Vocalista Fabio Trummer declara que o álbum é o que mais se aproxima do "alvo" estabelecido em relação ao som produzido desde a década de 1990
Por Larissa Lins
Estarás mais ancho que estavas no mundo, está escrito em Morte e vida Severina, do escritor pernambucano João Cabral de Melo Neto. Fábio Trummer, a voz da banda Eddie, está, de fato, mais ancho. À vontade, conta que o sexto álbum – lançado nesta segunda-feira (04) na internet – é aquele que mais se aproxima do “alvo” estabelecido pelo grupo em relação ao som produzido desde a década de 1990. De bom tamanho, “nem raso, nem fundo”, nas palavras de João Cabral.
Isto porque o quinteto mergulhou na própria experiência, mas faz questão de fugir aos rótulos “aprofundados” da crítica musical quanto ao gênero do disco. Segundo Trummer, não se trata de rock, frevo, samba ou música caribenha. “É a música da Eddie, simplesmente. Não há como nem por que classificar o que é autoral”, reforça. Quanto ao título Morte e vida, explica: “Não se trata de uma releitura da obra [de João Cabral], mas de letras que filosofam sobre a morte e o renascimento de tudo, sobre o ciclo das coisas e relações.”
Assim como o auto de Natal pernambucano, no entanto, o álbum está repleto de dicotomias. Se Cabral lista as “vantagens” da cova em relação ao mundo, descortinando o lado “conveniente” da partida, Eddie comemora e lamenta ao mesmo tempo a perda de um amor, na faixaQuebrou, saiu e foi ser só. E em Longe de chegar – com participação de Karina Buhr – a utopia de um lugar sempre distante, porém “tão singular”, remete à vida ideal (mas jamais alcançada) das entrelinhas dos versos de Morte e vida Severina.
A separação da esposa, a perda do pai e o contexto político do país influenciaram a construção das letras – todas compostas por Fábio Trummer, em São Paulo, entre março e novembro de 2014. O gasto com os estádios destinados à Copa do Mundo, o mau desempenho da Seleção e, principalmente, a troca de ofensas entre eleitores frente às urnas são latentes em faixas comoQueira não – “Desculpe a gentileza/ eu desculpo o empurrão.”
Mas a prova de que são referências ideológicas e não textuais que unem os versos de João Cabral e o novo disco da Eddie está na faixa-título, Morte e vida. Nenhum trecho do escritor pernambucano é citado ou parafraseado. Mas a ideia da morte – e da vida injusta antes dela – está lá. “A prova do crime é o corpo à prova de Deus/ ao provar a bala, morto/ a prova morreu.” A violência urbana é condenada, como em Pedrada certeira, com mensagem crítica e pacifista. “Buscamos refletir sobre o ciclo das coisas, dos relacionamentos, sobre o convívio social e sobre o fim de todas as coisas. Cabral é um professor, a referência foi filosófica”, explica Trummer.
O show de estreia da turnê está marcado para 26 de junho, em São Paulo. Depois, o grupo segue viagem pelo país, sem contratos fechados até então. Nos próximos shows em Pernambuco, não-relacionados à turnê de Morte e vida, algumas faixas inéditas já entram no repertório. No dia 5 de junho, Eddie sobe ao palco do Clube Atlântico de Olinda para comandar a festa Quando tu balança, junto com Forró Bole Bole e DJ Pós.
Frases
“Morte e vida não é uma tradução literal. A morte, na verdade, representa uma renovação. Morrer é se renovar, não significa o momento final. Simboliza ainda a renovação da rotina, cada dia é uma nova luta.”
Andret Oliveira, trompete e teclado
“A morte vai além da morte biológica. Há o fim das coisas, dos relacionamentos. Os términos fazem parte da relação entre os seres. Isso tudo é morte e vida. Pode ser o fim de um casamento, a mudança de emprego, uma nova fase e tudo o que ela traz.”
Fabio Trummer, vocalista
“Morte e vida sugere uma estética nova, um conceito maduro. É sobre a renovação, sobre não se repetir. Produzir coisas novas. Ao invés de finais, recomeços.”
Kiko Meira, bateria
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