Ao Correio, os jovens artistas revelam que, no ambiente familiar, João Bosco, Péricles Cavalcanti e Pepeu Gomes compartilhavam o desejo de qualquer outro pai: ver os filhos realizados.
Por Rebeca Oliveira
Julia Bosco, Leo Cavalcanti, Pedro Baby. Os sobrenomes podem até denunciar de onde cada um deles vem, mas não necessariamente para onde vai. Eles cresceram entre acordes e partituras, porém trilharam caminhos independentes e, hoje, mais que “filhos de peixe”, tornaram-se figuras importantes na nova música popular brasileira.
Ao Correio, os jovens artistas revelam que, no ambiente familiar, João Bosco, Péricles Cavalcanti e Pepeu Gomes compartilhavam o desejo de qualquer outro pai — ver os filhos realizados, estivessem eles vinculados à carreira musical ou não. Enquanto alguns resistiram por um tempo — Julia Bosco trabalhou em uma importante empresa petrolífera até dois anos atrás —, outros entregaram-se à vocação logo cedo: na infância, Leo Cavalcanti criava harmonias no violão e Pedro Baby acompanhava o sucesso do pai. Em comum, todos trilham um caminho conciso e recebem boas críticas de seus projetos, que, direta ou indiretamente, reverberam o poder da influência paterna.
Julia Bosco e João Bosco
Julia Bosco, filha do cantor e compositor João Bosco, lançou o primeiro álbum, Tempo (2012), somente aos 32 anos. Ela tardou até se render aos encantos de Miles Davis, João Gilberto, Billie Holiday e Dolores Duran, referências musicais que aprendeu a admirar ouvindo os bolachões do pai. Durante anos, Julia trabalhou como consultora de gestão no mercado petrolífero, fazendo da música, até então, somente um hobby. Questionada se as comparações com João a mantinham reticente na decisão de ser artista, a cantora diz que não. “Eu tinha uma carreira e estava bem lá”, explica. Mas o DNA musical falou mais alto. “No meio de uma conversa, meu pai começava a tocar algo, cantarolar algumas coisas. Era natural, uma troca entre pai e filha”, lembra. “Mas ele é muito complexo e educado. Sempre me incentivou, só evitava forçar a barra e cobrar coisas.”
Quando contou a João Bosco que seguiria a mesma profissão, ouviu as únicas regras até hoje exigidas pelo patriarca: investir em disciplina e profissionalização. “Aprendi com ele a não me deslumbrar, a ser uma operária da música”, afirma. Julia mistura vários estilos e, do berço, herda o respeito pela música em seu estado mais puro. “Os sons, hoje, têm muitos recursos eletrônicos, e tento me encaminhar mais para a escola tradicional, da qual meu pai faz parte”, argumenta a cantora, que, no início do próximo ano, pretende lançar o segundo disco. Com todas as bençãos do pai.
Leo Cavalcanti e Péricles Cavalcanti
Compositor, letrista e melodista multifacetado, Péricles Cavalcanti está na ativa desde a década de 1970. De Gal Costa a Adriana Calcanhotto, passando por Caetano Veloso. O artista já emprestou composições a grandes nomes da MPB. Mas sempre esteve ligado ao som que vem das novas gerações. Inclusive dos filhos, Leo e Nina, jovens promessas da música brasileira. Se, por um lado, alguns músicos refutam em associar seu trabalho ao dos pais, Leo se encontra no extremo oposto e faz o caminho inverso. A palavra amizade, escolhida por ele para sintetizar a relação com o patriarca, demonstra a troca mútua que transcende gerações ou estilos musicais. “Meu pai sempre gostou de tocar e cantar à noite, na sala. Eu amava escutá-lo assim. Quando ele estreava os shows, aquilo era uma grande emoção para mim. Um frio na barriga que sinto até hoje”, relembra Leo, que acompanha o pai nos palcos desde os 13 anos. Um caminho natural para uma parceria que vai além dos laços sanguíneos.
Enquanto Leo agradece pelos discos de Gilberto Gil e Michael Jackson compartilhados pelo pai, Péricles aprende com o herdeiro musical a admirar ícones da nova geração pop, como Justin Timberlake. “Os anos passam, mas nunca me esqueço o dia em que dei a Leo, quando ele tinha cerca de 10 anos, um violão de verdade (mas de tamanho menor) e, depois de lhe mostrar alguns acordes básicos, vi, para a minha surpresa e alegria, como ele era naturalmente muito musical. Não só saiu logo tocando alguma coisa, como entendeu rapidamente a lógica do instrumento”, recorda, orgulhoso, Péricles Cavalcanti.
Ouça Despertador (2014), faixa-título do álbum mais recente de Leo Cavalcanti:
Pepeu Gomes e Pedro Baby
A diferença de 26 anos entre Pepeu Gomes e o filho Pedro Baby parece não existir. A dupla de guitarristas compartilha histórias como dois amigos que sempre conviveram na mesma época. Pepeu Gomes, maestro dos Novos Baianos, considerado um dos melhores do mundo e o melhor da América Latina pela revista especializada Guitar World, viveu o início e o fim do movimento Tropicalista em toda sua plenitude. Pedro não. Mas, graças ao pai, foi como se estivesse lá. “Meu pai é minha maior referência, junto a Moraes Moreira e João Gilberto. Toda a geração Tropicalista também”, conta. Da obra do patriarca, Pedro tem as suas preferências.
“Gosto muito do primeiro disco solo, que se chama Geração de som, é um álbum instrumental que foi determinante para o seu posicionamento no cenário artístico brasileiro. Sem esquecer da música Masculino e feminino, que impulsionou sua carreira”, lembra Pedro. Pepeu Gomes mantinha um estúdio caseiro, fator determinante para que o filho atingisse o nível artístico que hoje possui — aprimorado quando, aos 16 anos, mudou-se para Nova York. “Meu pai sempre quis e fez com que eu encontrasse meu caminho sozinho”, completa.
Dos momentos em família, para além de cabelos coloridos e roupas chamativas dos pais, Pedro guarda a liberdade com que foi educado junto aos seis irmãos. “Éramos muitas crianças na casa, sempre querendo brincadeira, festa e bagunça. Fomos criados com muito amor e aprendemos a ter limite através da liberdade sem repressão”, ressalta. Atualmente, Pedro acompanha a mãe, Baby do Brasil, na turnê Baby Sucessos, que, em breve, será lançada em DVD.
Ouça Masculino e feminino, música de Pepeu Gomes eleita pelo filho, Pedro Baby, como uma das mais representativas da carreira:
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