"A gente às vezes sente, sofre, dança...”. Edyr de Castro, como ensina a música de maior sucesso das Frenéticas, sabe que a vida é assim. Integrante do grupo que virou febre no Brasil nas décadas de 70 e 80, ela trocou em 2011 a casa própria que morava com a mãe, em Jacarepaguá, por um lar ao lado dos amigos no Retiro dos Artistas. Por três anos, fez a alegria do asilo se apresentando em festas por lá.
A rotina animada da cantora, atriz e bailarina foi interrompida no ano passado, quando Edyr foi diagnosticada com o grau mais alto de Mal de Alzheimer. “Sou feliz aqui. Estou em paz comigo mesma”, sussurra a artista, de 68 anos. Com dificuldades na fala e nos movimentos, ela caminha até a porta da sua casa com a ajuda de uma cuidadora e ao lado da cadela Lyndha Lô, que está com ela há 13 anos. “De volta às origens. Olha a pose”, repete, três vezes, baixinho, enquanto posa.
Por conta da medicação controlada que toma três vezes ao dia, Edyr tem mãos trêmulas, pouco conversa e se expressa com dificuldade. A emoção toma conta quando ela lembra da família: a única filha, Joy, a neta, Amodini, de 11 anos, e a mãe, ainda viva. “Minha filha é psicóloga, meu orgulho”, diz. Joy, que mora no Jardim Botânico, procurou a administração do abrigo há quatro anos, alegando que não podia cuidar da mãe, pois precisava trabalhar fora. Uma semana depois, a ex-Frenética estava morando na casa 2 da Rua Nair Bello, uma das maiores do abrigo, com dois quartos, cozinha e banheiro. “A casa foi toda equipada pela filha que vem visitá-la e trazer remédios”, diz o administrador Hênio Lousa.
No asilo, Edyr passa o dia assistindo a DVDs de palestras sobre espiritismo e cantarolando baixinho hits de sucesso como “Dancin’ days”, dos tempos em que se apresentava ao lado das companheiras Dhu Moraes, Leiloca, Lidoka, Regina Chaves e Sandra Pêra. Todas as noites, ela é transferida para o ambulatório, já que não está apta a ficar sozinha em casa. Três vezes por semana, ela faz sessões de fisioterapia e também é acompanhada por um psiquiatra e um cardiologista. Ela deixa o abrigo quatro vezes ao ano para uma consulta com um neurologista.
Desde que a doença se desenvolveu, Edyr fala pouco dos seus trabalhos na TV — ela esteve em novelas como “Roque Santeiro” — e da época de Frenética, mas nunca perdeu contato com as companheiras do grupo. “Elas mandam mensagens diariamente através do WhatsApp, e cada dia é uma reação diferente. Ela ouve e se emociona. Outro dia, ela não reconheceu um amigo aqui do Retiro, e ela mesma disse: ‘acho que estou com Alzheimer’”, conta a cuidadora Katya Yamada, que a acompanha há três anos:
Edyr de Castro: antes e depois da doença Foto: Extra e arquivo
“Antes, ela andava muito, almoçava no refertório, mas agora é mais difícil”, completa, sendo interrompida pela ex-Frenética. “Agora dou menos trabalho”, diz Edyr, enquanto almoça, sozinha, arroz, feijão, batata e frango. Na hora de se despedir, ela pede que o repórter da Retratos anote seu nome e telefone num pedacinho de papel. “É para eu te ligar assim que eu tiver boa”, explica, emocionada.
Fonte: Extra Rio de Janeiro
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