A partir de outubro, quem ganha até cinco salários mínimos por mês poderá ser beneficiado com a verba mensal. Subsídio será concedido pelas empresas e revertido pelo governo com abatimento no IR
Por Sávio Gabriel (Diário de Pernambuco)
O advogado Ricardo Alves, 25, calcula um gasto médio mensal de R$ 200 com livros, cinema e teatro. Ele diz que a iniciativa é válida, já que estimula o hábito de se consumir cultura. Foto: Roberto Ramos/DP/D.A Press |
O que você conseguiria fazer, em um mês, com R$ 50 para ir ao cinema, ao teatro, visitar museus ou comprar CDs, DVDs, livros e até instrumentos musicais? É bom ir pensando, porque a partir de outubro alguns trabalhadores que ganham até cinco salários mínimos (R$ 3,39 mil) vão receber o Vale-Cultura, benefício do governo federal para estimular o consumo de produtos e serviços culturais. O incentivo é facultativo, mas as empresas que aderirem ao projeto vão receber uma dedução de 1% no Imposto de Renda. O Diário fez os cálculos, e mostra a você como aproveitar o benefício da melhor maneira.
Pode parecer pouco, mas se houver planejamento financeiro é possível, sim, aproveitar algumas das opções de lazer que há na Região Metropolitana. Se você é daqueles que não dispensa o bom e velho cinema, por exemplo, vai encontrar preços mais acessíveis nos estabelecimentos de rua, como o São Luiz, o cinema da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e o Cine Rosa e Silva. Nos fins de semana, o valor médio do ingresso é de R$ 9,30 (inteira). Nos cinemas de shopping (Multiplex), a média dos preços é de R$ 20. Isso significa que você pode assistir a cinco sessões nos fins de semana, se optar pelos cinemas de rua, enquanto a frequência aos Multiplex será de apenas duas vezes por mês.
Inclusive, essa é a mesma quantidade de peças teatrais que você pode assistir com o vale-cultura, se levarmos em consideração que o preço médio das entradas gira em torno dos R$ 20. Caso queira aproveitar para conhecer os museus da cidade, aí vai uma boa notícia: a maioria deles tem entrada gratuita, e o ingresso dos outros não ultrapassa R$ 2. Os tradicionais shows artísticos, que também são inclusos no benefício, custam, em média, R$ 25 (preço dos setores mais baratos). Já se você gosta de comprar CDs ou DVDs, é possível adquirir dois de cada (adotamos um preço médio de R$ 18 e R$ 25, respectivamente).
Os livros possuem preços relativos, mas dependendo do valor, você pode comprar dois ou três títulos a cada mês. O advogado Ricardo Alves, 25, por exemplo, diz que gosta de comprar vários, apesar de ter diminuído a quantidade nos últimos meses. “O valor pesa muito. Com o benefício, eu poderia, por exemplo, aumentar as minhas aquisições. Poderia também comprar mais CDs”, afirma o jovem, que gasta, em média, R$ 200 por mês com atividades culturais. “Toda semana, vou ao cinema uma vez, pelo menos. Também costumo ir ao teatro, além de participar de atividades gratuitas”, explica. Ele acredita que a iniciativa é válida, principalmente para inserir pessoas no consumo cultural recifense.
Segundo o professor de economia da Faculdade Boa Viagem Uranilson Carvalho, o valor do benefício supera os gastos mensais do recifense com cultura. “Realizamos um estudo e percebemos que as pessoas gastavam menos de R$ 50 com itens culturais”, destaca, afirmando que o alto preço dos serviços foi o que mais pesou para a população (29% afirmaram que as finanças eram o fator que mais influenciava).
Ele ressalta, ainda, que o governo precisa adotar políticas que estimulem outras modalidades culturais. “Não adianta apenas dar o dinheiro. As pessoas vão acabar consumindo com o que são mais acostumadas”, opina. No estudo, realizado em 2009, descobriu-se que os recifenses frequentavam mais os cinemas e os shows. “São setores já consolidados na região. É preciso incentivar o teatro, o artesanato, entre outros”, finaliza.
O natural é que as pessoas variem os programas. “Se houver um planejamento financeiro, ela pode ir ao teatro e ao cinema. Ou então, comprar um CD e uma peça de artesanato”, exemplifica Uranilson. Como o benefício é cumulativo, se você quiser pode guardar o valor. Em 12 meses, dá para acumular R$ 600. Com este preço, é possível adquirir um violão, um cavaquinho ou até uma flauta. Será possível, ainda, custear mensalidades de alguns cursos, como os de dança, circo, fotografia, música, teatro e literatura. Os estabelecimentos interessados em aceitar o vale precisam se cadastrar no site do Ministério da Cultura.
Empresas apostam no aumento da demanda
De olho nos novos consumidores, muitas organizações que atuam no segmento cultural acreditam que a demanda deve crescer quando o benefício estiver vigorando. “O cinema sempre é uma alternativa, e os baixos preços devem fazer os nossos serviços serem bastante requisitados”, explica a diretora de Memória, Educação e Cultura da Fundaj, Silvana Meireles. Apesar disso, ela acredita que os reflexos não serão sentidos imediatamente. “É preciso que as pessoas criem a cultura do consumo, em primeiro lugar. Só depois é que devemos sentir isso nas bilheterias”.
Já o presidente da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), Severino Pessoa, acredita que o benefício vai aumentar o número de visitantes no São Luiz, mas que o impacto na receita mensal será pouco. “O preço do ingresso é muito barato (R$ 4), sem falar que há muitas ações gratuitas”, justifica. A Câmara Brasileira do Livro (CBL) projeta um aumento de 5% na venda de publicações. A expectativa é que cada pessoa adquira, pelo menos, um livro por mês.
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