Por Eduardo Tristão Girão
"Gravar pela ECM representa muito pelo prestígio e ampla visibilidade, possibilitando à minha música chegar a lugares mais distantes%u201D, Alexandre Gismonti, violonista e compositor O violonista e compositor carioca Alexandre Gismonti vai gravar seu primeiro disco solo pela prestigiada gravadora alemã ECM, referência em música instrumental desde os anos 1970. Inegavelmente, contribuiu para esse feito o fato de ser filho de um dos maiores compositores brasileiros vivos, Egberto Gismonti, mas é preciso levar em conta que Manfred Eicher, fundador da empresa, não é um executivo qualquer: se envolve pessoalmente em cada produção e só trabalha com artistas nos quais realmente acredita, tendo forjado a estética conhecida como “ECM sound”.
Não é pouco. O artista de 32 anos se juntará, no catálogo da gravadora, a lendas internacionais como Anouar Brahem, Pat Metheny, Keith Jarrett, Chick Corea e o próprio Egberto (que tem mais de 30 discos lá), para ficar em apenas cinco nomes. Na verdade, o nome de Alexandre já figura por lá em razão do álbum 'Saudações' (2009): duplo, tem um disco gravado por Egberto com a orquestra Camerata Romeu e outro com pai e filho tocando violão juntos, incluindo uma peça de Alexandre, 'Chora Antônio'.
“Por causa do disco 'Saudações', tive contato com a equipe toda da ECM. Em 2009, eu e meu pai fomos fazer concerto na Alemanha, dedicado ao Manfred, que convidou os artistas que mais representavam o gosto dele. Conheci toda a equipe pessoalmente, o que é muito diferente”, conta Alexandre. No ano seguinte, ele saiu em turnê pelo exterior com outros três violonistas pelo projeto International Guitar Night (IGN), tocando praticamente todo dia suas próprias músicas por mais de um mês – o que nunca fez no Brasil.
Como resultado, três músicas suas foram lançadas no quinto disco do IGN, em 2010, sucedendo 'Baião de domingo' (2009), seu álbum de estreia gravado com Mayo Pamplona (baixo) e Felipe Cotta (percussão). “Ao final desse processo, tinha material enorme e comecei o bate-bola com a ECM. Mandei umas músicas minhas para o Manfred, que é uma ‘espécie em extinção’ pela forma como trabalha. Foi uma proeza ter tocado o gosto dele e motivado a criarmos juntos. Com certeza, muito será transformado com esse trabalho em conjunto”, afirma.
Será um disco só de violão – ou melhor, violões, todos tocados por Alexandre. Ainda sem título, o trabalho terá 10 ou 12 faixas, com solos, duos, trios e quartetos de violão. O artista viajará este ano para a cidade alemã de Mannheim para iniciar a gravação. “Essa coisa de colocar mais violões é para expressar o que quero, pois as ideias algumas vezes são muitas. Na maioria das vezes, a música que penso já vem acompanhada por outras ideias. É um pensamento mais polifônico, mais grandioso”, justifica.
Entre as referências do disco, conta ele, estão violonistas do IGN, como o italiano Pino Forastiere, o inglês Clive Carroll e o norte-americano Brian Gore, com quem gravou o disco do projeto. “Muitos deles tocam violão com cordas de aço, que representa outra linguagem, com outras harmonias e afinações, além de técnicas como tapping. Influenciaram-me bastante”, explica. Nas gravações, ele usará exclusivamente cordas de náilon.
Caminhos
Um dos seus sonhos, revela Alexandre, é escrever para orquestra: “O trabalho de composição é o que mais gosto de fazer e, para o compositor, um instrumento só é pouco”. Além disso, o violonista também tem admiração pela música popular e, inclusive, tem feito canções com parceiros como Moyseis Marques e Marcos Campelo – não descarta a ideia de lançar um disco com essas músicas. Ele já soltou a voz em alguns de seus shows e, desde o ano passado, estuda canto.
“Sou apaixonado pela variedade da música brasileira. Tenho composições inspiradas no choro, que já estudei muito. Tenho ascendência nordestina pelo lado da minha mãe e a música de lá também é muito rica. Já fui ouvir choro e chula, por exemplo, e como são estilos que vêm da percussão, adaptar isso para o violão é muito interessante. Cada grande artista é como uma universidade. Gilberto Gil, Baden Powell, Dorival Caymmi, Egberto, Guinga. A lista é interminável”, elogia. Fã do violão mineiro, Alexandre revela uma curiosidade: sua mulher, a atriz Alice Steinbruck, é prima do violonista Thiago Delegado.
Alexandre em três momentos
'Saudações' (2009)
Intitulado 'Duetos de violões', o segundo disco de 'Saudações' registra encontro de Egberto e Alexandre no Rio de Janeiro entre abril e maio de 2007. Performances inspiradas dão o tom das 10 faixas. Dos principais trabalhos do pai veio a maioria delas: 'Lundu', 'Mestiço & caboclo', 'Dois violões', 'Palhaço' (solo de Alexandre), 'Dança dos escravos', 'Zig zag' e 'Carmen'. Inéditas ficam por conta de 'Chora Antônio' (composta pelo jovem violonista) e da faixa-título, que encerra o álbum.
'Baião de domingo' (2009)
Gravado com Mayo Pamplona (baixo) e Felipe Cotta (percussão), o disco expõe a admiração de Alexandre pela música nordestina. De sua autoria, apresenta 'Arrasta-pé' e 'Forrozinho'; entre as reinterpretações há 'Asa branca' (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) e 'Feira de Mangaio' (Sivuca e Glorinha Gadelha). A sonoridade de seu violão reflete a sua formação clássica ao instrumento.
Criado pelo violonista norte-americano Brian Gore, o International Guitar Night promove encontros entre músicos que se dedicam ao instrumento pelo mundo. Convidados por Gore, os músicos se apresentam em diferentes formações, privilegiando a diversidade e o virtuosismo. Este volume conta com Pino Forastiere, Clive Carroll, Alexandre Gismonti e o anfitrião.
Em Família
Além da carreira solo, Alexandre Gismonti segue trabalhando com o pai, acompanhando-o em apresentações internacionais. Egberto tem sido procurado para ser tema de documentário e está com vários lançamentos de disco em vista, entre eles um registro de apresentação no Japão que poderá ser seu primeiro DVD. Já a pianista Bianca, irmã de Alexandre, continua trabalhando com a também pianista Claudia Castelo Branco e ultimamente as duas têm trabalhado em torno de canções de Chico César.
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