Além do disco, músico lançou também um DVD com a performance das músicas
Por Kiko Ferreira
É praticamente um lugar-comum falar da incapacidade que o cidadão sem formação em artes visuais tem para diferenciar cores como gelo, neve, off white e outras variedades do que a maioria chama de branco. O mesmo com gris, grafite, chumbo e demais ramificações do que, para o leigo, é simplesmente cinza. A introdução é para tentar estabelecer o tipo de nuances de cores e sons de 'Danças', 20º álbum do saxofonista e flautista Mauro Senise em 35 anos de carreira.
Isso serve para referendar o tratado poético de imagens que o fotógrafo e diretor Walter Carvalho realiza no DVD que acompanha o CD, com traduções em cores e movimentos para quatro das 13 faixas, com músicos interagindo com o ator Chico Diaz e a bailarina Deborah Colker, autora das coreografias. Tudo em preto e branco. E suas variações.
Movimentos
Apresentado com consistência pelo crítico e jornalista Roberto Muggiati, que disseca as principais faixas e especula sobre possível relação do trabalho visual de Walter Carvalho com o filme clássico de jazz 'Jammin’ the blues', dirigido por Gjon Millis e fotografado por Robert Burks em 1944, 'Danças' é um trabalho de maturidade. Aqui, o Mauro Senise das notas generosas e precisas que brilhava nos grupos de Hermeto Pascoal e de Egberto Gismonti e o craque que duelava com iguais no grupo Cama de Gato fica praticamente de lado, observando a cena.
O lado mais contido, reflexivo e econômico dos trabalhos com o violoncelista David Chew, o baixista Paulo Russo e, principalmente, com os tecladistas Jota Moraes e Gilson Peranzzetta, está mais presente. O nome do álbum e a sonoridade convidam à dança. A começar pela gafieira elegante da abertura, com 'Vou deitar e rolar' (Baden/Pinheiro), até a leveza do encerramento, mais de uma hora depois, com 'Levitando' (Peranzzetta).
Entre uma e outra, o disco voa com as cordas da Orquestra dos Sonhos ('Ilusão à toa, Noite de verão'), chora com o duo de piano e flauta com Cristóvão Bastos ('Choro dos mestres', 'Sem palavras'), renova a ponte Brasil/EUA com 'Chorosa blues', de Antonio Adolfo, e remete ao cool jazz de Miles Davis (Miles).
Do interior mineiro de 'Menino de Guaxupé' (Jota Moraes) à nostalgia passional gaúcha de 'Garoto de POA' (também de Jota), é um disco repleto de imagens em movimento sincronizado. E em cores nem sempre fáceis de nominar, mas usadas com sapiência e inspiração.
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