O sanfoneiro era conhecido pelo temperamento tranquilo e amistoso, além de sempre reunir a classe artística nas festas em seu quintal
Por NE10 e Pernambuco.com
A primeira homenagem ao sanfoneiro Arlindo dos 8 Baixos já foi marcada: será nesta-quinta-feira pela manhã. O corpo do artista deixará a capela do Instituto Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), às 8h, quando será transferido em carro do Corpo de Bombeiros. O destino será a Câmara dos Vereadores do Recife, onde será recebido por um grupo de sanfoneiros.
Segundo o produtor Roberto Andrade, que trabalhou com Arlindo nos últimos anos, o velório continua até às 16h. O sepultamento está marcado para as 17h, no cemitério de Santo Amaro.
Ainda de acordo com o produtor, o Forró de Arlindo, que funciona há mais de uma década em Dois Unidos, ficará fechado até depois do carnaval. "Talvez a família decida diferente depois, por razões financeiras, mas, em princípio, vamos antecipar o recesso de dezembro para agora", explica. "Como amigo, ainda não senti que ele morreu, não assimilei".
Muito abalada, a eposa do sanfoneiro, Odete Regina de Macedo, 65 anos, falou um pouco sobre os 45 anos de casamento com Arlindo: "na saúde e no final da vida dele, sempre estive junto em tudo. Sempre acompanhei ele como músico e ela muito bom, como músico e pessoa".
O prefeito do Recife, Geraldo Julio, lamentou o falecimento do sanfoneiro: "É mais uma grande perda que temos, de um mestre da cultura pernambucana. Arlindo vai ficar nas nossas memórias, ao lado de Dominguinhos e Luiz Gonzaga, como guardiões da música nordestina e do que a sanfona representa para o nosso povo. Aos familiares, amigos e admiradores, uno a minha solidariedade neste momento doloroso".
O governador Eduardo Campos também manifestou apoio:"Perdemos hoje mais um grande expoente da cultura popular pernambucana. Arlindo dos 8 Baixos deixa uma lacuna irreparável, mas também um legado musical que permanecerá vivo em nossas memórias. Gostaria de expressar minha solidariedade e de minha família para todos os familiares e amigos de Arlindo, esse grande músico e símbolo da cultura nordestina".
A presidente da Sociedade dos Forrozeiros de Pernambuco, Tereza Accioly, afirmou que a morte de Arlindo deixou toda a classe muito triste. "É uma perda irreparável. Por ser muito querido, as festas do Forró do Arlindo (bairro de Dois Unidos), que aconteciam no quintal da casa dele, serviam de ponto de encontro entre os artistas do Estado", disse Tereza, lembrando que neste ano de 2013 o forró pernambucano perdeu quatro grandes artistas. "De julho até hoje, faleceram Dominguinhos e os sanfoneiros Duda da Passira, Juarez e Arlindo. O ano está sendo duro", lamentou.
Para o cantor Santanna, Arlindo "era um homem que acreditava e amava o que fazia. Foi um grande músico, que abraçou um instrumento muito complicado de tocar. Ele era um mestre. Tinha o que chamamos de ouvido absoluto, identificava o tom da música só no falar. É um dos poucos instrumentistas a ganhar um disco de ouro. O forró vai sentir a sua falta. Perdi um amigo", disse Santanna, que ganhou de Arlindo uma música do álbum A Arte do Abraço, lançado em 2008.
Maciel Melo disse que Arlindo dos Oito Baixos teve um papel importante na sua carreira. "Quando cheguei ao Recife, ainda desconhecido, ele abriu as portas da sua casa, onde realizei vários shows. Arlindo deu espaço para muitos músicos, era uma pessoa generosa, além de ter um talento brilhante", disse.
Patrimônio
O músico, considerado Patrimônio Vivo de Pernambuco desde o ano passado, deixa esposa e quatro filhos. Arlindo era diabético e hipertenso há 40 anos. Por causa da doença, que piorou nos últimos cinco anos, o artista já havia perdido a visão e amputou as duas pernas. Arlindo também sofreu um acidente vascular cerebral (AVC). O São João de 2012 foi o primeiro, em 50 anos, que o sanfoneiro não se apresentou, por motivos de saúde.
Filho mais velho de Arlindo, Raminho da Zabumba, disse que o pai sempre demonstrou muita vontade de viver, “mas já aparentava cansaço. Hoje, durante o café-da-manhã, ele reclamava de dores no braço”, contou o músico, informando que o pai faleceu de parada cardíaca enquanto fazia uma sessão de hemodiálise. Raminho lembrou ainda que uma a última apresentação do pai foi na Caminhada do Forró, em junho deste ano. "Ele conseguiu tocar duas músicas, uma delas o Hino de Pernambuco que ele gostava muito", lembrou.
"Tive a oportunidade de conversar com meu pai nesta manhã. Ele estava tranquilo, porém trocamos poucas palavras. Nos últimos dias, ele parecia cansado. Lutou muitos anos pela vida e agora descansou. Vou sentir muita falta da sua tranquilidade e amor", disse o percussionista Arlindo Júnior, mais conhecido com Raminho, filho do sanfoneiro. "Além de pai, ele foi a minha referência musical. Nasci ao lado de vários instrumentos e ele me deixou livre para escolher o que eu desejava tocar. Ele me apresentou ao baião, xote, chorinho, samba e vários outros ritmos", disse.
(Com informações do repórter Pedro da Hora)
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