Banda formada especialmente para gravação de DVD acompanha Climério de Oliveira, Herbert Lucena, Maciel Melo, Gennaro e Dominguinhos, em uma de suas últimas gravações
Caso estivesse entre nós, Luiz Gonzaga completaria nesta sexta-feira (13) 101 anos. Em 2013, praticamente todo o país celebrou seu centenário com programas de TV, reportagens especiais, homenagens, shows, festivais. A obra desse que é um dos mais influentes artistas brasileiros vai ganhar uma publicação que analisa e sistematiza o modo gonzaguiano de fazer música. Forró: a codificação de Luiz Gonzaga, produzido e escrito pelo músico e pesquisador Climério de Oliveira, é o terceiro volume da série Batuque Book e foi viabilizado com o apoio do Funcultura e do Prêmio Funarte Centenário de Luiz Gonzaga 2012.
As edições anteriores do projeto foram dedicadas ao Maracatu (2006) e ao Cabocolinho (2010), feitas em parceria com o também pesquisador Tarcísio Resende. “Nos primeiros nós abordamos as tradições mais aurais, já o forró é uma tradição fonográfica”, conta Climério, 44 anos, que liderou esse trabalho individualmente. Sobre o termo “aural”, o músico informa que ele vem do inglês hearing (audição) e se refere ao processo de transmissão baseado na oralidade, audição e memorização, ao aprendizado “de ouvido”.
O livro Forró: a codificação de Luiz Gonzaga está dividido em duas partes. Na primeira, Climério explana o contexto social e sonoro no qual Luiz Gonzaga nasceu, cresceu e que serviu como base para o desenvolvimento da sua obra. Na segunda, o pesquisador aborda a construção dos principais subgêneros ligados ao baião, suas características rítmicas, temáticas, os instrumentos utilizados. “Fiz uma audição cronológica do uso do trio pé de serra”, comenta.
O DVD que acompanha o livro possui partituras que podem ser baixadas, um workshop com demonstrações técnicas instrumentais, comentários e execução de seis canções (Baião, Quer ir mais eu?, Forré de Mané Vito, Olha a pisada, Asa branca e no No meu pé de serra). Uma banda formada especialmente para essa gravação acompanha o próprio Climério, Herbert Lucena, Maciel Melo, Gennaro e Dominguinhos, em uma de suas últimas gravações. Os vídeos do disco têm legendas em inglês. O vídeo foi gravado e editado no Fábrica Estúdios, no bairro da Várzea, no Recife.
Forró: a codificação de Luiz Gonzaga estará disponível, a partir do início de janeiro, no site da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) (Clique aqui), em livrarias ou pode ser solicitado por meio do e-mail zambuba2@gmail.com.
Sanfona, zabumba e triângulo
Ao contrário do que muitos pensam, a formação “pé de serra” dos grupos de forró não foi a primeira a surgir. No seu livro Climério lembra que, nas suas primeiras gravações, Luiz Gonzaga usava o instrumental dos conjuntos de choro (cavaquinho, violão, pandeiro e outras percussões) mais a sanfona. “Dessa forma, ele dialogava com o mercado urbano. Em meados da década de 1950, com a ascenção da jovem guarda, da bossa nova e a queda de popularidade da música nordestina, Luiz Gonzaga simplificou o formato da banda para a sanfona, zabumba e triângulo para facilitar as viagens”.
A expressão pé de serra
Doutorando em etnomusicologia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), Climério de Oliveira trabalha com a desconstrução da dicotomia forró pé de serra X forró eletrônico. Segundo ele, Luiz Gonzaga nunca chegou a se definir como “pé de serra”. O termo surgiu nos anos 1990, como forma de distinguir o forró tradicional do eletrônico ou estilizado feito por grupos emergentes à época, a exemplo do Mastruz com Leite.
Importância da sistematização
Além de lançamentos em disco, shows e festivais, outro importante meio de divulgar a cultura de uma nação é a sistematização didática dos seus gêneros musicais. Os norte-americanos fazem isso há décadas com o jazz, blues, rock, soul, funk e heavy metal, lançando livros nos quais profissionais e amadores podem aprender como tocar esses estilos.
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