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terça-feira, 30 de setembro de 2014

KUARUP COLOCA NAS LOJAS DISCOS DE JOÃO BOSCO, ELIETE NEGREIROS E TELMA COSTA QUE ESTAVAM FORA DE CATÁLOGO


Dando seguimento ao trabalho de curadoria que a gravadora Kuarup desenvolve com análise e pesquisa de repertório de álbuns e discos importantes da música popular brasileira que por vários motivos além do desinteresse das gravadoras, estão fora de catálogo e indisponíveis para venda nas lojas físicas e digitais este segundo semestre de 2014 será de muitas boas surpresas para os apreciadores e colecionadores da música de qualidade.

Para esta primeira quinzena de outubro a Kuarup recoloca no mercado um lote de três discos importantes da MPB que nunca foram lançados em CD, álbuns que por muito tempo deixaram de ser vendidos em lojas, trazendo de volta nomes importantes do cenário da música brasileira.

Uma das obras importantes do pacote é o CD Tiro de Misericórdia(foto destaque), quarto trabalho do cantor mineiro João Bosco que consolida sua parceria com o compositor carioca Aldir Blanc. O álbum que foi lançado em 1977 pela gravadora RCA (hoje Sony Music) e nunca lançado em CD traz a participação da cantora Cristina Buarque na faixa Vaso Ruim Não Quebra e destaques para as canções Bijuterias, tema da novela O Astro da Rede Globo e Falso Brilhante.

Outra obra resgatada é o álbum Outros Sons, trabalho de estreia da cantora e compositora Eliete Negreiros, disco que segue artisticamente o movimento da chamada vanguarda paulista. O álbum foi lançado em 1982 pela gravadora Vôo Livre com produção de Arrigo Barnabé e conquistou o prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) na categoria Cantora Revelação do Ano.

Fechando o lote de relançamentos com o CD Telma Costa, primeiro trabalho da cantora mineira, álbum homônimo lançado em 1983 pela gravadora CBS que tem a produção de Dori Caymmi. O disco que traz a participação especial de Caetano Veloso mostra grandes interpretações da artista e mãe da cantora Fernanda Cunha para clássicos como Espelho das Águas do maestro Tom Jobim e Coisa Feita, parceria de João Bosco e Aldir Blanc.

POR MAIS TARDIO QUE POSSA PARECER, É APENAS O COMEÇO

O compositor Markus Britto acaba de produzir o primeiro EP da banda Asgaron, um sonho antigo ao lado do parceiro Claudio Perpetuo

Por Bruno Negromonte




Markus Britto não pára. Além da banda Velez (grupo já apresentado aqui aos amigos leitores do Musicaria Brasil) atualmente o músico vem desenvolvendo a realização de um sonho antigo em parceria com o cantor e compositor Claudio Perpetuo: a gravação do primeiro EP de uma parceria que vem de longas datas, para ser mais preciso um profícuo duo iniciado a cerca de trinta anos, ainda nos anos de 1980. Três décadas depois a simbiose entre a pop progressivo, a mpb e o movimento do clube da esquina ainda faz-se capaz de produzir uma sonoridade pra lá de contemporânea, imbuído de um frescor e um vigor propiciado talvez pelos anos de parceria existente entre os dois fundadores desse projeto a qual deu-se o nome de "Asgaron". Fazendo um breve retrospecto faz-se necessário atentar para as dezenas de músicas compostas pela dupla ao longo de todos esses anos. Estima-se que chega a ser mais de setenta composições, dentre elas "Sonho de Janeiro", canção gravada em 1982 com as participações PH Castanheira e Gutto Goffi que à época estavam iniciando as suas respectivas carreiras. Apesar de em dado momento Britto e Perpetuo acabarem seguindo por caminhos distintos sempre acalentaram o sonho de realizar esse projeto musical que hoje deságua neste EP que traz novamente aos braços da dupla os nomes de Guto Goffi (na bateria e percussão) e PH Castanheira (teclados e edição final). Além deles o EP conta com Juju Gomes (chorus), Claudio Gurgel (guitarras), além do próprio Markus empunhando baixo e violões e Perpetuo nos vocais. A gravação ficou a cargo do Luciano Lopes no Estúdio Cabeça de Lâmpada e a mixagem ficou por conta de Walter Costa do Estúdio Pedra da Gávea. Batizado de Trinta & 3, o grupo "desconhece os efeitos ilusórios do tempo", como bem define o release da banda e mostra toda a sua perenidade através das seis parcerias entre Claudio Perpetuo e Markus Britto registradas neste EP que pelo que parece é o marco inicial de uma longa estrada ainda a ser percorrida. Com exceção de "A nossa parte inteira" e "Amor e mana", ambas compostas em 2008, todas as outras são composições da década de 1980. É o caso das canções "Lendas do mar" (1980), "Deusa da manhã" (1981), "Intiraimi" (1981) e "Essa razão" (1982). Todas as canções estão disponíveis para audição no site oficial da banda e que pode ser acessado a partir do link abaixo disponibilizado.


Maiores Informações:
http://www.asgaron.com/

domingo, 28 de setembro de 2014

AS RAINHAS DO RÁDIO: SEGUINDO A LINHA DE SUCESSÃO

Depois de mais de dez anos com o título sob sua égide, Linda Batista resolve abdicar do expressivo posto

Por Bruno Negromonte - @brunonegromonte




Primeira intérprete (junto a sua irmã Linda) a gravar "Abre Alas" de Chiquinha Gonzaga na íntegra, Dircinha Batista tem, sem dúvida alguma, assim como a sua irmã, um papel de destaque dentro da música popular brasileira. O enorme sucesso que atingiu ao longo de mais de quatro décadas de carreira a credenciou a ter o seu nome gravado dentro da MPB como uma das grandes intérpretes do século XX. Sua discografia é composta por mais de trezentos registros entre discos em 78rpm e lp's que trazem consigo muitos grandes sucessos, especialmente músicas que animaram os carnavais de outrora. Diferente de Mary Gonçalves (artista abordada ao longo da semana passada que deu início a sua carreira no cinema), Dircinha, que chegou a trabalhar em dezesseis filmes, iniciou a sua carreira artística na música de modo muito precoce, pois Dircinha começou a se apresentar em festivais aos seis anos de idade assim como também a acompanhar o pai em diversas apresentações musicais no Rio de Janeiro e em São Paulo. Uma criança prodígio que era capaz de demostrar a sua afinidade com a música na mais tenra idade. Anos depois, quando a sua carreira como cantora já estava alinhando-se, a artista começa a fazer incursões pela sétima arte participando, aos treze anos, do filme "Alô, Alô, Brasil" e, no ano seguinte, de "Alô, Alô, Carnaval" (ambos de Wallace Downey). Outros títulos que contaram com a participação da cantora foram "Futebol em Família", "Bombonzinho" e "Banana da Terra", filme musical produzido também por Wallace Downey e que tem como roteiristas João de Barro e Mário Lago eque conta com a direção de Ruy Costa. Neste filme Dircinha atua ao lado de Oscarito e de outros grandes nomes da música popular da época como as irmãs Aurora e Carmen Miranda, Orlando Silva, Bando da Lua, Emilinha Borba, Carlos Galhardo entre outros. Esse longa-metragem conta ainda com a participação de sua irmã Linda Batista. Em 1930, aos oito anos, gravou seu primeiro disco, para a Columbia, com duas composições de Batista Júnior, "Borboleta Azul" e "Dircinha" e já no ano seguinte tornou-se membro do programa de Francisco Alves na Rádio Cajuti. Neste programa permaneceu até seus dez anos, quando então mudou-se para outra emissora, a Rádio Clube do Brasil, emissora que também contribuiu para a sedimentação e popularização do seu nome junto ao grande público. Três anos depois da gravação do seu primeiro 78 rpm ela registra "A Órfã" e "Anjo Enfermo", de Cândido das Neves, que contou com o acompanhamento do compositor ao violão juntamente com Tute. Em 1936, gravou dois discos pela Victor.




O ano era 1948 o concurso passaria por duas modificações: a primeira referente ao posto de Rainha, uma vez que após mais de uma década de reinado absoluto Linda Batista resolve abdicar do posto para favorecer a irmã, e a segunda era referente a organização do evento, que passaria agora a ser feita pela ABR (Associação Brasileira de Rádio). O concurso daquele ano dava como certa mais uma vitória de Linda, quando ela surge com a surpreendente notícia de que não concorreria ao posto naquele ano. Para alívio dos fãs a família seria representada por sua irmã Dircinha, que representando as emissoras Tupi-Tamoio sagrou-se campeã, arrecadando um total de 25.914 votos estendendo por mais um ano a hegemonia da família Batista junto ao concurso de maior prestígio e popularidade do rádio brasileiro de todos os tempos. Ao longo de sua carreira além das rádios citadas anteriormente chegou a atuar também na Rádio Nacional, foi contratada pela TV Tupi na década de 1960 e chegou atuar no teatro em duas peças. Uma curiosidade acerca da carreira de Dircinha se deu em 1937 quando o compositor e maestro Benedito Lacerda a convidou para gravar uma composição de sua autoria, o samba "Não Chora". A cantora registra tal canção no entanto o compositor esqueceu da outra faixa que faria parte do labo B do 78 rpm. Sem saber o que faria com aquele outro lado do disco a solução foi consultar os compositores que se ali se encontravam no estúdio, dentre eles Nássara, que tinha consigo apenas a primeira parte de uma marchinha. Ali mesmo, o caricaturista e compositor, concluiu a letra e a canção de "Periquitinho Verde" juntamente com Sá Roris. Grava ocasionalmente apenas  para completar aquele 78rpm, a música acabou tornando-se o primeiro sucesso na carreira da atriz e uma das mais executadas do carnaval do ano seguinte. 

SITE REÚNE INFORMAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA DO VIOLÃO BRASILEIRO

Projeto conta com conteúdos como informações do instrumento e artistas, partituras e textos acadêmicos


Por Gabriel de Sá (Correio Braziliense) e AD Luna (Diário de Pernambuco)




Há divergência, entre os historiadores, sobre a real origem do violão. Ninguém discorda, entretanto, que o instrumento encontrou terreno fértil no Brasil, onde surgiram músicos virtuosos e se desenvolveram movimentos estéticos apreciados mundo afora. De João Pernambuco a Guinga, passando por Garoto, Baden Powell e Raphael Rabello, a guitarra acústica e os mestres têm merecido atenção especial de pesquisadores como o pernambucano Alessandro Soares, que colocou no ar o portal Acervo digital do violão brasileiro.

A ideia é que o site do Acervo Digital do Violão Brasileiro seja referência sobre o tema, a partir de verbetes detalhados sobre os principais violonistas brasileiros, de todos os tempos. O pernambucano Alessandro Soares, em Brasília desde 1998, tem as colaborações dos pesquisadores e instrumentistas Alexandre Dias e Gilson Antunes e do biógrafo Jorge Mello na confecção do material. “A princípio, 150 verbetes estarão disponíveis para o público. Mas o plano é que o número aumente e novos colaboradores apareçam”, diz o idealizador, que se dedica ao portal há cinco anos. Soares, também violonista, exalta o fato de esse ser o primeiro portal dedicado exclusivamente ao instrumento, e gratuito.

O site conta com a discografia dos artistas, partituras com arranjos inéditos, banco de imagens, linha do tempo e uma rádio. “Apesar de ter nascido popular, nosso violão tem uma erudição muito grande. Então, a gente encontra características muito populares em Heitor Villa-Lobos, por exemplo, que é predominante erudito. E também um nível de complexidade e erudição agudos em compositores como Guinga, Marco Pereira e Nicanor Teixeira”, diferencia.


Conteúdo do site

Dicionário

» 150 verbetes de violonistas, dos mais renomados aos menos lembrados, desde 1600 aos dias atuais, com dados biográficos, obras analisadas, discografias, fotos e lista de intérpretes.


Discoteca

» Seleção de centenas de discos, com ficha técnica e imagens das capas e faixas para audição.


Biblioteca

» Resumo de livros com capa e ficha técnica, revistas, dissertações e teses sobre violão. Alguns serão liberados para download grátis.


Partituras

» Banco com 70 partituras em formato PDF para download gratuito.


Banco de imagens e videoteca

» Com digitalização de fotografias, documentos de valor histórico, charges e seleção de vídeos.


Rádio

» Acervo com milhares de músicas em MP3 em formato streaming para audição.


Agenda

» Eventos, cursos e shows relacionados ao violão.


Linha do tempo

» Informações em datas sobre períodos históricos do violão no país: desde o Brasil Colônia de Gregório de Matos.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

A CATIVANTE E BELA SONORIDADE DOS RINCÕES DO BRASIL

Depois de décadas envolto ao jornalismo Paulo Mourão hoje dedica-se a um dos gêneros musicais que melhor representa as raízes culturais brasileira

Por Bruno Negromonte





Mineiro de Belo Horizonte Paulo Mourão traz o Brasil de modo pleno e marcante naquilo que faz. Exímio executor da viola de dez cordas, faz de sua habilidade um eficaz mecanismo de propagação desse instrumento que é considerado por muitos como um dos símbolos mais marcantes da música nacional e que ainda mostra-se em evidência principalmente no interior do BrasilA viola está está para a cultura musical de nossos rincões assim como está a cuíca para o samba ou o acordeom para o forró produzido no Nordeste. Ciente dessa importância, Mourão dedica-se de corpo e alma a este ofício que busca defender e divulgar uma das expressões mais fortes da cultura do nosso país. Trata-se de uma luta diária e que consigo traz os mais diversos e constantes estorvos. É uma lida difícil onde faz-se necessário perseverança e uma personalidade forte o suficiente não apenas para evitar abater-se, mas principalmente para não deixar-se contagiar pela despersonificação do gênero desenvolvendo peculiaridades em sua arte que acabou por conquistar os mais distintos públicos existentes em todo o país. Hoje residindo na cidade do Pontal dos Ilhéus, na Bahia, o artista construiu em dezoito anos de carreira um coeso caminho dentro da música brasileira participando dos mais distintos eventos para isso. Programas de rádio e TV, premiações como o Prêmio Symgenta de Música Instrumental de Viola além da participação e gravação de alguns álbuns que substanciam não apenas a sua discografia, mas principalmente a música que acredita e defende de modo lustrosamente verdadeiro. Seu compromisso com a cultura brasileira é a tônica maior neste nebuloso contexto ao qual a música brasileira encontra-se mergulhada a partir de marcantes características.


Contando hoje com seis títulos e um DVD em sua discografiaMourão não apenas cultua os valores mais genuínos da cultura nacional como também consegue mesclar as influências existentes nas mais diversas regiões desse país que ele conhece tão bem não por ouvir falar, mas por vivenciar distintas experiências ao longo de sua trajetória. A sua influência maior vem de sua região de origem, no entanto, ao residir em outras regiões do país teve a possibilidade de beber das mais distintas fontes que hoje substancia e evidencia-se na arte que apresenta. Da região Norte busca retratar seus conhecimentos nos mitos e costumes do lugar adquiridos no período em que residiu na Amazônia; assim como também a influência  de sua passagem pela região Nordeste quando apreendeu outros valores culturais que hoje também refletem-se em sua arte como é possível perceber-se desde 1998 quando o artista lançou seu primeiro projeto fonográfico, o álbum "Minas é Gerais". Daí em diante vieram discos como "Grande Viagem de Luz" (2000), "Os Caboclos das Matas" (2003), "Brilhantes Pedras Finas" (2007) que retratam e reiteram o compromisso sonoro do artista com as riquezas e tradições não apenas musicais existente em nosso país, mas de toda a mística que e tradições religiosas também. Além desses lançamentos, a discografia do artista conta também com o projeto "Sete Segredos" (lançado em 2013 em parceria com o cantor, instrumentista e compositor Sérgio Di Ramos). Com um olhar clínico, o artista sabe afirmar-se como grande defensor de nossos valores a partir trabalhos que mais parecem cartões-postais sonoros desse nosso Brasil de dimensões continentais. Jornalista, com mais de três décadas de atividade, Mourão aprendeu a usar na música a mesma perspicácia que a sua profissão requer e associou a essa característica uma sensibilidade e suavidade que hoje fazem-se de fio condutor desse acalanto em forma de arte que o artista tão bem produz.


Em franca atividade o artista atualmente vem apresentando o álbum "Flores e Feridas" lançado no primeiro semestre deste ano e que conta com dez faixas que reiteram a acepção do letrista e instrumentista pelos temas que norteiam a sua produção desde o início de suas atividades artísticas, mostrando-a inovadamente a partir do flerte com sonoridades mais cosmopolitas e contemporâneas sempre de modo bastante coeso, uma vez que "A vida é uma grande estrada e meu coração um canteiro de canções", como bem define o violeiro.  Em "Flores e Feridas" o músico conta com a adesão de Jorge Bullet (bateria), Ayam Ubrais Barco (baixo), Daniel Neto (acordeon) e a percussão de Carlinhos Ferreira.Há ainda a direção musical do Rodrigo Hohlenwerger e o violão e a guitarra de Ismera Rock que buscam corroborar de modo harmonioso com este projeto que mostra um artista que apesar de não desprender-se de suas raízes, não deixa de ir em busca de inovação. Além desse álbum, Paulo Mourão acompanhado por sua viola de dez cordas vem apresentando o projeto "Flor de todo encanto", ao lado da cantora e preparadora vocal Adriana Lopes, um espetáculo pautado na  releitura de preciosidades como bem define o release do espetáculo.

Desse modo pode-se afirmar que Paulo Mourão é o Brasil na acepção mais genuína de sua sonoridade. Cada acorde do seu instrumento faz-se arraigada uma reverência que poucos discernem. Suas letras, sua melodia e o seu canto carregam consigo o mais genuíno sentido etimológico da palavra torrão e precisamos atentarmo-nos para isso.  É preciso voltar os olhos para dentro do Brasil reconhecendo e valorizando as mais diversas expressões populares existentes como este verdadeiro guerreiro faz. A música de raiz que apresenta é a arma mais eficaz que leva consigo não apenas no combate ao estrangeirismo que sobrepõe-se as culturas nacionais, mas principalmente na afirmação de nossa identidade. São quase duas décadas indo buscar nos mais distintos recônditos alguns dos mais consistentes elementos que reafirmam o seu trabalho como uma verdadeira trincheira da moda. Mourão faz-se baluarte da viola ao encarar de frente tais adversidades, dando a impressão, as vezes, que o artista pegou seu torrão de modo desprevenido e o apresentou assim mesmo, desnudo, ao seu público. Essa intimidade e compromisso com a cultura brasileira evidencia-se através do respeito as peculiaridades de cada região pela qual o artista passou e intuitivamente hoje apresenta em sua arte. Sem receios pode-se afirmar que este som que vem das Minas Gerais através da mais genuínas tradições brasileira é um significado alento para os apreciadores da boa música brasileira. Em toda a sua simplicidade, Paulo retrata aquilo que há de mais brasileiro em nossa cultura procurando ressaltar o porquê ainda é válido acreditar que o nosso torrão tem muito mais beleza que aquela que é vendida às grandes massas através dos meios de comunicações vigentes.


Maiores Informações:





Contato para shows e eventos: (31) 7567-0934 - TIM / violeiropaulomourao@gmail.com





quinta-feira, 25 de setembro de 2014

FESTA NACIONAL DA MÚSICA TRAZ A CANELA GRANDES NOMES DA MPB

Evento terá apresentações de MV Bill, Jorge Vercillo e Thiaguinho


A Serra Gaúcha receberá, a partir de 19 de outubro, a edição 2014 da Festa Nacional da Música. Até o dia 23 de outubro, grandes nomes da MPB, produtores, músicos, técnicos, empresários e profissionais ligados aoshowbusiness vão se reunir em Canela, no Hotel Laje de Pedra, para shows, palestras, bate-papos, homenagens e diversão. 

Entre os nomes confirmados estão Ana Carolina, Maestro João Carlos Martins, Péricles, Thiaguinho, Detonautas, Marina Lima, Arlindo Cruz, Jerry Adriani, Anitta, Nenhum de Nós, Fresno, Munhoz & Mariano, Turma do Pagode, Sergio Reis, Fafá de Belém, Jorge Vercillo, Sandra de Sá, MV Bill, Rappin Hood, Mr. Catra e Falamansa.

— É a maior concentração de artistas em um evento deste gênero — avalia o organizador e idealizador da festa, Fernando Vieira.

Além do grande número de personalidades musicais, o evento promete clima de confraternização entre artistas de gêneros distintos, com as famosas jam sessions. 

A partir das 22h do dia 20, estrelas da MPB serão homenageadas com o troféu do evento pela sua contribuição à música brasileira. Além das atividades no Hotel Laje de Pedra, serão organizados dois shows beneficentes no Centro de Feiras de Canela, cujo ingresso será um quilo de alimento não-perecível. As apresentações serão nos dias 21 e 22 de outubro, a partir das 19h. 

Na tarde do dia 21, a festa também realiza o Gre-Nal dos Artistas no Estádio do Serrano. Cantores entrarão em campo para defender a camisa do Grêmio ou do Internacional. O ingresso para assistir à partida é 1 kg de alimento não-perecível, e o montante arrecadado deve ser destinado para instituições carentes da região.

Estão programadas, ainda, duas palestras voltadas aos estudantes da Serra Gaúcha, no auditório do Hotel Laje de Pedra. Os encontros vão abordar temas como prevenção às drogas e segurança no trânsito.

Fonte:  Zero Hora

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

EDU LOBO REVELA DETALHES DA RELAÇÃO COM OS PARCEIROS CHICO BUARQUE E VINICIUS DE MORAES

Cantor e compositor carioca diz que não prestou atenção à Tropicália e que acha a sigla MPB "uma bobagem"

Por Gabriel de Sá




Edu Lobo, desde sempre, preza pela privacidade. Dá poucas entrevistas, não opina sobre o que não lhe diz respeito e não se mete em confusões. Aos 71 anos, o recluso carioca só não está mais escondido porque a obra que construiu ao longo dos últimos 50 anos continua a conquistar admiradores. Prova disso é que a trilha sonora do balé 'O grande circo místico', criada por ele e Chico Buarque, em 1983, inspirou musical homônimo que arrebatou as plateias do Rio e de São Paulo recentemente. O projeto será levado aos cinemas por Cacá Diegues. Para completar, Edu acaba de lançar CD comemorativo, ganhou biografia escrita pelo jornalista Eric Nepomuceno e tem songbook de partituras vindo por aí.

É por conta da publicação biográfica que Edu atende à entrevista. Ou será que não? “Sobre o livro? Mas eu não posso falar sobre o livro. Eu não sou o autor. Quem tem que falar é o Eric Nepomuceno”, brada, ao telefone. “Minha carreira está todinha lá. Está superbenfeito, a gente trabalhou muito em cima disso. E está lá, não tenho o que dizer. O que você quiser saber do CD, nenhum problema”, completou.

A solução foi abordar outros assuntos e, com jeitinho, abrir o caminho para que o cantor e compositor se sentisse à vontade para deixar as memórias escorrerem. Sempre sobre música, claro, já que a vida pessoal não foi abordada nem na biografia 'São bonitas as canções'. A exceção é um capítulo em que Edu narra a relação com o pai, o jornalista e compositor Fernando Lobo, que ele só conheceu quando tinha 10 anos de idade.

O compositor de 'Arrastão', 'Ponteio' e 'Beatriz' criticou o formato dos festivais que o alçaram à fama nos anos 1960 e admitiu que não saberia definir o que é música tropicalista. Animado com o musical 'O grande circo místico', Edu ainda aguarda o roteiro do longa-metragem. “Cedi as músicas, mas estou completamente por fora.”


Ponto a ponto

Biografia

Nunca na vida eu escreveria. Primeiro porque eu não sou um escritor que valha a pena ser lido, não tenho esse talento literário. E, segundo, um livro sobre minha vida (escrito por mim) não faria sentido. Agora, eu posso conversar sobre ela com uma pessoa que já me conhece bastante. Facilita muito. O Eric (Nepomuceno, autor de 'São bonitas as canções') vinha pra cá, trazia o gravador, a gente falava horas e horas. De vez em quando, ele me telefonava. Fui acompanhando de longe e gostei bastante: do tom, da forma como as coisas foram colocadas. Só tem verdade ali. Ela é completa. Eu não tenho outras coisas para falar.


Parcerias

Eu não sou letrista. Fiz algumas letras, mas não sou. Eu gosto sempre de fazer a música primeiro e receber a letra depois. É assim que eu trabalho com o Chico (Buarque). Pouquíssimas vezes na vida eu musiquei poemas, e só o fiz por razões específicas. Gosto mesmo é de fazer a música livremente e entregar para um parceiro de confiança e receber depois. Quase todo mundo é assim. Não sei se tem alguém que prefira musicar letras. A letra pronta te aprisiona.


MPB e bossa nova

É uma sigla de que não gosto, parece partido político. Não me incomoda porque não presto muita atenção, mas acho uma bobagem. MPB é colocada sempre como uma dissidência da bossa nova, e eu nunca saí da bossa nova. Fui formado nela. O time tinha Tom Jobim, Carlinhos Lyra e Baden Powell, que também eram parceiros de Vinicius. As minhas tentativas de bossa nova eram bem inferiores, bem fracas. Como tenho uma relação com o Nordeste, meus pais são pernambucanos, ouvia coisas regionais o dia inteiro. E comecei a incorporar essas coisas — só que eu fazia com as harmonias da bossa nova. Quando se tem 19 anos, você não faz especulações sobre o que daria certo ou não: vai fazendo. Eu chamava minhas composições de “música esquisita”.


Vinicius de Moraes

Nós nos tornamos parceiros na noite em que o conheci. Eu tenho certeza de que aquilo foi muito mais do que um empurrão (para que eu seguisse na carreira). Cheguei a uma reunião, toquei as músicas que eu sabia tocar, muitas com letras dele, e ele gostou muito e propôs uma parceria. Fizemos a música ('Só me fez bem'), como está no livro. No dia seguinte, eu acordei e não era mais apenas um estudante de direito da PUC que queria ser diplomata.


Festivais

Fique muito contente com a vitória de 'Arrastão' (1965), porque ninguém sabia quem eu era e, em 24 horas, quem conhecia de música sabia de mim. Com 'Ponteio' (1967), fiquei desapontado alguns dias com esta coisa da competição. É muito difícil julgar a música naquele contexto, naquela balbúrdia, aquela coisa apaixonada. É só lembrar as histórias: 'Sabiá', de Chico e Tom, vaiada pelo Maracanãzinho inteiro em 1968. E é uma música maravilhosa. Como era lenta, e lírica, os caras começam a gritar, a vaiar. Que isso? Tanto é que os festivais acabaram. Tentaram algumas vezes depois, mas não funciona mais. Festival, na Europa e nos Estados Unidos, não é uma competição. Mas é que televisão adora competição, né?! Isso chama audiência. Perdeu o sentido.




Tropicália

Eu não estava prestando atenção à Tropicália, sinceramente. Naquela época, estava completamente focado em um grupo de Minas, que depois eles chamaram de Clube da Esquina, que fazia uma música que era diferente, com acordes diferentes, melodias diferentes. Uma coisa meio que semirreligiosa, tinha a voz do Milton, enfim… Estava prestando atenção naquilo. A Tropicália não me pegou assim. Especialmente porque, se você me pedir pra definir o que era a música tropicalista, eu não sei a resposta. Pode ser que alguém saiba. Eu sei o que é uma atitude tropicalista: isso eu vi acontecer.


Chico Buarque

A gente se encontrava na televisão, mas não tinha nenhuma aproximação especial. E acho que essa coisa de festival, também… Eu ganhei um, ele ganhou outro, depois eu ganhei outro, ele outro… Sabe esse negócio? Acho que isso meio que afasta, ou intimida. O tempo foi passando, a gente se encontrando, e temos uma amizade ótima. É muito bom trabalhar com um parceiro que também é seu amigo. Eu queria fazer músicas novas para o musical 'O grande circo místico', pois as feitas para o balé de 1983 não seriam suficientes para esse formato. O Chico desde o início falou que não poderia fazer letras novas. Quando ele escreve livro, como agora, deixa de ser músico. É assim que ele é, então tudo bem. Eu respeito totalmente. Fizemos 42 músicas, sendo que apenas duas não foram para musicais.


Encomenda

Quando eu tenho uma encomenda, minha vida muda completamente, por que eu tenho o que fazer: conviver com personagens, ter ideias... Eu fico o dia inteiro fazendo. E, fundamentalmente, eu tenho um contrato e uma data. Se aparecesse um megaprodutor com US$ 10 milhões pra produzir o maior espetáculo do mundo, eu perguntasse a data e ele respondesse “pra quando você quiser”, sabe quando ia ficar pronto? Nunca. É verdade. Quando se tem a data, você acorda nesse clima. Eu odeio atrasar ou descumprir alguma coisa que tenha a minha assinatura. Acho horroroso isso. Nunca aconteceu.

MARISA MONTE É ELEITA MELHOR CANTORA POR DUAS VEZES NO PRÊMIO CONTIGO

Marisa Monte se consagrou como melhor cantora de 2014 através dos votos populares e do juri especializado no "3º Prêmio Contigo MPB FM de Música", realizado na noite desta segunda-feira (22), em uma casa de shows na Lagoa, na zona sul do Rio de Janeiro. Além destes, ela também levou o troféu de Melhor DVD, mas não pôde comparecer ao evento.


"Ela não veio, mas mandou um beijo para todos", disse o assessor da cantora, Mario Canivello, que recebeu o prêmio emseu lugar.

Quem também saiu consagrado da premiação foi o cantor Ney Matogrosso que levou dois troféus, Melhor Cantor e Melhor Álbum MPB, escolhidos pelo juri especializado.

"Estou feliz pra caramba", falou ele em seu discurso ao pegar o primeiro prêmio da noite.

Esta é a primeira vez que o voto popular entra na premiação e elegeu, além de Marisa, Djavan como Melhor Cantor e "Rumo ao Infinito, de Maria Rita, como Melhor Música.

Confira a lista completa de vencedores do "3º Prêmio Contigo MPB FM de Música":

Voto Popular

Melhor Cantor: Djavan (Rua dos Amores ao vivo)
Melhor Música: "Rumo ao Infinito" (Maria Rita)
Melhor Cantora: Marisa Monte (Verdade, Uma Ilusão - Tour 2012/2013)


Juri Oficial

Melhor Cantor: Ney Matogrosso (Atento aos sinais)
Melhor Música: Purabossanova (Sérgio Britto e Rita Lee)
Melhor Cantora: Marisa Monte (Verdade, Uma Ilusão - Tour 2012/2013)
Melhor DVD: Verdade, Uma Ilusão - Tour 2012/2013 (Marisa Monte)
Melhor Álbum de Pop/Rock: Velocia (Skank)
Melhor Instrumentista: Dadi (Verdade, Uma Ilusão - Tour 2012/2013)
Melhor Álbum MPB: Atento aos Sinais (Ney Matogrosso)
Melhor Álbum de Samba: Passado de Glória (Monarco)
Melhor Destaque: Emicida (O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui)
Melhor Projeto Musical: Sambabook (Zeca Pagodinho)
Artista Faro: Tiago Iorc

Fonte: UOL

RACIONAIS MCS COMEMORAM 25 ANOS CONECTADOS COM AS TRANSFORMAÇÕES DAS PERIFERIAS

Mais icônico grupo do rap brasileiro não apenas inspirou diretamente o surgimento de rappers em diversas regiões do país, mas se transformou em símbolo de resistência


Por Roger Deff*




Em 1990, o lançamento do álbum 'Holocausto urbano', o primeiro do grupo paulistano Racionais MCs, marcou um dos capítulos mais importantes da então recente história do rap brasileiro. Anos antes, a coletânea Hip-hop cultura de rua trouxe a público nomes como MC Jack, Código 13 e Thaíde e DJ Hum, pedras fundamentais do gênero. Mas a estreia fonográfica da banda formada por Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay foi um divisor de águas não apenas para o rap nacional, mas para a música brasileira de uma forma geral.

Inspirado na postura dos norte-americanos do Public Enemy, o quarteto apresentava letras cruas que traduziam a violência da São Paulo no início da década de 1990, bem como a pobreza extrema vivenciada por jovens negros nas periferias dos grandes centros país – realidade retratada por eles de forma direta e contundente, sem eufemismos. O grupo cantava sobre um Brasil sem esperança, sem mobilidade social e sem espaço no horário nobre (ou em qualquer horário), embora representasse a maioria esmagadora da audiência. Antes que se dessem conta, o Racionais se tornou referência para milhões de jovens moradores de aglomerados, vilas e favelas, trazendo à tona um mundo que, embora presente, permanecia invisível. 

Em 1993, quando 'Fim de semana no parque' e 'Homem na estrada', faixas do terceiro disco ('Raio-X do Brasil'), ganharam espaço nas principais FMs do país ao lado do estreante carioca Gabriel, O Pensador, o rap produzido no Brasil foi revelado para um público mais amplo, ganhando novos adeptos. O tom militante e educacional dos primeiros trabalhos cede lugar ao relato que tornava ainda mais claros a exclusão e as disparidades: “Olha só aquele clube dá hora/ Olha o pretinho vendo tudo do lado de fora/ Nem se lembra do dinheiro que tem que levar/ Do seu pai bem louco gritando dentro do bar/ Nem se lembra de ontem, de hoje e do futuro/ Ele apenas sonha através do muro”, diz Mano Brown em 'Fim de semana no parque'.

'Sobrevivendo no inferno', CD antológico de 1997, marcou o período com sua narrativa densa, trazendo números e histórias sobre racismo, violência e a falta de perspectivas que se faziam presentes nas periferias. Lançado pelo selo Cosa Nostra, de propriedade dos próprios rappers do Racionais, o trabalho alcançou a invejável marca oficial de 500 mil cópias vendidas, colocando o grupo e o rap nacional no mapa da música brasileira.

Ruptura O prêmio de audiência no MTV Video Music Brasil, conquistado em 1998 com o videoclipe 'Diário de um detento', foi outro marco. Um ponto de ruptura para a música que ainda era marginalizada e incompreendida. O troféu mais importante da festa anual da MTV foi para um grupo de artistas cujos rostos não eram tão conhecidos do grande público, artistas que não estavam amparados por nenhum grande esquema de divulgação. Naquele momento, o Racionais dava uma lição importante para a música independente: sua trajetória já prescindia das gravadoras mesmo antes de elas se tornarem obsoletas.

O quarteto paulistano não apenas inspirou diretamente o surgimento de rappers em diversas regiões do país, mas se transformou em símbolo de resistência – postura condizente com o que o Racionais cantava. Seus integrantes recusavam entrevistas e aparições em grandes emissoras e determinados veículos de comunicação. Não por acaso, tornaram-se símbolo importante para a juventude negra.

O momento é outro, e a banda, já reconhecida como uma das mais importantes do país, agora se permite ironizar e até ostentar, a exemplo de 'Negro drama', faixa do álbum 'Nada como um dia após o outro dia' (2002): “Não foi sempre dito que preto não tem vez?/ Então, olha o castelo e não foi você quem fez...”. A nova abordagem retrata mudanças sociais que permitiram a milhares saírem da linha da pobreza extrema, mas se mantém o tom crítico e ácido que marcou a identidade do grupo.

Duas décadas e meia depois, eles são, sem dúvida, a maior referência do hip-hop no Brasil, com uma trajetória que acompanhou tanto a evolução e o crescimento do rap quanto o surgimento de nomes como Emicida, Criolo, Rapadura, o mineiro Renegado e tantos outros. Ironicamente, o grupo que sempre falou da e pela favela foi o primeiro a estabelecer conexões e pontes do rap com públicos de classes e espaços geográficos diversos, como se vê no perfil de fãs que o seguem hoje.

O show da turnê de 25 anos do Racionais MCs, apresentado recentemente em BH, é um indicativo importante dessa mudança. Os fãs não podem mais ser definidos por classe e etnia específicas, mas a identidade com o discurso dos “quatro pretos mais perigosos do Brasil” (como eles se denominam) é o ponto de confluência.

Vale reforçar: entender os 25 anos do Racionais MCs equivale a uma leitura sobre os caminhos do próprio rap nacional durante todo esse período, além das mudanças da periferia e da forma como ela própria se vê nesse novo contexto.

Diálogo Anos atrás, assisti em BH ao show de lançamento do 'Sobrevivendo no inferno', terceiro disco de estúdio do Racionais. Agora vejo o show da turnê de 25 anos. Outra época. Em 'Sobrevivendo...', era nítido o perfil do público: homens, na maioria, jovens negros oriundos de aglomerados e bairros periféricos da capital mineira. A realidade agora é bem outra. É interessante notar o diálogo que o rap estabeleceu com públicos tão diversos sem mudar o seu discurso, embora tenha se tornado bem mais aberto em relação a temas, referências e conexões.

Veja bem: 'Sobrevivendo...' é de 1997, 'Nada com um dia após o outro dia', o último disco dos caras, saiu em 2002. No show comemorativo, vi um monte de garotas e garotos de vinte e poucos anos (ou menos) cantando todas as letras, compreendendo as referências de trabalhos lançados quando eles ainda eram crianças. Todos erguendo as mãos para fazer o gesto VL, símbolo de “vida loka”. Essa gíria se refere ao dia a dia de gente obrigada a morar em favelas e bairros pobres, lutando para sobreviver apesar da miséria, violência, racismo e dos perigos que envolvem o tráfico de drogas.

Quem presenciou aquelas cenas não tem a menor dúvida a respeito do impacto cultural do Racionais e do que ele simboliza. Ainda controversos e provocadores, os “manos” não falam mais do lugar da invisibilidade. Esta pode ser a grande diferença em relação aos velhos tempos. Mano Brown, Edi Rock, Ice Blue e KL Jay falam de uma comunidade conectada, que ostenta o poder de consumo como forma de afronta e quer mais – bonés, camisetas e a postura marrenta refletem isso. Para quem souber ler.

'Negro drama' fala do negro a partir de outro lugar, mas virou hino fácil na boca da garotada contemporânea. Brown encerrou o show lembrando que Minas é terra de Milton Nascimento e de Lô Borges, a quem já declarou publicamente sua admiração por mais de uma vez.

Nada como um dia após o outro.


*Roger Deff é rapper da banda Julgamento e jornalista

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

CARLOS JOSÉ, 80 ANOS

Irmão do instrumentista Luís Cláudio Ramos. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1939. Aluno dos colégios Santo Inácio e Andrews e, mais tarde, da Faculdade de Direito, esteve sempre ligado a grupos musicais amadores. Em 1947, foi classificado em 1º lugar no programa de calouros "Papel carbono", apresentado por Renato Murce na Rádio Nacional (RJ). Ingressou na Faculdade de Direito, onde organizou um grupo de teatro e música, que revelou, entre outros, Geraldo Vandré e Silvinha Telles. Considerado um grande seresteiro, atua em várias capitais do país, consolidando o repertório tradicional da música popular brasileira. Do seu casamento com a jornalista e produtora Maria D'Ajuda, nasceram dois filhos. Atuou muitos anos na sede da Socimpro, no Rio de Janeiro, onde chegou a ser presidente, marcando-se como intransigente defensor dos direitos autorais dos compositores e intérpretes brasileiros.


Em 1957, iniciou sua carreira profissional, apresentando-se no programa "Um instante, maestro", de Flávio Cavalcanti, transmitido pela TV Rio. Ainda nesse ano, gravou seu primeiro disco, um 78 rpm, lançado pela Polydor, com os sambas canção "Ouça", de Maysa e "Foi a noite", de Tom Jobim e Newton Mendonça. O disco lhe valeu o título de Cantor Revelação do Ano, concedido pelos cronistas do Rio de Janeiro. Em seguida, começou a ser solicitado para realizar shows em todo o Brasil. Abandonou a carreira de advogado e passou a dedicar-se exclusivamente à música. 

Em 1958, gravou seu primeiro LP, que incluiu uma música de sua autoria, o samba canção "Oferta". 

No mesmo ano, gravou o fox "Tarde demais para esquecer", de H. Adamson, McCarey, Chandler e Warren, com versão de Alberto Ribeiro, os sambas canção "Se alguém telefonar", de Alcyr Pires Vermelho e Jair Amorim, "Só louco", de Dorival Caymmi e o samba "Viva o meu samba", de Billy Blanco.

Em 1959, gravou "Cantiga de enganar tristeza", de Ary Barroso e Tiago de Melo e "Prenúncio", de Marino Pinto e Vadico. No mesmo ano, gravou os sambas "Garotas", de Billy Blanco e "Recado", de Djalma Ferreira e Luiz Antônio e o samba canção "A noite do meu bem", de Dolores Duran.



Em 1960, passou a gravar na Continental, estreando com o samba toada "Esmeralda", de Filadelfo Nunes e Fernando Barreto, um der seus maiores sucessos e o samba "Saudade querida", de Tito Madi. No mesmo ano, gravou pela Odeon o bolero "A noite de nós dois", de Fernando César e Otelo Zucolo. Em 1961, gravou o samba "História singular", de Esdras Silva e Armando Cavalcânti e o samba canção "Ninguém chora por mim", de Evaldo Gouveia e Jair Amorim. No mesmo ano, gravou os sambas canção "Paciência (Vou brigar com ela)", de Lupicínio Rodrigues e "O tema é solidão", de Edson Borges e Hianto de Almeida. Em 1962, gravou na Continental os boleros "Gota de carinho", de Umberto Silva, P. Aguiar e A . Pessanha e "Não importa", de Rossini Pacheco. Em 1963, gravou os sambas canção "Mensagem", de Raul Sampaio e Benil Santos e "Serra da Boa Esperança", de Lamartine Babo.

Na década de 1960, destacou-se com sucessos como "Esmeralda", de Fernando Barreto e Filadelfo Nunes, "Lembrança", versão de Serafim Costa Almeida, "Queria", de Carlos Paraná e "Guarânia da saudade", de Luís Vieira, entre outros. Em 1966, lançou pela CBS o LP "Uma noite de serestas", no qual interpretou obras como "Boa noite, amor", de Francisco Mattoso e José Maria de Abreu, "Por ti", de Sá Roris e Leonel Azevedo, "A volz do violão", de Horácio Campos e Francisco Alves e "Serenata", de Sílvio Caldas e Orestes Barbosa.

Em 1968, lançou "Uma noite de seresta - volume 3", LP que trazia entre outras composições, "Se me faltar o amor", de Mário Rossi e Gastão Lamounier, "Modinha", de Jaime Ovalle e Manuel Bandeira, "Pisando corações", de Ernani Campos e Antenógenes Silva e "Branca", de Duque de Abramonte e Zequinha de Abreu. No ano seguinte, gravou o volume 4 da série "Uma noite de seresta", no qual gravou "A mulher que ficou na taça", de Orestes Barbosa e Francisco Alves, "Duas vidas", de Claudionor Cruz e Pedro Caetano, "Maria Bethânia", de Capiba e "Lágrimas", de Cândido das Neves, entre outras composições do repertório romântico e seresteiro.




Em 1970, gravou "Sombras na madrugada", registrando entre outras, "A volta", de Jair Amorim e Evaldo Gouveia e "Seria bem melhor", de Pedro Paulo e Renato Barros. Em 1974, gravou pela Polydor "Eu quero", de Sergio Bittencourt, "Rotina", de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, "Prelúdio pra ninar gente grande", de Luiz Vieira, "Dono dos teus olhos", de Humberto Teixeira, "Oração da Mãe Menininha", de Dorival Caymmi e "Viagem", de Paulo César Pinheiro e João de Aquino. Em 1975, a RCA Victor lançou o álbum "Meu canto de paz", que registrou músicas de compositores novos ao lado de composições mais antigas como "Arrependimento", de Cristóvão de Alencar e Sílvio Caldas, "Cabelos brancos", de Marino Pinto e Herivelto Martins e "O filho que eu quero ter", de Toquinho e Vinicius de Moraes.

Sua discografia registra mais de 25 discos e inclui uma série de seis LPs com o título "Uma noite de seresta", na qual interpreta canções famosas gravadas por Francisco Alves, Orlando Silva, Sílvio Caldas e Carlos Galhardo. Em 1982, a convite de Ricardo Cravo Albin, estreou o show "Carlos José e Viva Voz", em que atuou ao lado da filha Luciana (uma das integrantes do conjunto), hoje produtora musical. Oito anos depois e com o mesmo produtor, tomou parte no elepê duplo "Há sempre um nome de mulher", distribuído pelas agências do Banco do Brasil e do qual se venderam 600 mil cópias em todo o país. Em 1993, gravou o CD "Serestas brasileiras", incluído no projeto "Academia Brasileira de Música", destacando-se as faixas "Esses moços" e "Nervos de aço", de Lupicínio Rodrigues, "Eu sonhei que tu estavas tão linda", de Lamartine Babo e Francisco Matoso e "Carinhoso", de Pixinguinha e João de Barro, entre outras. Quatro anos depois, regravou seus principais sucessos, como "Lembrança", "Esmeralda" e "Guarânia da saudade" no CD "20 super sucessos de Carlos José", lançado pela PolyGram, que incluiu também as faixas "Olhos nos olhos", de Chico Buarque, "Menino de rua", de J. Júnior, "Naquela mesa", de Sérgio Bittencourt, "Cabecinha no ombro" de Paulo Borges e "Você é uma mentira", de Joelma. Em 1999, organizou e estrelou espetáculo no auditório principal da Academia Brasileira de Letras, quando do lançamento das 14 canções do século XX e do livro "MPB - a história de um século", de R. C. Albin. Ao longo de sua carreira, apresentou-se nos palcos de todo o Brasil, além de ter realizado shows em Portugal, México, Argentina, Uruguai, Paraguai e Equador.

Fonte: Dicionário da MPB

PARCERIA ENTRE MÁRIO ADNET E DORI CAYMMI, ÁLBUM TEM A PRESENÇA DE ORQUESTRA DE CORDAS E CONVIDADOS ESPECIAIS

Disco reúne novas leituras de sucessos de Dorival Caymmi



Por Ailton Magioli

 






Mário Adnet, Caetano Veloso e Dori Caymmi: competência para celebrar o centenário do baiano ilustre 


Por mais requintado e estelar que possa ser o resultado de 'Dorival Caymmi – Centenário', álbum que a Biscoito Fino acaba de lançar para comemorar o centenário do compositor baiano, pode-se dizer que 'Nana, Dori e Danilo – Caymmi', com o mesmo objetivo, lançado no ano passado, saiu-se melhor. Ainda que o novo projeto tenha a presença de orquestra de cordas, Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil.

Além das pérolas caymmianas pouco exploradas, o primeiro disco leva vantagem por preservar a propalada simplicidade da obra do mestre, sem maiores investimentos em produção, mesmo que estejam no CD Nana, Dori e Danilo, que representam o que há de melhor na obra de Dorival, além da música propriamente dita.

Projeto dividido pelo filho Dori e Mário Adnet, o novo disco poderá ganhar versão ao vivo, com a apresentação de concertos que ainda dependem de patrocínio. “A proposta anterior é mais simples, já que foi focada na composição de Caymmi e na interpretação dos filhos”, compara o arranjador Mário Adnet, que também marca presença cantando em 'A vizinha do lado'. “É como se fosse um disco meu e de Dori sobre a obra de Caymmi”, acrescenta Mário, salientando o trabalho de dois arranjadores de gerações diferentes em 'Dorival Caymmi – Centenário'.

Neste disco, a ideia foi ir aos clássicos do mestre, com arranjos de orquestra”, justifica Mário Adnet, lembrando que estão no repertório 'O que é que a baiana tem?' (Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque), 'Saudade da Bahia' (Caetano Veloso) e 'Dora' (Chico Buarque), entre outros clássicos.

Verdade que os três, além dos filhos Dori e Danilo Caymmi, contribuem para fazer desse segundo disco um lançamento de peso. Mas Nana Caymmi ('Sargaço mar' e 'A lenda do Abaeté', além de dividir com os irmãos a interpretação de 'Canção da partida') continua sendo a maior intérprete da obra do pai, capaz de revelar-se a cada nova leitura, caso do clássico dos clássicos, 'Sargaço mar'.

Infância

Na opinião de Mário Adnet, que divide com Dori os novos arranjos, até então, o único disco de orquestra com a obra do mestre que havia sido bem sucedido era 'Caymmi e o mar', de 1957, com toda a história dos pescadores, no qual o próprio compositor incorporava o narrador. A convivência de Mário Adnet com o cancioneiro caymmiano remonta à infância, quando a família se imprensava em uma Kombi para viajar do Rio para Guarapari (ES), onde o avô dele tinha uma casa de praia. “As viagens eram marcadas pela cantoria, do início ao fim”, lembra, emocionado, o arranjador que cresceu naturalmente embalado por Ary Barroso, Dorival Caymmi e outros compositores da MPB.

Apesar de em 1990 Mário Adnet ter decidido gravar um disco independente com a obra de Caymmi, o sonho ainda não havia se concretizou (o arranjo feito por ele para 'Maracangalha' encantou Tom Jobim, que acabaria o indicando para participar do songbook do compositor). Somente agora ele se debruça sobre tal cancioneiro. “Por se tratar de algo tão simples, a música de Caymmi acaba nos dando muitas possibilidades harmônicas”, elogia. “Para um arranjador isso é um prato feito”, conclui, salientando: “Por isso, a música de Caymmi atravessa gerações”.

BANDA O RAPPA PODE CHEGAR AO FIM, AFIRMA COLUNISTA

Integrantes do grupo estariam considerando rompimento como solução para os conflitos internos





O grupo O Rappa, composto pelo vocalista Marcelo Falcão, Alexandre Menezes, Lauro Faria e Marcelo Lobato pode estar com os dias contados. Segundo o colunista Leo Dias, do jornal O dia, uma pessoa próxima à banda afirmou que o clima entre os integrantes não é lá dos melhores.

Recentemente, eles fizeram uma reunião sobre as contantes divergências e o rompimento do grupo foi uma das soluções propostas. A primeira crise dos musicistas teria sido com a saída de um dos fundadores da banda, o baterista Marcelo Yuka, em 2001. Será?

Confira clipe de 'Auto-reverse':



Fonte: Correio Braziliense

domingo, 21 de setembro de 2014

AS RAINHAS DO RÁDIO: A SORTE FOI UM "ADMIRADOR ANÔNIMO"


A Rainha do rádio apresentada hoje antes de ser cantora iniciou a sua vida artística na sétima arte

Por Bruno Negromonte - @brunonegromonte





Nascida em Santos (município portuário localizado no litoral do estado de São Paulo a cerca de 77 quilômetros da capital), Nice Figueiredo Rocha iniciou a sua carreira artística longe dos auditórios de rádio e estúdios de gravações como todas aquelas que antecederam nesta série em que venho apresentando todas as Rainhas do rádio brasileiro existentes enquanto o concurso esteve vigente, entre os anos da década de 1930 até 1950. Popularmente conhecida como Mary Gonçalves, a pretensa artista, iniciou a sua carreira artística como atriz de cinema estreando em 1944 no elenco do filme "Gente Honesta", segundo filme do diretor mineiro Moacyr Fenelon e que contava no elenco com nomes como Oscarito e Oswaldo Louzada. Sua estreia no rádio só viria a acontecer seis anos depois quando foi contratada para fazer parte do casting da Rádio Nacional. Após a sua inserção no mundo do rádio teve a oportunidade de gravar pela gravadora Sinter o seu primeiro disco, um 78 RPM com as faixas "Penso em você" e "Só eu sei", dois sambas-canção compostos por Fernando Lobo e Paulo Soledade. Nesta gravação a estreante contou com o acompanhamento do conceituado maestro, arranjador e pianista Lyrio Panicali e seu conjunto de boite. No entanto, a futura Rainha do rádio teria na música uma carreira meteórica gravando apenas cerca de uma dúzia de 78 RPM. Sua última gravação data-se de 1956, quando registrou em disco de cera as canções "Deixa disso" (Newton Ramalho e Nanci Wanderley) e o samba-canção "Patati-patatá" (Hianto de Almeida e Francisco Anísio). Depois deste registro abandonou a carreira artística passando a viver na Colômbia. Entre esses escassos registros fonográficos da artista ao longo dos cinco anos em que gravou há canções como  "Aquele beijo", de Claribalte Passos e Lírio Panicali; o baião "Coreana", de Humberto Teixeira e Felícia de Godoy; o samba-canção "Vem depressa", de Klécius Caldas e Armando Cavalcanti e o bolero "Aperta-me em teus braços", de José Maria de Abreu e Jair Amorim. Suas interpretações também abrangeram compositores como Luiz Bonfá (autor do baião "Meu sonho"), Billy Blanco (que compôs o samba-canção "Rotina"), Dorival Caymmi (compositor do samba-canção "Nem eu" ) entre outros relevantes nomes da música popular brasileira como Johnny Alf, autor de três canções registradas por Mary: "Escuta", "Estamos sós" e "O que é amar". Em 1954, gravou seu último disco na Sinter com o samba-canção "Dentro da noite", de Oscar Bellani e Luiz de França e o beguine "Não vá agora", de Billy Blanco. Segundo o jornalista e pesquisador Sylvio Túlio Cardoso, foi neste selo que a artista fez os seus melhores registros.



A ascendente cantora viria a se tornar Rainha do rádio dois anos após o início de sua carreira radiofônica, em 1952 com um votação de 744.826 votos. Na ocasião venceu a atriz e musicista Adelaide Chiozzo (que foi derrotada por pouco mais de 30 mil votos na última hora de apuração) e a cantora Carmélia Alves e sendo coroada no tradicional baile do rádio no teatro João Caetano em 19 de fevereiro. Vale registrar que a vitória de Mary Gonçalves se deu de modo inusitado. Com exceção de Carmélia Alves (que já possuía diversos o carisma e reconhecimento do público como a "Rainha do baião"), todas as demais candidatas não possuíam aquilo que era fundamental para alcançar o título: popularidade. E entre essas candidatas encontrava-se Mary Gonçalves, que naquele ano estava migrando da Rádio Nacional para a concorrente Rádio Clube, que tinha entre seus primordiais interesses a promoção do nome e da imagem da recém-contratada. Naquele ano a vitória de Adelaide Chiozzo para Rainha do Rádio era dita como certa por dez entre cada dez pessoas questionadas sobre o concurso. No entanto surge a figura de um patrocinador anônimo que alegando estar comprando votos para Carmélia Alves arremata uma grande quantidade de votos e os encaminha para Mary Gonçalves. Essa surpresa foi responsável por diversas situações além da mudança daquilo que já estava dado como certo. Esse novo panorama foi responsável por gerar a oportunidade de Mary duplicar não apenas a quantidade de shows e viagens que fazia, mas também o seu cachê junto aos contratantes assim como também foi responsável por gerar uma desconfortável situação para Carmélia Alves, pois a mesma foi acusada de trabalhar contra a candidatura da colega de emissora. A vitória da candidata santista acabou gerando uma inusitada situação: Carmélia Alves para ir ao Baile do Rádio precisou de escolta policial.