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quinta-feira, 9 de abril de 2015

CRISE NA CULTURA: RESPINGOS SOBRE A PRODUÇÃO MUSICAL

Organizadores de festivais de músicas discutem sobre as dificuldades financeiras em 2015



A disparada do dólar em meio ao escândalo do Petrolão e a mudança da política econômica imposta pelo ministro Joaquim Levy, assim que botou os pés na gestão do segundo governo da presidente Dilma, deixam apreensivos os produtores culturais, que precisam negociar com a moeda americana para realizar seus projetos e contratar suas atrações. O mesmo ocorre com os artistas que planejam viagens ao exterior. Ainda falta o aperto do orçamento do governo federal no orçamento da Cultura, que tem diminuído a cada ano, embora o ministro Juca Ferreira diga que luta por mais recursos para a área. A crise chegou para ficar.

Em face à crise econômica brasileira, não são poucas as dificuldades que preocupam a produção musical no Estado. Restrição de crédito, queda em patrocínios públicos e privados e aumento no valor do dólar são apenas alguns dos fatores. Os produtores dos festivais de música do Recife, atentos à conjuntura atual, procuram driblar os obstáculos financeiros com otimismo.

“Eu comecei o ano com uma preocupação muito grande em relação a isso. Não chegou a impactar muito no Rec-Beat, pois muitas bandas que a gente contratou foi ainda no início da alta. Mas já percebi ali, com a experiência da gente, que isso vinha se desenhando desde a campanha eleitoral. Estava bem claro que viria um arrocho, um pacote”, conta o produtor Antônio Gutierrez, Gutie, que atuou como jornalista econômico, antes de se dedicar à produção.

“Quando as empresas começam a fazer cortes, a cortar as prioridades, a cultura é vista como supérflua. E esse ajuste é pesado para todo mundo. Estou fazendo uma avaliação de expectativa. Tenho projeto aprovado na Lei Rouanet, então vou manter a mesma estratégia e tentar levar para as empresas os meus projetos, mas já estou prevendo que vai ser difícil”, emenda. 

Segundo Paulo André, produtor do festival Abril Pro Rock e do Porto Musical, crises econômicas sempre atrapalham porque desestimulam a produção. “Trabalhar com cultura no Brasil significa arriscar. Eu vivi várias crises e não acho que vai ser uma coisa tão agressiva a ponto de fazer os festivais deixarem de existir”, conta. “A crise mundial que começou nos EUA em 2008, por exemplo, afetou o Abril Pro Rock. A Petrobras ficou sem nos patrocinar alguns anos e, naquele ano, tivemos que diminuir um palco e a quantidade de bandas. Ironicamente, era o ano que a gente estava comprometido com a banda que teve o maior cachê do festival: a Motorhead”, compara.

Para ele, os efeitos não são novidades e já afetam o setor há algum tempo, porém, cabe a cada produtor se adequar ao momento. “Nos últimos quatro anos, o Brasil emergiu como ‘novos ricos’ e pagamos um preço alto por isso: nós temos os mais altos cachês e os ingressos mais caros. Como consequência, a gente perdeu o SWU e o Planeta Terra. Por outro lado, o festival espanhol Sonar está vindo novamente no final do ano. Então depende muito dos produtores”, pontua.

Nome por trás do Garanhuns Jazz Festival, Giovanni Papaléo cita a alta no valor do dólar e a restrição de crédito como fatores que podem afetar os eventos no Estado. “Em menos de seis meses, o dólar foi de R$ 2,50 para mais de R$ 3,10. E a atração internacional não quer saber, porque, para ele, esse valor não muda. Além disso, a gente também está tendo uma retração em todo tipo de patrocínio, seja público ou privado. A parte de cultura e lazer sempre é uma das primeiras coisas a ser cortada quando há uma restrição de mercado.”

Uma das criadoras do festival No Ar Coquetel Molotov, Ana Garcia, corrobora, afirmando que esse aumento no dólar pode afetar a 12ª edição do evento. “As passagens aéreas e os cachês dos artistas só aumentam, principalmente porque são através dos shows que as bandas lucram atualmente e não com a venda de discos”, lembra.

Responsável por trazer grandes nomes da música erudita internacional nos festivais Virtuosi, a produtora Ana Lúcia Altino também se preocupa com a desvalorização do Real: “Apesar dos cachês permanecerem os mesmos em dólar, com a conversão nós estaremos pagando bem mais, tornando a vinda de cada artista mais difícil.”

Fonte: JC Online

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