O colunista escreve semanalmente no Segundo Caderno
Por Juarez Fonseca
Entre cerca de mil textos publicados de 1957 a 2014, Zuza selecionou 140 |
Zuza Homem de Mello é uma das maiores vocações do jornalismo musical brasileiro, se não a maior. Dono de um sobrenome heráldico, poderia ter escolhido ser fazendeiro, como seu pai. Poderia ser engenheiro, curso que chegou a iniciar. Poderia trabalhar como músico, tinha 20 anos quando começou a tocar contrabaixo profissionalmente em São Paulo. Quatro anos depois, iria para os EUA, onde, entre 1957 e 1959, cursou a School of Jazz (tendo como orientador o célebre baixista Ray Brown), estudou musicologia na Juilliard School of Music e literatura inglesa na New York University. Mas não, encontrou sua razão de viver escrevendo sobre música para jornais e revistas, apresentando programas de rádio, promovendo a música fora dos palcos. Seu currículo é vasto, bastando lembrar três atividades além do jornalismo para ressaltar isso: foi engenheiro de som da TV Record na época dos grandes festivais e programas como O Fino da Bossa; foi coordenador da Enciclopédia da Música Brasileira; foi/é curador dos principais festivais de jazz realizados no Brasil.
A trajetória de Zuza na imprensa está concentrada nas 544 páginas de seu novo (e sétimo) livro, Música com Z. Entre cerca de mil textos publicados de 1957 a 2014, ele selecionou 140. Não há ordem cronológica, os textos estão agrupados em capítulos, ou seções. Em “Canções e Momentos”, ele conta saborosas histórias de canções como As Time Goes By e Fascinação, faz crônicas como E se Elis Fosse Viva? e O Disco de Jazz que Mudou minha Vida. Em “Reportagens”, está desde uma matéria sobre o início da construção do Lincoln Center, em 1958, até uma sobre o projeto Emoções, a maior turnê já realizada por Roberto Carlos, em 1983. No capítulo “Entrevistas”, brilham conversas com Charles Mingus (que não costumava falar com a imprensa, principalmente com jornalistas brancos), Chico Buarque, Chet Baker, Itamar Assumpção, Dizzy Gillespie, Moacir Santos, entre tantos. Outro bloco, “A nobreza da música brasileira”, reúne comentários de discos e shows de Paulinho da Viola, Cartola, João Gilberto, Kleiton & Kledir, Bezerra da Silva, Elizete Cardoso, Elis, Caetano, Tom, Tim etc.
Um capítulo particularmente interessante é “De dar água na boca”, no qual Zuza relembra shows inesquecíveis a que assistiu nestes 57 anos. A propósito, no prefácio, o jornalista Humberto Werneck anota que Zuza “esteve sempre no lugar certo, e na hora certa”. Nos anos em que viveu em Nova York, ele ia a shows de jazz diariamente. Num dos textos, de 1957, dá suas impressões sobre duas “jovens promessas do jazz”, Cecil Taylor e John Coltrane. Noutro, escreve sobre o show de Sinatra em São Paulo.
Noutro ainda, sobre uma apresentação-surpresa de João Gilberto em uma festa particular. Ao longo do livro, inúmeros textos são finalizados com uma “Nota em 2014”, isto é: Zuza hoje, atualizando e enriquecendo as informações. Na última seção do livro, estão reunidas as “Figuraças” do crítico, entre elas Miles Davis, Carmen Miranda, Duke Ellington, João do Vale, Hermínio Bello de Carvalho, Noel Rosa e, juntos, num texto de 2014, os centenários Caymmi e Lupicínio. Só não procure rock em Música com Z. A elegante, minuciosa e precisa escrita de Zuza passa ao largo disso.
Música com Z
> De Zuza Homem de Mello
> Artigos, reportagens e entrevistas, Editora 34, 544 páginas, R$ 69 (em média)
> Cotação: 5 (de 5)
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