Ícone de um movimento musical que conduziu a música brasileira a um patamar antes jamais alcançado Roberto Menescal chega aos 55 anos de carreira e nos concede esta entrevista exclusiva
Por Bruno Negromonte
O nosso entrevistado de hoje dispensa apresentações. Com suas riquíssimas melodias associadas à poesia de alguns dos maiores nomes da música brasileira, Roberto Menescal é considerado um dos mais relevantes personagens da música popular brasileira do século XX. Seu violão contribuiu de modo consistente para a criação da Bossa Nova, um dos movimentos mais emblemáticos de nossa música. Hoje, com mais de meio século de carreira, Menescal continua em plena atividade levando ao seu público de modo cada vez mais apurado aquilo que o fez trocar abandonar diversos outros projetos ainda na juventude: a música. Neste bate-papo, Menescal fala de suas parcerias femininas, sua estreia no Carnegie Hall, do novo dvd com a cantora Andrea Amorim que sairá em breve entre outros assuntos como vocês poderão observar logo abaixo. É com com muita honra e alegria que o Musicaria Brasil apresenta nesta informal conversa exclusiva com este que é um ícone da MPB.
Em 1955 Julie London lançava o disco “Julie is her name” acompanhada do violão de Barney Kessel, é verdade que você passava horas ouvindo este álbum por conta do Kessel como relata Ruy Castro em um dos seus livros?
Roberto Menescal - Realmente foi um susto quando ouvimos esse disco, pois sempre escutávamos as cantoras normalmente acompanhadas por Orquestra e como gravava-se nesta época em um ou dois canais de gravação, não ouvíamos os acordes de guitarra Quando chegou esse disco somente com um baixo e uma guitarra, o mundo clareou p’ra gente e a música brasileira deu um pulo de 10 anos!
Ao final de sua adolescência você se viu envolvido em um tríplice dilema. Tinha que escolher entre a arquitetura, a Marinha e a música. Como se deu a escolha em definitivo pela música já que você tinha que enfrentar diversas dificuldades para isso?
RM - Na verdade também estudava para o concurso do Banco do Brasil. Carlos Lyra e eu, abrimos uma pequena escola de música para ensinar principalmente às meninas, a célebre batida da bossa nova. Um dia no final da tarde, a campanhia toca e quando abri, quase desmaiei pois na minha frente estava Tom Jobim que veio me convida para gravar com ele a trilha de Orfeu do carnaval!!! daí em diante, larguei tudo e fiquei com a música.
É verdade que nessa época você chegou a falsificar a sua identidade para poder ouvir o Tito Madi na casa noturna Scotch Bar?
RM - Claro que sim, lembrando que em cada esquina de Copacabana, havia um bar com música.
2014 completa-se duas décadas do falecimento daquele que foi o seu parceiro em algumas das mais relevantes canções do seu repertório. Você poderia descrever ou mensurar a importância de Bôscoli em sua biografia musical?
RM - Bôscoli era mais velho do que a média da nossa turma de Bossa Nova, e como também era jornalista, dava um banho na gente, de cultura, informação etc, e foi um letrista que reinventou a poesia musical e assim com Carlos Lyra eu tive a sorte de compor com ele cerca de 300 músicas. Certamente sem ele, nossa obra musical não seria a mesma.
Acredito que a única estreia de um artista como cantor no Carnegie Hall tenha sido a sua. Como se deu essa inusitada passagem em sua carreira?
RM - Certamente eu fui único. acontece que eu não queria ir ao Carnegie Hall pois não haveriam passagens para meu conjunto musical, mas tom e Sérgio Mendes me convenceram à ir e tocar com o grupo do Sérgio, mas o tempo foi passando e Sérgio me enrolando até que chegou a véspera do show e ele me comunicou que não haveria de tempo para ensaio comigo, então fui comunicar ao produtor do show, que eu não poderia participar pois não era cantor, e lógico que ele me obrigou à cantar sozinho com meu violão pois tinha um contrato assinado comigo. Foi uma carreira relâmpago e também um final de carreira de cantor, relâmpago.
Para encerrar gostaria de agradecer toda a atenção dispensada e dizer que para o Musicaria Brasil é uma imensa honra o ter conosco nesta conversa. Obrigado pela entrevista, obrigado por ter, entre seus dilemas, optar pela música e principalmente por nos presentear com clássicos diversos.
RM - Graças a deus pude à tempo optar pela música, pois senão, acho que não seria um bom número 2 em nada fora da música.
“Morte de um Deus sal” é uma canção feita em compassos seis por oito. Não recordo de nada semelhante que tenha sido composto na época com essa característica na música brasileira. Como se deu a recepção dessa canção à época?
RM - Isso vinha muito do jazz que ouvíamos e fui feliz nessa canção que foi gravada por muitos intérpretes cantores e instrumentistas.
Este ano completa-se 55 anos de sua primeira incursão no mercado fonográfico com o lançamento do compacto simples “Bossa é Bossa Nova”. De lá pra cá você neste mercado você já chegou a atuar não só como artista, mas também como diretor artístico e hoje possui e hoje é um dos sócios da Albatroz, gravadora pautada na qualidade e associada a nomes como Emílio Santiago, Leny Andrade, Danilo Caymmi, Andrea Amorim, Oswaldo Montenegro, Os Cariocas e Wanda Sá (além do seu é claro). Com esta sua vasta experiência como você avalia o mercado nos dias atuais?
RM - Na verdade vejo como uma grande fase de transição do que havia no século passado e no que começa à acontecer neste século, são ciclos normais que acontecem desde que os séculos existe, e quem ficar parado vendo a banda passar, vai dançar!
Em sua carreira é possível perceber que a presença feminina se dá de modo bastante intenso. Isso vem acontecendo da década de 1950 até os dias atuais. Nomes como Wanda Sá, Nara Leão, Márcia Tauil, Cely Curado, Nathália Lima e Sandra Daulibe endossam essa afirmação. Atualmente você vem em parceria com a pernambucana Andrea Amorim com o álbum “Bossa de Alma Nova”. Como você justificaria essa característica em sua carreira?
RM - Na verdade não foi uma escolha minha, mas nada contra, e realmente prefiro as mulheres pois elas enfeitam nosso palco e principalmente essas que você citou, cantam muito bem! Andrea é outro achado que me surgiu de surpresa e que juntos temos feito muitas apresentações bonitas e prazerosas, além de um CD e um DVD que será lançado muito brevemente.
Dois meses antes da Nara prematuramente falecer vocês se tornaram parceiros em “Saudades de você”. É verdade que a canção saiu sob encomenda para uma propaganda no Japão? Essa foi sua única parceria com ela?
RM - Realmente foi uma encomenda de uma cerveja japonesa e tive sorte de fazer essa única parceria com minha irmã, Nara.
Com a projeção que a Bossa Nova alcançou ao redor do mundo não é exagero afirmar que você como precursor do movimento é um dos nomes mais importantes da história da música brasileiro ainda em atuação. Olhando para trás qual o momento que você destacaria como mais importante ao longo desses 55 anos de carreira?
RM - Quero lhe dizer que me considero um aluno dos mestres, Tom Jobim, Vinicius de Moraes e João Gilberto. Considero esse trio os números 1 da bossa nova e me considero junto com meus outros colegas, bons números 2 da Bossa Nova.
Para encerrar gostaria de agradecer toda a atenção dispensada e dizer que para o Musicaria Brasil é uma imensa honra o ter conosco nesta conversa. Obrigado pela entrevista, obrigado por ter, entre seus dilemas, optar pela música e principalmente por nos presentear com clássicos diversos.
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