Imaginem, se o Sport não joga futebol! Cartunista tricolor ou timbu…
Luiz Bandeira é autor de alguns dos maiores clássicos brasileiros, em variados ritmos, mas não se tem um registro em CD do velho mestre. Vez em quando, pergunto ao Fabio, da Passadisco, se chegou alguma coisa de Bandeira, ouvindo sempre a mesma coisa: ‘nada’. Nós dois com a mesma sensação de órfãos.
Nesta conversa, não vou detalhar o extenso, maravilhoso e exitoso repertório de Luiz Bandeira.
Ficarei apenas no foco de nossa série “A música e o Futebol”. Neste segmento fez uma música, que não fala de futebol, mas sua melodia nos leva à cadência do jogo, da bola, do jogador levando a bola, do movimento. É uma música cinética e perfeita para a trilha do futebol. Não fosse assim, não seria desde o antigo Canal 100 a grande banda sonora dos jornais, registros, fundos para vídeo, para publicidades e outros fins sempre relacionados ao futebol.
Existem versões, paródias. Desconfio que, – estou mandando uma carta para o ECAD para esclarecer este assunto -, é uma das músicas incidentais mais tocadas no Brasil em toda a história da indústria fonográfica.
Na Cadência do Samba (Que Bonito É) de Luiz Bandeira
Samba
Representa uma nação
Samba
Orgulho da raça
Retrato de um povo
Que tem alma e coração
Que bonito é
Ver o samba no terreiro
Assistir um batuqueiro numa roda improvisar
Que bonito é
A mulata requebrando, os tambores repicando
Uma escola a desfilar
Que bonito é
Pela noite enluarada, numa trova apaixonada
Um cantor desabafar
Que bonito é
Gafieira, salão nobre
Seja rico seja pobre
Toda gente a sambar
O samba é romance
O samba é fantasia
O samba é sentimento
O samba é alegria
Bate que vai batendo a cadencia boa que o samba tem
Bate que repicando o pandeiro vai tamborim também
Mas, tem mais. Luiz Bandeira era mesmo bom de samba (também). Apesar de ter gravado baiões, frevos e outros ritmos nordestinos, teve alguns grandes sambas como sucessos nacionais, entre os quais “O apito no samba“, que acabou por ser o tema de futebol nos cine jornais de Carlos Niemeyer.
“Apito no Samba”, de Luiz Bandeira, com orquestra de Radamés Gnattali. Depois, recebeu letra de Luiz Antonio e foi um dos maiores sucessos da recém-falecida Marlene:
* * *
Perfil de Luiz Bandeira
Nasceu no Recife, mas foi criado em Maceió, cidade onde teve contato com os ritmos do coco e do pagode alagoano, assistindo à apresentação de cantadores cegos nas feiras.
Começou a carreira profissional no Recife. Em 1939, apresentando-se no programa “Valores Desconhecidos”, de Abílio de Castro, na Rádio Clube de Pernambuco. Seguiu na mesma rádio nos anos 40, com o apoio de Nelson Ferreira e Capiba, tendo obtido bastante sucesso atuando como violonista e rádio-ator.
Foi violonista na orquestra da rádio e fez parte do conjunto “Garotos da Lua”, inspirado no grupo “Bando da Lua” que acompanhava Carmen Miranda, nos Estados Unidos. Em 1942, passou a atuar como cantor na orquestra de Nelson Ferreira, apresentando-se em clubes sociais e durante o carnaval. Em 1948, passou para a Rádio do Comércio, onde atuou como rádio-ator. Em 1950, mudou-se para o Rio de Janeiro.
Na então capital federal, apresentou-se no Copacabana Palace, como cantor do conjunto de Moacir Silva. Posteriormente, foi contratado para o programa semanal “Ritmos da Panair”, na Rádio Nacional. Em 1951, Manezinho Araújo gravou a composição “Torei o pau“, grande sucesso no carnaval. No mesmo ano compôs com Humberto Teixeira “Baião sacudido“, que tornou-se grande sucesso. Em 1954, gravou “A um passo da eternidade“, do filme de mesmo nome, de R. Werlls e F. Karger, com versão de Lourival Faissal, e “Diana” de L. Pollac e E. Rapee, com versão de Alberto Lopes.
Ainda em 1954, Carmélia Alves gravou “Cafundó” e Virgínia Lane “Marcha da pipoca” que, pela letra satírica, acabou proibida. Em 1956, gravou um de seus maiores sucessos, “Na cadência do samba“, que acabaria nacionalmente consagrado como tema do jornal cinematográfico de futebol “Canal 100″, de Carlos Niemeyer. Na época, gravou o baião “Forró em cafundó“, composição em parceria com João do Vale, e o samba “Amor em Paris“, de Ibraim Sued e Mário Jardim.
Em 1957, Carmélia Alves voltou a gravar uma composição de sua autoria, o frevo-canção “É de fazer chorar“. Em 1960, fez parte da Terceira Caravana Oficial da Música Popular Brasileira, conforme lei do então deputado Humberto Teixeira, visando divulgar a música brasileira no exterior. Apresentou-se com o sexteto de Radamés Gnattali nas Universidades de Coimbra, em Portugal, Oxford, na Inglaterra e Sorbonne, na França. Fez também uma apresentação na sede da Unesco. Em 1962, retornou ao Brasil. No ano seguinte, gravou o samba “Maravilha morena“, em parceria com José Batista. Apesar de ter gravado baiões, frevos e outros ritmos nordestinos, seus maiores sucessos foram sambas, entre os quais “O apito no samba“, que acabou por ser o tema de futebol nos cine jornais de Carlos Niemeyer. Em 1964, passou a atuar como diretor artístico da boate Sky Terrace, no Rio de Janeiro. Mais tarde, começou a trabalhar como empresário.
Em 1975, gravou pelo selo Equipe um LP reunindo antigos sucessos e músicas inéditas. Em 1976, participou da produção de um disco de Luiz Gonzaga. O “Rei do baião” gravou diversas composições suas, entre as quais “Fulô da maravilha“, em 1976, “Onde tu tá neném“, em 1977, e “Viola de Penedo” em 1978. Em 1979, venceu o concurso musical promovido no primeiro Encontro Nacional do Frevo, o Frevança, com o frevo-canção “Linha de frente” , gravado por Claudionor Germano. No mesmo ano, suas composições “Linha de frente” e “Recife meu amor” foram incluídas no disco “O bom do carnaval”, da gravadora CID. Em 1985, participou de show no Teatro Valdemar de Oliveira, juntamente com o maestro Edson Rodrigues, dentro do projeto “Encontro às segundas”, no qual apresentou o conjunto de sua obra. Ainda em 1985, no VII Frevança, teve sua composição, “Dina“, escolhida como o melhor frevo-canção.
Foi também escolhido como melhor intérprete. Como produtor, no mesmo ano, resgatando sua obra, editou o disco “Voltei Recife”, pela Polydisc. Em 1991, editou “Como sempre fui – 50 anos de vida artística”, pela ‘Intuição’.
Nas décadas de 1980 e 90 teve diversas de suas composições gravadas por diferentes intérpretes da MPB, entre os quais Clara Nunes, com “Viola de Penedo“, Maria Bethânia, que gravou “O que os olhos não vêem“, e Alceu Valença, com “Voltei, Recife“, além de Elba Ramalho, com “Onde tu tá, Neném“.
Em 1998, recebeu homenagem no Sesi, Serviço Social da Indústria, com o lançamento do CD “Luís Bandeira: sua música e seus amigos”, com direção e arranjos de Edson Rodrigues. Em 2001 teve a música “Fulô da maravilha” relançada no CD “Duetos com Mestre Lua – Gonzagão e convidados”, interpretada pelo grupo de forró Rastapé em dueto póstumo com Luiz Gonzaga.
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