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sexta-feira, 23 de agosto de 2013

PERNAMBUCO, EU PROMETO E NÃO VOU LHE FALTAR!

Por Abílio Neto



Ele não faltou, mas Pernambuco sim!

É inegável que o Mestre Dominguinhos gostasse muito de Pernambuco, sua terra natal, embora tenha preferido fixar residência em São Paulo, capital, onde morava no bairro nobre do Morumbi, mesmo sendo uma pessoa de hábitos simples. Ele nunca faltou a Pernambuco, mas na hora da sua despedida, Pernambuco ficou lhe devendo muito.

Dominguinhos já não tinha voltado de vez para Pernambuco porque a sua filha Liv e a sua ex-mulher, Guadalupe Mendonça, moravam também em São Paulo. E assim ele foi ficando por lá. Quando voltou de vez, infelizmente estava morto.

Lembro que poucos dias depois de a cantora Marinês ter falecido, em 14/05/2007, Dominguinhos esteve nos estúdios da Globo Nordeste, em Recife, no programa NE/TV, quando foi perguntado o que sentia em relação à conterrânea. O homem desabou num choro que contagiou a todos que assistiam aquele programa. É que ele gostava muito dela e de seu marido Abdias, este falecido em 03/03/1991. A recíproca do casal era verdadeira.

Em 1973, Marinês gravou um fabuloso LP intitulado “Só pra machucar” composto somente por preciosidades e um dos pontos altos do disco foi um presente que recebeu: a música “É Tempo de Voltar”, da famosa dupla Dominguinhos e Anastácia. Esse disco tem quatro músicas da dupla, inclusive a primeira gravação de “Eu Só Quero um Xodó”, em ritmo de arrasta-pé.

Que me perdoem os demais parceiros, mas Anastácia para mim está presente nos melhores momentos de Dominguinhos como compositor no gênero forró e até fora dele. “Contrato de Separação” e “Preconceito” são belos exemplos do que falo. Ela é uma letrista de mão cheia, usa palavras simples, porém suas sílabas são extremamente musicais. Desfeita a união com ela, na música e no amor, Dominguinhos até tentou na década de oitenta fazer de Guadalupe, sua então mulher, de substituta de Anastácia.Várias composições surgiram, mas nenhuma com aquela chama ou apego que faz uma música ter sucesso, apesar de ser Guadalupe uma boa cantora conforme demonstrou nos quatro LP que gravou na década de oitenta.

Em 25/07/2013, Dominguinhos voltou para Pernambuco a fim de ser homenageado pelos seus conterrâneos, indo depois para sua derradeira morada. Mas essa homenagem dos pernambucanos não foi proporcional àquela que merecia o artista pernambucano escolhido por Luiz Gonzaga para sucedê-lo. Ele, além de ter cumprido seu papel com perfeição, deu vários passos à frente do Mestre de Exu. Se os pernambucanos não foram indiferentes em relação ao velório e enterro do sanfoneiro, eu não sei mais o que é indiferença! Pouquíssimas pessoas (muito aquém do esperado) foram ao velório. É interessante que a Polícia Militar não tenha sido consultada para revelar os números porque assim a nossa vergonha ficou menor. Cheguei ao velório por volta de 14 horas e não havia um piedoso cristão na fila para lhe render tributo. Na saída do caixão, às 17 horas, avalio algo em torno de 1.000 pessoas em frente à Assembleia Legislativa de Pernambuco. Vi na noite do mesmo dia, o jornal NE/TV da Globo Nordeste que nem se dignou a colher imagens do público. O mesmo aconteceu na chegada do cortejo fúnebre ao cemitério Morada da Paz. Mas disso aí não se tem o que falar. Paulista não tem nada a ver com Dominguinhos.

Ontem, Guadalupe Mendonça, ex-esposa de Dominguinhos, que vive em união estável com o guitarrista Sandro Haick há vários anos, escreveu no Facebook que não sabia onde ficava o cemitério Morada da Paz. Acreditemos! Assim como devemos acreditar que ela é a viúva dele...

Então, fica registrado o meu desabafo de que Recife confirmou a sua fama de “cidade cruel”. Dominguinhos não merecia isso. Por que fizeram isso com ele? Foi falta de respeito e sentimento para com este grande ídolo que se foi. A mídia também contribuiu para tanto. Vocês vão ver quando Roberto Carlos morrer que a TV Globo e outras não falarão de outro assunto por vários dias. Já foi assim quando morreu o Leandro, aquele que fazia dupla com o irmão Leonardo. Lembram que até a programação normal da Globo foi suspensa? E não se pode comparar Dominguinhos com esses dois. Para quem entende de música ele é infinitamente superior, embora Roberto diga que “esse cara sou eu”!



Então, meus prezados amigos artistas, se vocês quiserem milhares de pessoas no seu enterro adotem desde já o gênero sertanejo ou “brega-romântico”. Ou então façam também essas coisas que saem no programa da Regina Casé e se tornam midiáticas, porém (para mim) sem nenhum valor artístico e cultural.

Nada mais apropriado para se ouvir no 30º dia do falecimento do Mestre de Garanhuns do que a música “É tempo de voltar”, com Marinês e seu marido Abdias (na sanfona), a fim de que recordemos desses dois pernambucanos fantásticos e saudosos, Marinês e Dominguinhos. É lá que está a frase musical: “Pernambuco eu prometo/ E não vou lhe faltar...”

Ao tempo em que esta música foi lançada, em 1973, Dominguinhos vivia maritalmente com Anastácia (embora casado com Janete) e Marinês ainda era casada com Abdias. Os quatro moravam na cidade do Rio de janeiro. Acho lindíssimo esse baião. É a exaltação de Pernambuco feita pelos seus filhos queridos, um dos quais conheceu em 25 de julho deste ano a famosa indiferença dos seus conterrâneos. Que Deus o tenha, Mestre!

Ouçamos a música “É tempo de voltar” enquanto passam algumas imagens marcantes de sua vida que eu consegui “arrastar” para o vídeo. Começa com “Os Três Pinguins” e Dominguinhos de pandeiro na mão. É bom lembrar este sucesso dele e Anastácia na voz da sempre querida Marinês.

Nota: O Mestre Abdias Filho era natural da Paraíba e a grande Anastácia, que é pernambucana, está viva, graças a Deus.

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