Tendo seu trabalho de estreia entre os pré-selecionados do maior prêmio da música brasileira, Renato mostra que sem perseverança não chegamos muito longe.
Por Bruno Negromonte
A música independente em nosso país vem ganhando força e espaço ao longo dos últimos anos, principalmente através das novas tecnologias e redes sociais. Advindo deste cenário, o Renato Barushi vem galgando o seu espaço dentro da fértil cena musical mineira e ganhando adeptos de sua sonoridade por onde tem levado o seu som. Depois de ter passado longo período tocando nas noites de Belo Horizonte, o cantor e compositor decidiu que era chegada a hora para da gravação do seu primeiro registro fonográfico solo. Foram cerca de 13 anos até a gravação desse álbum e isso deu ao artista maturidade suficiente para reconhecer e encarar todos os percalços existentes no caminho que escolheu seguir.
Perseverante, Barushi procurou superar cada uma das dificuldades que cruzaram o seu caminho e como "se virou na raça", como ele mesmo costuma dizer. o resultado dessa sua tenacidade vocês podem conferir um pouco na pauta publicada recentemente aqui em nosso espaço cujo título é "RENATO BARUSHI ABRE CONCESSÕES SEM PERDER A COERÊNCIA, MOSTRANDO O SEU UNIVERSO PARTICULAR EM UM VARIADO MERCADO SONORO". A matéria mostra toda a versalidade desse mineiro de Cataguases a partir de um disco que não poderia ter título mais sugestivo: Renato e O Mercado.
Renato gentilmente nos concedeu esta entrevista onde aborda um pouco de sua trajetória, as dificuldades inerentes ao artistas independente e surpreende-se com uma agradável notícia sobre o Prêmio da Música Brasileira como vocês podem conferir, na íntegra, abaixo:
Em sua biografia consta que a sua família apesar de grande não é, digamos, propensa a música; porém você desde cedo se deixou envolver-se por ela. Como aconteceram esses primeiros contatos com a música em sua infância?
Renato Barushi - Com exceção de um tio paterno que sempre tocou muito bem violão, autodidata, ele dizia que eu ficava vidrado quando pegava o violão e sempre cantava junto, adorava quando tocava a canção “peixe vivo”, inclusive, foi comigo e minha mãe escolher o meu primeiro violão em Juiz de Fora, um Di Giorgio, no pré-primário a professora também havia notado que minha voz destacava, eu devia ter apenas 5 anos.
E a estória de que você desde os 10 anos de idade já compunha é verdade? Você lembra de alguma coisa referente a essa composição algum verso ou o porquê do surgimento da inspiração para escrever?
RB - Aos 10 anos, pegava canções conhecidas e brincava, trocava suas letras, lembro-me perfeitamente de uma música do grupo SPC que fiz isso, a canção chamava-se “domingo”, na verdade, até hoje faço isso..rs, coloco a letra que me referi abaixo, ganhei meu primeiro violão aos 11 anos, a partir daí comecei a prestar mais atenção nas letras e melodias, comecei escrever frases soltas, creio que após os 14 anos comecei a compor, foi muito natural, mas assim como tocar um instrumento, escrever é um exercício.
Segue a letra:
Titulo: Segunda
Segunda, tenho que estudar
Acordar bem cedo e ir pro colégio
Aturar as professoras, até enjoadas
A de português e a de geografia outra vez
refrão:
Quando eu vou estudar
Vai ter que ser bom
Se não vou trabalhar, numa padaria
Vai ter que ser a do meu pai
La eu só entrego pão
Depois ganho um dinheirão
Só por uma entrega, amor... só por uma entrega, amor, amor, amor..
Só por uma entrega, amor... amor, segunda..
Em dado momento de sua vida, você resolve aventurar-se na capital mineira trazendo com você coragem, fé e expectativas para dar continuidade aos projetos traçados em sua cidade. Você pode nos falar um pouco dessa decisão de vir a Belo Horizonte? Essa decisão fez com que você abrisse mão de algo?
RB - Fui aos 17 anos para Belo Horizonte, sem muitas pretensões, queria somente tocar na noite, conhecer outros músicos, somar e se possível viver de arte, e foi o que fiz, fazia jingles, trilhas, direção e produção musical e executivo, em paralelo trabalho minhas canções autorais e escrevendo minhas leis de incentivo, creio que o artista hoje está cada vez mais desenvolvendo múltiplas funções em suas carreiras. Eu abri mão de ficar perto de meus familiares, amigos de infância e musicais, e por ser de família pobre tive que me virar, bancar o meu sustendo, mas feliz por sempre fazer o que amo.
Diversos músicos afirmam que não há laboratório mais válido do que a experiência de tocar na noite. Você teve a oportunidade de vivenciar essa experiência antes da gravação do seu álbum à frente da banda Machinari. Há algo que se evidencia em sua música e que seja fruto dessa época?
RB - Claro, concordo que a noite é um grande laboratório, e com o Machinari foi o período que mais toquei, eram cerca de três a quatro shows semanais, a banda começou seus ensaios no final de 1999, iniciou os shows no início de 2000, seu ultimo show, por incrível que pareça foi dia primeiro de abril de 2004, na casa chamada Pop Rock Café, tenho o convite até hoje. Em 2002 gravamos um EP com três canções autorais, essas canções estão no site http://palcomp3.com/renatobarushi/.
Você costuma dizer que a sua música sustenta-se a partir de três, digamos, alicerces: a música negra, a MPB tradicional e o rock nacional. Dessas três vertentes musicais você poderia citar alguns nomes que são essenciais em sua formação enquanto músico e compositor?
RB - Não gosto muito de citar minhas referências, pois costumo dizer que elas se renovam constantemente e sempre esquecemos alguém importante, mas pensando rapidamente poderia citar alguns nomes que me inspiraram, como Barão Vermelho e Cazuza, Lobão, Raul Seixas, Secos e Molhados, Novos Baianos, Djavan, Tom Jobim, Chico Buarque, Tim Maia, Beto Guedes, Cartola, Noel Rosa, e gringas, Janis Joplin, Wilson Pickett, Buddy Guy, Aretha Franklin, Marvin Gaye, George Benson, Al Green, Stevie Wonder, AC/DC, Jimi, The Doors, Stones, Jimi Hendrix, dentre outros.
A sua parceria com o Robson Pitchier evidencia-se de modo significativo em seu disco. Das nove composições presentes, a maioria ele assina em parceria com você. Como se deu esse encontro musical e como é o seu processo de composição em parceria?
RB - Em 2001 eu ainda trabalhava durante o dia e tocava com o Machinari durante a noite, comecei a trabalhar como gerente de marketing em uma escola de informática, logo após Robson entrou nessa empresa, ele vivia com desenhos, perguntei o que ele gostava de fazer, me disse que era ator e gostaria de trabalhar com moda, por isso os desenhos, hoje ele trabalha em São Paulo como estilista, cerca de 7 anos, eu estava começando a tocar muito, e estávamos a todo vapor com as canções autorais, tínhamos onze, eu só pensava em compor e perguntei se ele gostaria de escrever comigo, no início ele teve uma certa resistência, mas assim que começamos não paramos mais e até hoje trabalhamos juntos, somos grandes amigos e parceiros, escrevemos até uma peça teatral, tenho outros poucos parceiros, mas metade das minhas canções são com ele, quarenta por cento sozinho e dez por cento com os demais, quero sempre somar. Quanto ao processo de composição não há regras, já peguei uma história de um parceiro e fiz música, ou a partir de uma estrofe, já fiz um personagem, já comecei com a letra e criei melodia em cima e vice-versa, de todas as formas, mas normalmente minhas parcerias são nas letras, eu crio as melodias e harmonias.
Quanto tempo foi a “gestação” desse disco?
RB - Dois anos, sendo um ano pesquisando e compondo as canções, pensando no clima e na concepção geral do cd, e um ano em estúdio.
Como se deu o critério de escolha do repertório para este álbum de estreia?
RB - Após 13 anos na noite eu quis um registro de minha obra, nesse álbum coloquei somente duas canções antigas, “Onde quero chegar” e “Meu lugar”, o restante foi criado para o cd, pensei muito no clima, queria algo leve, para colocar no carro e dirigir, por exemplo, ao mesmo tempo fazer algo mais radiofônico, letras de fácil assimilação, introduções curtas, sem solos de guitarras enormes, ao invés disso, temas e riffs, sou muito over, tenho um vocal agressivo, devido muito tempo tocando rock, e por isso trazer de novo a MPB e o balanço da música negra para minha música, foi um processo de pesquisa enorme e reencontro com algo que adoro.
Todos sabem que fazer música independente no Brasil é uma aventura na qual poucos conseguem lograr êxito. Muitas são as dificuldades existentes, e os estorvos vem nas diversas etapas, desde a captação de recursos até divulgação depois de pronto. Você acredita que a facilidade existente na atualidade acabou gerando uma demanda muito grande e isso gera alguns desses problemas ou a coisa não é bem por aí?
RB - Não há facilidade para os músicos autorais, nem atualmente, com banda você ainda divide com algumas pessoas os gastos, se você não tem dinheiro para investir ou desenvoltura para escrever leis, fica mais difícil ainda, são poucos que trabalham com leis, que tem alguém para escrever, pois é caro, eu comecei e me virei na raça, e captar é pior ainda, não captei nada até hoje, este ano tenho uma lei estadual aprovada no valor de R$ 250.000,00 reais, consegui gravar o cd Renato e O Mercado devido ao falecimento do meu pai, um cara que eu amava muito, ele estava em seu segundo casamento e o pouco que me sobrou, investi tudo no cd. A internet é muito boa pra trocar figurinhas, pesquisar, mas não pense que lhe fará famoso, normalmente, os que são conhecidos na internet, não são para o grande publico e vice-versa, na verdade a música não há receitas para o sucesso, não é como uma engenharia que você faz a faculdade, estágio e em seguida arruma um bom emprego, mas há diversas áreas para se trabalhar, não só tocar na noite ao contrário que muitos pensam.
Você já se acha um vitorioso tendo seu disco entre os pré-selecionados para o Prêmio da Música Brasileira? O que mais espera para 2013?
RB - Eu fui? Lembro-me de uma produtora do Prêmio da Música Brasileira, seu nome era Luciana Cardoso, ela pediu para enviar o meu material para seleção, isso pra mim já foi uma vitória, mas creio que não fui pré-selecionado. Em 2013, após 15 anos em Belo Horizonte, voltei para minha cidade natal, Cataguases, fica na zona da mata mineira, a cena aqui é ótima, já estou com uma banda chamada “Eu, tu, elas e os Pachiega”, com uma influência muito forte do rock’n’roll, e claro, a pitada de MPB e o balanço e alegria da música negra não pode faltar.
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#amei
ResponderExcluirO Barushi é o máximo! Merece ser sucesso!!!
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