CAPÍTULO 42
Durante os Carnavais, o camarote da WEA já era uma tradição no meio musical. Era um ponto de encontro concorrido, com um incessante entra-e-sai... Até o perverso Claude Nobs, o extravagante Rod Stewart, e o saudável Beckenbauer aterrissaram lá uma noite. Doze dúzias de garrafas de champanhe Chandon, refrigeradas numa geladeira da Coca-Cola, asseguravam o estoque de bebidas.
— Quem fala?
— Sou eu. Chris. Chris Blackwell. Estamos chegando da Jamaica para passar o Carnaval contigo. Qual é o hotel que você recomenda?
— Chris, você está brincando… Não tem lugar em hotel algum já há muito tempo. Tem quanta gente contigo?
— Somos 11 pessoas.
— Então, Chris, podem voltar para a Jamaica... A não ser que vocês queiram dormir no chão do meu apartamento!
— Deixa eu ver... Sim, todo mundo aceita.
Chris Blackwell era dono da Island Records, uma charmosa gravadora independente inglesa, que cuidava de Bob Marley, do grupo Traffic e do Cat Stevens, entre outros. Chris e eu éramos muito amigos. Eu era seu hóspede constante em Londres. Portanto, era mais do que normal oferecer a minha casa.
Dali a uma hora, chegaram com malas Chris e sua mulher, entrou Cat Stevens e entrou Leon Russell, assim como Joni Mitchell e seu baterista, e mais alguns e algumas nobrezas do Reino Unido. E quilos de maconha jamaicana para alegrar o Carnaval carioca... Cada um foi acampando, escolhendo seu canto. E partimos para a nossa primeira noite de festas, no baile do Copacabana Palace.
No dia seguinte, um dos dois casais da nobreza inglesa, não suportando a falta de conforto, foi direto para o aeroporto, rumo a Londres. Na mesma noite, durante o jantar, Chris e eu brigamos com Joni Mitchell, que maltratava impiedosamente Cat Stevens, e ela também foi embora com seu baterista para Nova York. O apartamento ficava cada vez mais confortável. No dia seguinte ao desfile das escolas de samba, restavam Chris, a mulher e uma amiga deles, uma sofisticada modelo israelita residente em Londres chamada Shoshana.
Quando Shoshana e eu começamos a namorar dois ou três dias depois, achei que, por honestidade, deveria mencionar minhas origens árabes, antes que o namoro fosse mais adiante. Levei um susto quando me respondeu com convicção:
— Ah, não diga...Você é árabe de onde? É da Síria? Se para você não tem importância eu ser israelita, para mim não tem a menor importância você ter sangue árabe nas veias. Servi no Exército em Israel durante um bom tempo e já matei muitos sírios. Eu não ligo não!
Nenhum comentário:
Postar um comentário