Rolando Boldrin é conhecido como um dos maiores contadores e divulgadores de “causos”, que ouvia quando era criança em São João da Barra, no interior de São Paulo, e que transformou numa de suas principais marcas, seja a frente do programa Sr. Brasil, que comanda na TV Cultura desde 2005, seja em livros, sendo que História de contar o Brasil – um carroção de causos é o mais recente.
Ele lembra que os escritores não tiveram interesse em dar continuidade a essa cultura escrita criada por nomes como Cornélio Pires, Waldomiro Silveira e Amadeu Amaral, entre outros.
Ronaldo Boldrin tem longa trajetória na revalorização da cultura caipira, como ator de cinema e televisão, e também como cantor e apresentador de rádio e televisão. Ele lamenta, porém, o que tem acontecido com esse universo cultural nas últimas décadas, com relação à denominada música sertaneja.
O começo da carreira de apresentador e incentivador das culturais regionais brasileiras foi na TV Tupi na década de 1970, mas o grande destaque veio mesmo em 1981, quando assumiu o Som Brasil, apresentado pela TV Globo, nas manhãs de domingo. Ele ficou a frente do programa até 1984.
No que História de contar o Brasil – um carroção de causos se diferencia dos seus outros livros?
O primeiro é uma coisa biográfica (um álbum lindo com fotos) contando meus 50 anos de carreira. Os outros livros são causos engraçados que conto na TV.
Como surgiu seu interesse pela cultura do interior do Brasil? Era comum escutar essas histórias quando era criança em São Joaquim da Barra?
Muito comum. Sempre gostei de ouvir e recontar histórias. E naturalmente transformar as histórias com desfechos engraçados, em causos.
Você nota uma unidade temática nos causos contados no interior? Se sim, qual seria?
São histórias de personagens tipicamente brasileiros. O barbeiro, o farmacêutico, o padre, o delegado, o prefeito e até o vendedor de cavalos.
Como avalia sua participação na valorização dessa cultura e também da música caipira brasileira?
Minha primeira experiência musical foi por meio da música caipira. Na minha infância, era uma coisa pura, singela e criativa por meio de grandes artistas do rádio. Alvarenga e Ranchinho, Jararaca e Ratinho, Tonico e Tinoco, Torres e Serrinha... Enfim, um punhado de duplas que ficaram na história. Esta música foi se descaracterizando e se desvalorizando por conta da comercialização fonográfica e dos apelos dos novos intérpretes que rotularam a mesma de sertaneja. Nos causos, os escritores não tiveram interesse em dar continuidade a essa cultura escrita criada por Cornélio Pires e alguns outros escritores desse seguimento caipira. À exemplo de Waldomiro Silveira, Amadeu Amaral e outros.
Qual foi a importância de ter apresentado o Som Brasil e que heranças acredita ter levado dele para o Sr. Brasil?
O Som Brasil foi um projeto meu. Não tem a mão da Globo em nada. Era e sempre será o meu projeto de vida. Estamos no ar com o mesmo projeto apenas com outro título. Sr. Brasil, pela TV Cultura. Aliás, onde este projeto poderia e deveria ter nascido há 32 anos. Sempre quis mostrar ao Brasil que a nossa música não é só o samba e nossos poetas e artistas trabalham independentemente da grande mídia.
Você diferencia a música caipira da atual música sertaneja? Por quê?
O termo sertanejo para esta música de alto consumo é enganoso. Música sertaneja é a música nordestina. A nossa caipira está quase em extinção.
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