Ao longo deste mês completa-se um ano de ausência daquele que foi um dos maiores intérpretes da história da MPB
Por Bruno Negromonte
Por Bruno Negromonte
Emílio Santiago era um daqueles cantores que tinha um garbo todo seu e que fazia-se perceptível já na pronuncia das primeiras sílabas ou na entonação das primeiras notas ao cantar. Interprete ímpar, o artista carioca talvez não conseguisse mensurar a sua importância dentro do cancioneiro brasileiro em um país como o nosso, onde os grandes intérpretes são, em sua maioria, predominantemente mulheres. Com cerca de quatro décadas de carreira, o artista começou como muitos dos seus contemporâneos e, além de participar de diversos festivais musicais, participou também de alguns programas de televisão. Foi em um desses programas televisivos ("A grande chance", capitaneado pelo apresentador Flávio Cavalcante) que sua carreira começou a ganhar a devida projeção. Emílio chegava marcando presença a partir da gravidade e beleza de sua voz aliando a essas características precisas interpretações mostrando que ali já encontrava-se o cerne de um dos maiores cantores da história da música brasileira.
Nascido em 1946 Emílio desde jovem já tinha predileção pela música de boa qualidade e para apurar esse gosto ouvia nomes como Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto e Anísio Silva até a chegada da Bossa Nova, que arrebatou de vez o adolescente Emílio através do João Gilberto e cia. Cientes do seu talento os amigos sempre procuravam estimulá-lo a participar dos diversos concursos musicais existentes à época fazendo com que o pretenso advogado Emílio fosse vencedor na maioria daqueles que participava. No entanto seu primeiro registro fonográfico só viria a acontecer tempos depois, quando por volta de 1973 registrou em compacto as canções "Transa de amor" e "Saravá Nega" pela Polydor. Esse registro fez com que Emílio abandonasse em definitivo o desejo de exercer a carreira de advogado em detrimento a carreira de cantor. A partir daí, mesmo com o diploma de bacharel em direito na mão, resolveu investir na carreira artística cantando em várias casas noturnas no eixo Rio - São Paulo e gravando o seu primeiro Long Play, em 1975, sob produção de Durval Ferreira.
Em 1988, após gravar onze álbuns pela Polydor, Emílio recebe o convite do cantor, produtor e instrumentista Roberto Menescal para um novo projeto que ele tinha em mente e que se chamaria Aquarela Brasileira. A ideia de Menescal era gravar um álbum contendo diversos medleys de alguns dos grandes artistas brasileiros como Caetano Veloso, Paulo Vanzolini, Ari Barroso, Chico Buarque, Tom Jobim, Benito de Paula entre tantos outros. Emílio, que andava meio desiludido com a indústria fonográfica, ouviu atentamente a proposta e os apelos do ídolo e amigo mas mesmo assim decidiu que não seria o momento ideal para tal registro. Roberto não insistiu para que Emílio mudasse de posicionamento mas pediu que ele cantasse ali mesmo no estúdio algumas das pretensas canções que viria a fazer parte do álbum. Emílio assim fez e Menescal, muito vivo, registrou tudo. Essas informais interpretações renderam a Menescal o cerne daquilo que viria a ser uma das séries de maior sucesso da indústria fonográfica brasileira.
Ao ouvir tais interpretações e os diversos argumentos de Menescal e Heleno Oliveira, Santiago deixou-se levar pela proposta e aceitou fazer a releitura de clássicos como "Ronda", "Sampa", "Eu e a brisa", "Minha Rainha", "Anos Dourados", Bye bye Brasil" entre outras fazendo ali nascer a série que levaria o nome de Emílio aos mais recônditos lugares do país, a ter suas interpretações como temas de novela e conquistar prêmios diversos: Aquarela Brasileira. A série rendeu sete álbuns e vendeu cerca de 3 milhões de cópias entre 1988 e 1995, ano do lançamento do último álbum da série.
O último registro fonográfico de Emílio Santiago foi a gravação ao vivo do álbum "Só danço samba", um projeto que comemora seus quarenta anos de carreira e apresenta um tributo ao “Rei dos Bailes” ED Lincoln. Ah que bom seria se Emílio soubesse que a sua vaga dentro da cena musical do Brasil será eternamente impreenchível e pudesse voltar para suprir essa lacuna deixada por sua ausência. Pena que não é assim...
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