No mercado de lojas de discos há mais de 50 anos, o vendedor recifense guarda boas lembranças do tempo da loja do Centro.
Por Gilvandro Filho
O recifense Geraldo Timóteo da Silva, 70 anos, casado, cinco filhos, quatro netos (“família inteira tricolor”), é uma figura muito conhecida por quem tem mais de 40 anos e gostava de comprar discos de vinil e frequentar a Disco 7, um dos redutos da cultura e da boemia da cidade. Trabalhou em quase todas as grandes lojas de discos. Conviveu com artistas e era referência para quem procurava um bom LP, nacional ou importado. Ainda na ativa, Geraldo trabalha hoje em uma loja de discos e instrumentos musicais do Shopping Recife. Uma rotina que cumpre com a mesma presteza e elegância dos tempos do Casarão 7. Geraldo conversou com o jornalista Gilvandro Filho.
GF – No mercado de venda de discos, o que era melhor do que hoje?
GF – No mercado de venda de discos, o que era melhor do que hoje?
Geraldo Timóteo Silva – Tudo tem seu tempo, mas antes era muito bom. Tínhamos grandes lojas. Trabalhei na maioria: Rozenblit, Modinha, Aky Discos, Parlophone, Verdi e Rubi. E, é claro, na Disco 7. O público gostava de música boa e tinha mais tempo. Muitos passavam meia hora, uma hora, vendo e ouvindo discos, conversando, trocando informações para depois fazer a sua compra. Hoje, ninguém passa 10 minutos.
GF – Que lembranças você traz da Disco 7 e das lojas onde trabalhou?
GTS – Ah, teve muita coisa boa. Os amigos que fiz, como Washington França, Hugo Martins e Airton Cavalcanti, todos seus colegas (jornalistas), além de Osmário e Leão, que eram os proprietários da loja. O Clube do Jazz, com um pessoal que gostava e entendia o que escutava, como Alício Graciano e Tomás Edson. As próprias lojas de discos eram pontos de encontro de gente de música. A Disco 7, no Casarão, reduto de boêmios. A Modinha, na esquina da Rua da União, a Aky Discos, ali no “quem me quer” (esquina do Cinema São Luiz), ou a própria Rozenblit. Também havia os músicos que iam às lojas comprar discos.
GF – Que artistas costumavam frequentar as lojas de discos e por quê?
GTS – Além de comprar, eles iam lá ver como estavam as vendas dos seus discos. Convivi com Nelson Ferreira, que era uma simpatia, com Capiba... Alceu Valença ia à Disco 7 de vez em quando. Claudionor Germano, que é um dos maiores cantores desse Estado e o povo só conhece por causa do Carnaval. E outros nomes que sumiram e que eram grandes artistas, como a olindense Onilda Figueiredo. Eles chegavam, atendiam o público, davam autógrafos...
GF – Há quanto tempo está no ramo?
GTS – Perdi as contas. Só na Disco 7 passei dez anos. Devo ter mais de 40 nesse mercado. Comecei na década de 60, nas lojas Rozenblit, que era chamada “a loja do bom gosto”. Lá, antes da comprar, as pessoas ouviam os discos numa cabine de vidro, com poltrona, cinzeiro, cafezinho e ar-condicionado, um luxo para aquela época.
GF – Tem ido à Rua 7 de Setembro?
GTS – Passo por lá de vez em quando, mas dá pena. Aquilo está uma bagunça. Ali era uma parte importante da vida do Recife, com a Livro 7, de Tarcísio Pereira, sempre cheia, com artistas, escritores, poetas, jornalistas, uma festa. Hoje, passar na rua me dá uma dor no coração. Como é que deixaram ficar daquele jeito? E o pior é que não aparece um refeito, ninguém que queira salvar não só aquele pedaço do Recife, mas o próprio Centro. Você quer coisa pior do que a Av. Guararapes, onde já teve o Savoy e o Trianon? É lamentável.
GF – E a música? O que você gosta mais de ouvir e de vender?
GTS – Sou apaixonado pela boa música, aquela que é feita e tocada por músico. Aí, sim, dá prazer ouvir. Veja o jazz, o blues, a música erudita. Para fazer esse tipo de música é preciso ser músico. Ou por acaso é qualquer um que toca Beethoven?
Mas olha só quem eu encontro aqui. Tive o grande prazer de conhecer essa figura maravilhosa "Sr. Geraldo Timóteo", grande conhecedor de música, e grande ser humano. Uma pessoa totalmente de bem com a vida e com as pessoas. Sempre que eu precisava tirar alguma dúvida para comprar discos, logo corria ao auxílio do meu amigo Geraldo. Estou feliz em vê-lo por aqui. Essa é a grande mágica da internet, encontrarmos pessoas que já não vemos mais, que ao longo do tempo perdemos contato. Abraços.
ResponderExcluirGERALDINHO MARAVILHOSO QUE GUARDOU TODAS AS RELIQUIAS DOS BEATLES E DE CHICO BUARQUE PARA MIM. ATÉ O ANO PASSADO ELE TRABALHAVA NUMA LOJA NO SHOPPING CENTER RECIFE, TENHO FOTOS COM ELE!!!!
ResponderExcluirÉ possível que tenha sido atendido pelo Geraldo. Moro em João Pessoa, mas frequentei todas as lojas de discos do Recife e por coincidência hoje falei na loja A Modinha quando um amigo falou sobre Jimi Hendrix, então comentei que tinha tomado conhecimento do guitarrista quando comprei o LP triplo do Festival de Woodstock. A Livro 7 foi outra loja que frequentei muitos anos e sempre que ia até o Recife era parada obrigatória. Grande abraço Geraldo Timóteo.
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