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segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

MÚSICA, ÍDOLOS E PODER (DO VINIL AO DOWNLOAD) - PARTE 29


CAPÍTULO 29 


A partir de 1972, a carreira comercial de Caetano, com a venda do disco Transa e, logo em seguida, com o concerto Caetano e Chico juntos e ao vivo, decolava espetacularmente. E a gravadora esperava, ansiosa, o lançamento seguinte, que, na opinião de todos, poderia chegar a vender quatrocentos mil exemplares, estabelecendo definitivamente Caetano como um dos maiores vendedores do mercado. 

Nessa expectativa, Guilherme Araújo e Caetano me informaram que ele queria gravar o próximo disco no maior sigilo. Só Caetano, os músicos e o técnico de gravação. Evidentemente, concordei. E Caetano desapareceu no estúdio. O meu entusiasmo era muito grande quando eles me mostraram a gravação já pronta e o projeto da capa, com uma provocativa foto do Caetano; na contracapa, uma magnífica fotografia de um araçá. Ouvia compenetrado, hipnotizado por tão original obra-prima, que cheguei a considerar o primeiro intento cinematográfico de fazer um disco, com seus flashbacks contrastando com canções de uma modernidade extraordinária. Era, para mim, o equivalente do Sergeant Pepper’s dos Beatles, com seu “A Day in the Life”. Menescal e Pittigliani foram apresentar o disco aos departamentos de divulgação e de vendas, e, para minha surpresa, a reação e o espanto foram tais que algumas vozes se levantaram, pedindo que o lançamento fosse sustado, e que Caetano voltasse ao estúdio para gravar um disco mais acessível. Era uma repetição do fenômeno “Chega de saudade”, 15 anos depois! 

Eu não podia me ver no papel de dizer ao Caetano que, para o departamento comercial, o disco, por ser genial demais, não se prestava à venda. Porque é de discos geniais que se vive melhor a longo prazo. Se a gente fosse perder dinheiro, eu preferia perder com um disco de extraordinária qualidade. 

Além do mais, acima de tudo, eu estava convencido de que seria um grande sucesso. Se não vendesse naquele momento, venderia mais tarde. Se não vendesse mais tarde, seria, de qualquer maneira e para sempre, uma obra ímpar no catálogo. 

O disco Araçá azul foi um retumbante fracasso: quatrocentas mil cópias colocadas nas lojas e quatrocentos mil discos espetacularmente devolvidos. O maior fracasso de vendas na história da discografia brasileira e ao mesmo tempo um dos discos mais talentosos da MPB, que, no entanto, precedeu o enorme êxito de Jóia, alguns anos mais tarde. 

De 12% de participação de mercado em 1968, a Phonogram rapidamente chegou aos 21%. Já em 1973, era a primeira do mercado. E de 8% ou 10% de perdas, subimos para 18% de lucro ao ano. A Elis estava estourada, assim como a Gal , e as trilhas de novelas, sob a supervisão do Nelson Motta, estavam no topo das paradas. O disco do boneco Topo Gigio, vindo da Itália para as telas da TV Globo, tinha se transformado no disco infantil de maior sucesso da história. Raul Seixas e Tim Maia produziam um hit depois do outro. Alcione já aparecia nas paradas de sucesso como a futura grande dama do samba; o Quinteto Violado, descoberto pelo Roberto Santana, irrompia no Rio e em São Paulo com sua modernidade; Evaldo Braga, ao morrer em um acidente de carro, ocupava as prensas da fábrica. E Odair José “tirava todas as moças deste lugar”. 

A Phonogram escolheu o Festival do Midem (Mercado Internacional do Disco e da Edição Musical) como palco para promover a exportação dos seus artistas brasileiros. Da mesma maneira que o festival de cinema de Cannes era o lugar ideal para os produtores apresentarem seus últimos filmes para as mídias do mundo inteiro, o festival de música do Midem, também sediado em Cannes, era o centro das atenções da indústria fonográfica e da edição musical do mundo todo. 

O festival durava quatro dias. Pela manhã, as gravadoras apresentavam em seus estandes seus últimos lançamentos aos visitantes interessados em distribuir seus produtos. À tarde, era a hora das palestras e conferências; e, à noite, promoviam concertos em pequenas salas de teatro, bares e restaurantes espalhados pela cidade. 

A sala de concertos do luxuoso cassino se transformava na “Noite de Gala” oficial do festival — na qual o black-tie era obrigatório — e era o palco cobiçado por todas as companhias para apresentar seus grandes cartazes do amanhã: Michael Jackson, Rod Stewart, Elton John etc. Conseguir um lugar naquele espaço era uma guerra que a Phonogram brasileira foi vencendo paulatinamente, colocando, a partir de 1967, Elis Regina , Os Mutantes , Elis — de novo — e Jorge Ben, até produzir, na década de 70, uma noite inteira e exclusivamente brasileira, com Jorge, Gil, Gal Costa e Jair Rodrigues, entre outros — os quais, depois de uma apresentação inesquecível, receberam a ovação de uma plateia de profissionais dos quatro cantos do mundo. Graças àqueles oito anos de investimentos constantes, conseguimos iniciar um programa consistente de exportação de discos para a Europa e, finalmente, para o Japão. 


/// proibido a publicação por ordem judicial ///



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