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segunda-feira, 28 de outubro de 2013

NELSON BARBALHO, 20 ANOS DE SAUDADES

Em 2013 são duas décadas sem um dos nomes mais expressivos da cultura Caruaruense

Por Bruno Negromonte


As duas décadas de saudades do caruaruense Nelson Barbalho não passarão em branco ao longo de 2013. No ultimo mês de junho foram lançadas duas homenagens a este compositor que teve entre seus intérpretes diversos nomes da música nordestina, em especial o saudoso Rei do baião Luiz Gonzaga. Dessas homenagens a primeira foi um documentário sobre o autor da canção "A morte do vaqueiro" e dirigido por Wilson Freire, já a segunda foi uma grande celebração em CD reunindo alguns dos grandes nomes da música nordestina para interpretar a sua obra.  Neste álbum produzido pelo violonista Cláudio Almeida estão 14 interpretações (dentre estas nove são inéditas) e nomes como Dominguinhos cantando A morte do vaqueiro (ele mesmo toca a sanfona, com Sandro Haick, no violão de 7, e Jerimum de Olinda na percussão), Sergio Amaral (Respeita a cara), Geraldinho Lins (Fim de festa), Rosimar Lemos (Seca Braba), Gennaro (Cabrocha véia), Quinteto Violado (Rosinha), Israel Filho (Capital do Agreste), Benil (T’aqueta Zé), Thiago Almeida (Forró do rela-bucho), Ivan Ferraz (Xote das moças), João Menelau (Coco na praia), Isaar (interpretando Maracatu de Caruaru), sem contar que o disco ainda conta com um depoimento de Nelson Barbalho sobre A morte do vaqueiro. Ambos foram batizados com o  mesmo título: Nelson Barbalho, o imortal no país de Caruaru.

A importância da obra deste compositor nascido em 2 de junho de 1918 na cidade de Caruaru para o cancioneiro nordestino, e em especial para a música produzida na capital do agreste é imensurável. Com cerca de 180 canções compostas (a maioria inédita) Barbalho soube como poucos cantar em verso e prosa as belezas do seu torrão natal e as peculiaridades de sua região. Homem de costumes simples, aposentou-se como funcionário do antigo Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência Social (IAPAS) em Pernambuco, função esta que lhe permitiu conhecer diversas cidades do interior do estado em que nasceu. Nestas viagens observava costumes, recolhia informações e se imbuia de modo substancial para retratar em verso e prosa tudo aquilo que deixou como legado.


 Se com Luiz Gonzaga teve a oportunidade de compor o seu maior sucesso em homenagem ao primo de Gonzaga Raimundo Jacó (A morte do vaqueiro) e nele encontrou o mais notório dos intérpretes, é preciso destacar também a importância do maestro Joaquim Augusto, parceiro este com quem escreveu boa parte de sua obra como compositor. Da parceria com Joaquim surgiram canções como "Comício no Matão", "Rosinha", "Xote do véio", "Xote das moças", "Sertão sofredor", entre outras sendo muitas dessas canções registradas pelo saudoso Gonzagão, que teve contato com a obra de Nelson Barbalho nos idos anos da década de 1950 quando teve a oportunidade de gravar uma parceria de Barbalho com o caruaruense Onildo Almeida, um baião cujo título fazia homenagem a terra natal de ambos e chamava-se "Capital do agreste". Essa parceria foi registrada em 21 de março do ano de 1957 e deu início a gravação de uma série de composições do autor caruaruense por Luiz Gonzaga que estendeu-se até a década seguinte e deixou um legado de cerca de 8 canções imortalizadas na voz do Rei do baião. Joaquim Augusto faleceu em 1984 fazendo com que Barbalho optasse por também não mais compor tamanha era a importância do maestroneste processo.


Segundo Valéria Barbalho, filha de Nelson, boa parte da obra do pai foi enviada em partituras para a Ilha do Governador, onde morava Luiz Gonzaga. Foram quase duas centenas de músicas de onde Gonzaga não chegou a registrar nenhuma dúzia, no entanto com o falecimento do cantor (em 1989), as demais foram dadas como perdidas. No ano passado, mexendo nos arquivos nelseanos, encontrei um velho envelope amassado, contendo músicas originais da dupla. Descobri partituras desenhadas por Joaquim e letras anexas, datilografadas por Nelson com sua velha Remington, todas amareladas pelo tempo, feitas para Gonzagão”, Diz Valéria.


Além de compositor, Nelson Barbalho exerceu a função de lexicógrafo, historiador, pesquisador, jornalista e chegou a publicar quase uma centena de livros dentre os quais destacam-se Cronologia pernambucana (com vinte volumes publicados dos quase cinquenta que compõem a obra), perto de vinte livros sobre Caruaru (Meu povinho de Caruaru, Major Sinval, Caruaru do meu tempo, etc.) e outros trabalhos folclóricos como Dicionário da Cachaça, Dicionário do Açúcar, sem contar vários ensaios publicados em jornais e revistas especializadas, na qualidade de estudioso da história e costumes do povo do Nordeste.

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