Por João Bosco Rabello
Do grande compositor Abel Silva, de longa e qualificada contribuição para a música brasileira, recebi a carta abaixo, enviada por ele aos também músicos, Supla e João, filhos da ministra da Cultura, Marta Suplicy.
Trata-se de um apelo para que influam na defesa dos direitos autorais dos músicos, em debate nos poderes Executivo e Legislativo. A carta tem por mensageiro o senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Tudo em casa. Ao final, comento.
Aos filhos de Marta Suplicy
Caros Supla e João,
Sou Abel Silva, poeta e compositor (podem ir ao Google. Voltaram? Então vamos) e lhes escrevo como colega de profissão embora tenhamos estilos e idades diferentes, o que não nos afasta ou opõe, mas comprova a diversidade e riqueza de nossa Música Popular.
“Ok mano véio, mas qual é a parada da carta?” Acontece que o bicho tá pegando, o bagulho tá doido na nossa área , seja qual for a tribo de cada um nesse momento. Forças poderosas e nada ocultas convergem como tsunamis com tal furor que a casa que o povo da música construiu ao longo de décadas pode ruir! E não exagero. Tudo o que conquistamos se ergue sobre dois pilares : o Direito Autoral e o ECAD. Mexeu nisso e desaba tudo, simples assim, e os nossos inimigos sabem disso.
E por que tenho essa certeza? Porque vivi a realidade anterior a estas conquistas, e era tipo horror! Já existiam sociedades de autores e intérpretes e elas se engalfinhavam pelo parco dinheirinho já que ninguém queria pagar. O dono de um barzinho ou de uma poderosa rede de rádio e tv quando cobrados tinham a resposta pronta: não sabemos a quem pagar!, e assim, fracos e divididos os artistas eram presas fáceis dos eternos inadimplentes do setor. Até que se constatou o óbvio: tínhamos que lutar por um órgão único que recebesse e distribuísse o fruto do nosso trabalho, o direito autoral.
Eram os anos 70, o tiranorex da época , o Gal Ernesto Geisel. Pois o ministro de Educação e Cultura era um militar com alma de cidadão, Nei Braga, e neguinho logo percebeu: era por ali. E fomos a ele : “o negócio, senhor Ministro é um órgão único, o sr já imaginou mais de uma CBF, o Brasil com 4 ou 5 seleções, ou 2 OABs uma exigindo exame e a outra só um diplomazinho fajuto? Pois é, não rola”. E, milagre, ele nos atendeu! E assim em 1977 foi criado o ECAD. Nestes 36 anos, vocês sabem, o Ecad construiu uma estrutura de primeiro mundo que distribui o direito autoral mensalmente (único caso no mundo) com centenas de funcionários especializados, tecnologia de ponta, parcerias com instituições respeitadas como a PUC/RJ e o Ibope, intermedia uma miríade de contratos locais e internacionais e atende uma complexa rede que envolve artistas, editoras, gravadoras , enfim trata-se de um órgão que participa ativamente da sofisticada Indústria Cultural Global de cuja totalidade só não participam as ditaduras e as sociedades pré-industriais.
Antenados como são vocês, já sacaram onde quero chegar. Pois é: estamos agora outra vez em uma encruzilhada histórica em que a escolha do caminho vai interferir radicalmente na organização da Música Popular Brasileira e por tabela na Cultura Brasileira em geral. E a escolha é óbvia: ou se respeita o Direito Autoral e se mantém um órgão privado de recolhimento e distribuição desse direito – como reza a Constituição Brasileira- ou voltamos à barbárie, ao canibalismo suicida, enfim, ao subdesenvolvimento .
E, meus caros, no colo de quem cairá a imensa responsabilidade de tomar a decisão mais importante na cultura brasileira do século XXI até agora ? Exatamente no mesmo colo que os acolheu na mais tenra infância, no da ilustríssima senhora sua mãe Marta Suplicy!
É barra, mas ela tem pelo menos dois exemplos históricos que ajudam a decidir: um é do Nei Braga. O outro … bem, o outro é o do ministro da cultura do sr Collor de Mello cujo nome prefiro deixar no silêncio sepulcral de que é merecedor por ter acabado abruptamente com a Embrafilme botando em coma o cinema brasileiro por anos a fio até a retomada gloriosa.
Pois é, jovens colegas, a parada é esta. O meu apelo é para que vocês, com carinho filial, cheguem para nossa ministra Marta Suplicy e digam: “mãe, não seja madrasta dos colegas de seus filhos, viu mãe?”
Ela vai atender. Afinal somos os trabalhadores da música e ela sempre esteve ao lado dos trabalhadores, não é mesmo?
Grande abraço.
Abel Silva
Bacana a carta, mas com esse "vamos ao google" parece que o Abel Silva tá chamando o Supla e o João de burros. Tipo: "é roqueiro? ah, é burro mesmo...", "eu sou o fodão porque sou letrista de MPB"...
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