Emissoras vivem do passado e não têm qualquer perspectiva de futuro. São dois os principais motivos que levaram a tal situação: má administração e desinteresse do governo do Estado de São Paulo pelo trabalho da Fundação, com a constante redução do repasse de verbas
Por Alexandre Pavan
A Fundação Padre Anchieta, mantenedora das rádios e TV Cultura de São Paulo, vem definhando há duas décadas, numa agonia que se intensificou nos últimos cinco anos. A capacidade produtiva de suas emissoras foi praticamente extinta, perdendo audiência e, sobretudo, seu protagonismo entre as empresas públicas de comunicação do país.
São dois os principais motivos que levaram a tal situação: má administração e desinteresse do governo do Estado de São Paulo pelo trabalho da Fundação, com a constante redução do repasse de verbas.
Marcos Mendonça, o atual diretor-presidente, vem se mostrando capaz de realizar aquilo que parecia impossível: consegue fazer uma gestão tão desastrosa quanto a de seu antecessor. Se o tecnocrata João Sayad (2010-2013) foi o responsável por cerca de mil demissões, pelo encerramento de programas tradicionais e pelo desmonte de departamentos inteiros, Mendonça vem promovendo mais dispensas de funcionários e transformando a Cultura numa mera exibidora.
Sayad, ao menos, foi mais coerente. Em entrevistas, nunca escondeu seu desejo de reduzir de maneira drástica a estrutura da empresa e colocá-la para funcionar num andar de um prédio de escritórios. Ao que tudo indica, Mendonça deverá concluir esse plano, contrariando a promessa que fez de retomada da produção quando assumiu a presidência em junho de 2013.
Basta uma olhada na grade de programação para constatar que, atualmente, a TV tem fôlego para exibir apenas duas horas diárias de atrações originais inéditas. Não há incentivo nem mesmo para as produções infantis, nas quais a Cultura já foi referência. Até o Cocoricó, série de enorme sucesso, chegou ao fim e – puxa, puxa, que puxa! – seus criadores foram dispensados.
A programação se sustenta com reprises, seja de material próprio ou terceirizado. O caráter déjà vu foi o que prevaleceu no especial montado pela atual gestão para festejar o aniversário de 45 anos da emissora, em 2014. Enquanto produções históricas do canal eram merecidamente relembradas, quase não havia o que mostrar do tempo presente. Afinal, a TV Cultura hoje é assim: vive do passado e não possui qualquer perspectiva de futuro.
O mesmo ocorre com as rádios. A Cultura FM, que já chegou a ostentar uma orquestra própria (liquidada pelo mesmo Mendonça em sua primeira passagem pela Fundação Padre Anchieta, há dez anos), vai ao ar graças ao empenho de uma equipe reduzidíssima. Na AM, os problemas técnicos e operacionais são tantos que os programas são transmitidos mais por milagre do que por radiodifusão. Se não fosse pela internet, a Cultura Brasil falaria para ninguém, pois é impossível encontrá-la no dial. Faça o teste. A propósito, alguém se lembra qual é a frequência?
No último dia 15/07/2015 foram demitidos mais 53 funcionários, entre eles diretores e produtores que trabalhavam nos programas de Inezita Barroso e Antônio Abujamra, apresentadores falecidos há poucos meses. A meu ver, a mensagem é clara. Dispensar as equipes do Viola, Minha Viola e do Provocações significa mandar pro olho da rua parte do legado deixado por Inezita e Abu.
A Cultura precisa urgentemente de uma mudança de rumos que lhe traga mais recursos, a atualize e resgate seu papel de excelência. Durante um tempo, imaginou-se que o Conselho Curador pudesse dar início a uma renovação promissora. O grupo, porém, se mostra conivente e endossa o aniquilamento. E talvez nem haja mais tempo para reação. Quem sabe, o próprio conselho em breve não seja mais do que ruína.
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