Gravadoras e sites de reprodução de música online acreditam que o novo formato combate o download ilegal
Por Valentine Herold
Na batalha constante contra a pirataria, as gravadoras enxergam nos sites de música em streaming um aliado e acolheram de ótimo grado a novidade. A Deck, de São Paulo, tem entre seus clientes artistas como Alceu Valença, Naldo Benny, Fernanda Takai, Lobão e Los Sebosos Postizos. O gerente de marketing da gravadora, Fabio Silveira, acredita que os consumidores de música não podem mais depender apenas de espaços físicos – seja uma estante ou um HD. “Pela primeira vez na história da música temos um acesso irrestrito e imediato. É possível contribuir financeiramente com a cadeia por meio de assinaturas, é uma quebra de paradigmas muito grande”, diz.
Vocalista da Mundo Livre S/A e crítico ferrenho do download gratuito, Fred Zero Quatro também enxerga na plataforma de música online uma possível mudança de postura por parte do público consumidor. “Aparentemente esses sites não fazem tanta diferença entre artistas independentes e de gravadoras e não há mais essa hegemonia do jabá. Eu fico muito preocupado com essa geração que baixa música gratuitamente sem perceber a sustentabilidade da cadeia produtiva”, aponta.
Desde o ano passado, o portal Terra deu fim ao seu site Sonora e uniu-se há menos de seis meses à plataforma Napster. O CEO global do portal, Paulo Castro, tem plena confiança no combate à pirataria por meio de streaming. “No início, as gravadoras erraram em ir disponibilizando seus produtos todos na internet de maneira livre. Vejo o streaming como algo mais vantajoso que download, significa uma universalização do acesso”, diz.
INIMIGOS
Apesar do crescente sucesso, a reprodução em streaming é alvo de duras críticas. Thom Yorke, vocalista da banda Radiohead, comparou no final do ano passado serviços de música online, mais precisamente o Spotify, com o “último peido desesperado de um cadáver”. “O que está acontecendo no mainstream é o último suspiro da velha indústria. Assim que ela finalmente morrer, alguma coisa vai acontecer”, disse ao site mexicano Sopitas. Para firmar seu posicionamento e dizendo provar que os artistas não precisam das empresas de streaming, Yorke usou como exemplo a decisão da banda de lançar o álbum In rainbows para download em seu site oficial. Os fãs podiam pagar o que quisessem para baixar o disco.
O escritor norte-americano Cory Doctorow – que participou da Fliporto de 2012 – também é conhecido por seu ceticismo em relação à execução online.Em artigo publicado em 2009 no jornal britânico The Guardian, ele chegou a escrever que o crescimento do streaming não influenciaria na decaída dos números de downloads.
A substituição do ato de baixar músicas e discos pelo de executar é debate recorrente no meio. Mathieu Le Roux acredita ser uma tendência global. “Em diversos setores cada vez mais alugamos em vez de comprar e com a música é a mesma coisa. Para mim é uma questão de mentalidade”, ressalta. Lulina acredita que as duas plataformas não competem. “O streaming é o primeiro contato que se tem com álbuns. Eu escuto e se gostar, baixo. Não quero depender da internet e acho que são dois formatos que funcionam.”
Seja contra, a favor, de graça ou pago, é inegável a presença cada vez mais crescente da música em formato streaming. Que dê o primeiro play quem nunca ouviu uma música pela internet, sem baixá-la.
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