baseada é inconstitucional. Por esse motivo, o juiz ameaçou fechar a Editora Planeta, que, por sua vez, aceitou o acordo e tirou o livro de circulação. Mas esse acordo não pode valer. É inconstitucional. Já me reuni com meus advogados para estudar os próximos passos a serem tomados.


A obra será atualizada? Digo, a celeuma em torno das biografias não autorizadas é relevante, no seu ponto de vista, para contar a carreira e a vida pessoal de Roberto Carlos?

Sim, haverá uma nova edição, atualizada, ampliada e revista, até porque de 2006 para cá Roberto Carlos continua produzindo, fazendo história. Quando o livro foi escrito, por exemplo, ele não tinha lançado a música Esse cara sou eu. A polêmica das biografias tem tudo a ver, é um dos capítulos mais importantes da história dele, que sempre se disse um artista apolítico. Depois dos 70 anos de idade, ele abraçou a causa contra as biografias não autorizadas, uma causa derrotada pela sociedade, através do Supremo Tribunal Federal.


E quanto ao segundo livro, O réu e o rei? Como fica?

Ele agora fica maior, bem mais importante, porque nele conto os bastidores da escrita de um livro. Se a proibição da biografia não tivesse existido, não teria publicado ele. Conto encontros com Tim Maia, Caetano, falo muito sobre o imbróglio na justiça. Mas, até agora, era um livro sem desfecho. O final do meu livro aconteceu ontem. Um final feliz, ainda bem. Em uma nova versão, essa atualização vai ser feita e, assim, a obra se torna o testemunho de uma época no Basil quando autores e leitores eram impedidos de escrever e ler livros.


Qual o impacto da conquista no trabalho de biógrafos e no mercado editorial?

Há vários projetos que estavam engavetados por muito tempo, vários autores pensavam em escrever e não começaram a fazer pesquisa.... O mais grave disso tudo não foi a proibição de alguns livros, e sim os livros que não foram pesquisados e escritos. Eu próprio tinha várias ideias e não fiz. Antes o foco era quase exclusivamente na questão legal, se o personagem era difícil... Às vezes a editora dizia que a família do biografado era complicada. Agora vamos respirar liberdade.


Como você encara as chamadas "biografias chapa branca"? Elas devem dar lugar a obras independentes e de maior qualidade investigativa?

Como historiador, prezo por todas as fontes. As vejo como mais uma fonte. O problema é que queriam a existência exclusiva da biografia chapa branca, o que gera pobreza intelectual. Elas podem até existir, eu até prefiro. Queria que todo personagem da história fizesse sua chapa branca. O nocivo é proibir as outras, independentes, e impedir o leitor de escolher. Afinal, a história é feita de várias versões. Isso só enriquece o patrimônio cultural brasileiro.

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