Mário Adnet, Caetano Veloso e Dori Caymmi: competência para celebrar o centenário do baiano ilustre
Por mais requintado e estelar que possa ser o resultado de 'Dorival Caymmi – Centenário', álbum que a Biscoito Fino acaba de lançar para comemorar o centenário do compositor baiano, pode-se dizer que 'Nana, Dori e Danilo – Caymmi', com o mesmo objetivo, lançado no ano passado, saiu-se melhor. Ainda que o novo projeto tenha a presença de orquestra de cordas, Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil.
Além das pérolas caymmianas pouco exploradas, o primeiro disco leva vantagem por preservar a propalada simplicidade da obra do mestre, sem maiores investimentos em produção, mesmo que estejam no CD Nana, Dori e Danilo, que representam o que há de melhor na obra de Dorival, além da música propriamente dita.
Projeto dividido pelo filho Dori e Mário Adnet, o novo disco poderá ganhar versão ao vivo, com a apresentação de concertos que ainda dependem de patrocínio. “A proposta anterior é mais simples, já que foi focada na composição de Caymmi e na interpretação dos filhos”, compara o arranjador Mário Adnet, que também marca presença cantando em 'A vizinha do lado'. “É como se fosse um disco meu e de Dori sobre a obra de Caymmi”, acrescenta Mário, salientando o trabalho de dois arranjadores de gerações diferentes em 'Dorival Caymmi – Centenário'.
“Neste disco, a ideia foi ir aos clássicos do mestre, com arranjos de orquestra”, justifica Mário Adnet, lembrando que estão no repertório 'O que é que a baiana tem?' (Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque), 'Saudade da Bahia' (Caetano Veloso) e 'Dora' (Chico Buarque), entre outros clássicos.
Verdade que os três, além dos filhos Dori e Danilo Caymmi, contribuem para fazer desse segundo disco um lançamento de peso. Mas Nana Caymmi ('Sargaço mar' e 'A lenda do Abaeté', além de dividir com os irmãos a interpretação de 'Canção da partida') continua sendo a maior intérprete da obra do pai, capaz de revelar-se a cada nova leitura, caso do clássico dos clássicos, 'Sargaço mar'.
Infância
Na opinião de Mário Adnet, que divide com Dori os novos arranjos, até então, o único disco de orquestra com a obra do mestre que havia sido bem sucedido era 'Caymmi e o mar', de 1957, com toda a história dos pescadores, no qual o próprio compositor incorporava o narrador. A convivência de Mário Adnet com o cancioneiro caymmiano remonta à infância, quando a família se imprensava em uma Kombi para viajar do Rio para Guarapari (ES), onde o avô dele tinha uma casa de praia. “As viagens eram marcadas pela cantoria, do início ao fim”, lembra, emocionado, o arranjador que cresceu naturalmente embalado por Ary Barroso, Dorival Caymmi e outros compositores da MPB.
Apesar de em 1990 Mário Adnet ter decidido gravar um disco independente com a obra de Caymmi, o sonho ainda não havia se concretizou (o arranjo feito por ele para 'Maracangalha' encantou Tom Jobim, que acabaria o indicando para participar do songbook do compositor). Somente agora ele se debruça sobre tal cancioneiro. “Por se tratar de algo tão simples, a música de Caymmi acaba nos dando muitas possibilidades harmônicas”, elogia. “Para um arranjador isso é um prato feito”, conclui, salientando: “Por isso, a música de Caymmi atravessa gerações”.
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