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segunda-feira, 12 de agosto de 2013

COMPUTADORES FAZEM ARTE. ARTISTAS FAZEM DINHEIRO?

Por Leo Morel


Música no computadorO aumento gradual das vendas de música no formato digital e a disseminação dos serviços de streaming apontam para novas possibilidades de se produzir, divulgar e consumir música, gerando oportunidades e desafios para o ouvinte, gravadoras e artistas de todos os portes. Enquanto as vendas registradas mundialmente pela indústria da música obtiveram seu primeiro crescimento desde 1999, mesmo que bem discreto, de 0,3% (dados da International Federation of the Phonographic Industry - IFPI, disponível em: http://www.ifpi.org/content/section_resources/rin/rin.html), no Brasil, esse crescimento foi de 5,13%, com um aumento impressionante de 83% nas receitas com música digital (dados da Associação Brasileira de Produtores de Discos - ABPD:http://www.abpd.org.br/noticias_internas.asp?noticia=240).

Além de mostrar mudanças no comportamento do ouvinte brasileiro, que vem gradativamente pagando para ouvir música no formato digital, esses números estão relacionados à disseminação de ferramentas de divulgação e de vendas de música que geraram novas oportunidades para artistas e gravadoras no Brasil e beneficiaram, principalmente, o ouvinte.

A introdução da tecnologia de streaming no Brasil, na qual o usuário paga uma assinatura para ouvir música sem a necessidade de arquivar seu conteúdo, traz a possibilidade de acesso a um vasto acervo musical de forma legal. Enquanto que o sueco Spotify é referência desse modelo na Europa, no Brasil, o Rdio vem ganhando mercado e aumentando seu acervo musical conforme acordos com as editoras e gravadoras vem se concretizando. Uma das bases de sucesso dessa nova tecnologia é a possibilidade de acessar esse serviço em qualquer dispositivo eletrônico portátil como telefones celulares e tablets e agregá-los às redes sociais digitais como o Facebook. A portabilidade e o fácil acesso à música são desejos do ouvinte do século XXI e o sucesso do streaming está diretamente associado à adoção dessa tecnologia que satisfez essa demanda. 

Para as gravadoras e selos, o sinal de uma possível retomada do crescimento do setor está calcado no aumento das vendas de música em formato digital em plataformas comoiTunes e iMusica, e dos serviços de streaming que lhes gera retorno por meio do licenciamento das músicas dos artistas de seus catálogos. Além disso, o barateamento do custo de armazenamento digital gerou a possibilidade de trabalhar com um número quase ilimitado de artistas, por conta das vantagens que o formato digital apresenta em comparação ao físico. 

A música digital apresenta menores custos de produção se comparado com o formato físico, no qual os custos de armazenamento, distribuição e embalagem também são acrescidos à sua cadeia produtiva, por exemplo. Com o formato digital, o somatório das vendas de música de artistas com menores expressões de mercado passou a ganhar atenção da indústria fonográfica. Se até pouco tempo as gravadoras focaram suas atenções nas grandes vendas, hoje em dia também é vantajoso obter receita em decorrência do somatório da movimentação gerada por artistas que não são hits. Esse fenômeno, denominado como Cauda Longa pelo escritor Chris Anderson, pode ser mais bem compreendido através do gráfico abaixo:
Cauda Longa

















E, finalmente, para os artistas, as vantagens de uma divulgação rápida e direta proporcionada por plataformas como Rdio, Spotify, iTunes e YouTube, é que geram uma relação direta com o ouvinte. Porém, ao analisar a remuneração repassada aos artistas por estas tecnologias, percebe-se que também no formato digital os artistas são os menos beneficiados. A banda norte-americana Dead Kennedys, por exemplo, divulgou ter recebido algumas centenas de dólares pelas 14 milhões de visualizações de suas músicas no youTube: (http://www.digitalmusicnews.com/permalink/2012/120930deadkennedys ). Outro caso é o do Spotify, que tem cerca de 24 milhões de assinantes e transfere 70% de sua receita aos detentores dos direitos autorais das músicas executadas. Aos artistas, normalmente a parte mais frágil nesse tipo de operação, também fica direcionada a menor fatia desse bolo.

O descontentamento dos artistas com a remuneração gerada por essas novas tecnologias é global; músicos e compositores, que se sentiram explorados pelo modelo da indústria fonográfica do século passado, também têm muito o que queixar nos dias de hoje. Novos agentes surgiram e se desenvolveram na indústria da música não oferecendo, na opinião de muitos artistas, uma parcela justa das receitas geradas. E o que agrava esse quadro, ao menos em território brasileiro, é a falta de comprometimento e de união dos profissionais da música com relação a essas questões.

Essa divisão enfraquece qualquer poder de barganha para se negociar parcelas maiores da divisão das receitas obtidas por esse mercado, tornando a profissão do músico, compositor e letrista cada vez mais vulnerável. Com exceção de um restrito grupo de artistas que está engajado em importantes questões, como as da reforma da Lei dos Direitos Autorais e a do papel do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD), a maioria parece, como avestruz, preferir ignorar a polêmica. Essa falta de comprometimento e engajamento, tão necessários nesse período de mudanças pelo qual a indústria da música vem passando nos últimos anos, não contribuem em nada para o fomento de um setor musical mais justo e produtivo.

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