O compositor, poeta, filósofo e escritor Antonio Cicero coleciona parceiros como Adriana Calcanhotto, João Bosco, Lulu Santos, Waly Salomão e Marina Lima; e volta a lançar um livro de poemas, Porventura, o que não acontecia desde A cidade e os livros, de 2002. “Desejo / Só o desejo não passa / e só deseja o que passa / e passo meu tempo inteiro / enfrentando um só problema: / ao menos no meu poema / agarrar o passageiro”. Esse é um dos poemas presentes em Porventura.
Outra área de interesse é a filosofia, a qual começou a cursar na Pontifícia Universidade Católica (PUC), do Rio de Janeiro, passando em seguida pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e concluindo, devido a problemas com o regime militar, na Universidade de Londres, na Inglaterra, em 1969. Depois, em 1976, fez pós-graduação na Georgetown University, nos Estados Unidos, estudando grego e latim.
Professor de Filosofia, Lógica, Estética e Teoria da Arte, Cicero é autor dos ensaios O mundo desde o fim, um reflexão filosófica a respeito da modernidade; e o recém-lançado Poesia e filosofia.
Muitos poemas de Antonio Cicero viraram letras de música, caso de Os ilhéus, musicado por José Miguel Wisnik. Também é o autor de sucessos como Virgem, parceria com a irmã Marina Lima; Inverno, com Adriana Calcanhotto; e À francesa, com Cláudio Zoli, nos quais considera ter alcançado o ideal na relação entre música e letra/poesia.
Em 1971, ele lançou um CD onde recita os próprios poemas, Antonio Cicero por Antonio Cicero e bem mais tarde, em 2002, participou, junto a Gabriel O Pensador, Chico Buarque, Ronaldo Bastos e Fernando Brant, de uma coletânea de quatro CDs em homenagem a Carlos Drummond de Andrade.
O poemas de Porventura são todos inéditos e recentes, ou foram escritos ao longo dos últimos 10 anos?
Relendo os poemas que escrevi nos últimos dez anos, achei que, alterando alguns deles, excluindo outros, e escrevendo ainda outros, eu teria um livro. Foi o que fiz. Não foi o tema, mas a qualidade dos poemas que determinou minhas escolhas.
Sua poesia ficou conhecida ao ser musicada principalmente por sua irmã Marina Lima. O que os seus versos ganham e perdem quando se unem a música?
Naturalmente, os versos que são letras de canção costumam ter um público muito maior do que os poemas escritos. É que um poema exige certa concentração, para ser apreciado, enquanto uma canção pode ser apreciada distraidamente. São diferentes, mas esta não é necessariamente melhor ou pior do que aquele.
Você escreve letra como se fosse poema para ser musicado ou escreve a partir de uma melodia que lhe é apresentada?
Em geral faço letras para melodias que me são apresentadas. Assim, a diferença principal é que, quando escrevo uma letra, levo em conta a melodia em que ela vai se encaixar, levo em conta o parceiro ou a parceira, e levo em conta o cantor ou a cantora para o qual ou para a qual estou fazendo a letra. E é claro que nada disso existe, quando faço um poema para ser lido.
Em qual letra você acredita ter atingido o que considera ser o ideal na relação música e letra/poesia?
Nas canções Virgem e Três, que fiz com Marina, na canção Inverno, que fiz com Adriana Calcanhotto, e na canção À francesa, que fiz com Cláudio Zoli.
E vários poemas seus já foram musicados depois de publicados, não?
Vários poemas meus foram musicados depois de publicados. Mas é sempre uma surpresa para mim. Recentemente, por exemplo, José Miguel Wisnik musicou um poema chamado Os ilhéus, que eu nem imaginava que pudesse ser musicado. E o resultado foi uma canção linda. Depois disso, suponho que qualquer poema meu possa ser musicado.
Recentemente, você também lançou um livro sobre poesia e filosofia. Onde essas duas áreas se encontram e se distanciam?
Escrevi um livro inteiro, Poesia e filosofia, para tentar provar que elas são coisas inteiramente diferentes. Por exemplo, lemos um livro de filosofia para aprender algumas coisas, ou para refletir sobre elas. Um poema, porém, lemos pela mesma razão pela qual apreciamos um quadro, uma escultura, uma peça musical: pelo prazer estético que ele nos dá.
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