Considerada uma das primeiras cirandeiras do Brasil, Dona Duda chega aos 90 anos.
Por Cilene Araújo
Dona Duda, A Ciranda do Amor
Originária de Portugal como dança de roda para adultos, provavelmente também dos formatos das quadrilhas européias, a ciranda começou a ser popularizada no Brasil na Zona da Mata e nas praias pernambucanas, depois então se espalhando por todo o Nordeste, onde, com o passar dos tempos, chegou a ofuscar um outro ritmo muito festejado em toda a Zona Norte do estado: o coco.
Resultante da mistura, não apenas do canto e da dança, em especial de brincadeiras e recreações, principalmente no sul do país, porque praticada como samba rural e mesmo momo dança de roda infantil, a ciranda, inicialmente representada por mulheres de pescadores que esperavam a volta de seus maridos, entrança as mais vivas e belas cores nordestinas do folclore.
No passo de cirandeiros ou cirandeiras, entoando temáticas poéticas bastante variadas, dizem até também de mãos dadas com o reisado, daí chegando ao repertório musical, todas as origens e camadas musicais distribuídas na ciranda irão comprovar não haver espaços para quaisquer discriminações. O interessante é que o corpo de cada figurante simetricamente acompanhe, em compasso de balanço e de molejo, as “tiradas” do mestre, enquanto são dançadas e cantadas as respostas. Mesmo porque, em tempo de democracia e ao som de flautas, zabumbas, trompetes e caixa, além do ganzá “chocalhado” pelo próprio cirandeiro, elementos da orquestra centrados na roda, todos dão-se as mãos formando uma enorme roda.
Nas praias pernambucanas, mais especificamente no Janga, provavelmente tenha sido a pioneira na expansão, no canto e na composição do gênero ciranda, dança e música. Não há, no entanto, como eleger Vitalina Alberta de Souza Paz, a Dona Duda da praia do Janga, uma morena bonita dos olhos da cor do mar, como a primeira cirandeira do Brasil. Sobretudo porque não me ocorre nenhuma outra dama cirandeira que a ela tenha precedido.
No final da década de 1960 começou a fazer cirandas também para adultos e em pouco tempo começou a atrair simpatizantes da região metropolitana do Recife que iam ver suas rodas de ciranda.
Em 1970, a Ciranda de Dona Duda passou a fazer parte do calendário oficial do turismo de Pernambuco.
Em 1971, organizou o primeiro festival de ciranda com a participação de cirandeiros de todo o estado de Pernambuco. Em 1974, teve que extrair um nódulo nas cordas vocais e foi obrigada a parar de cantar.
Em 1975, composições suas foram lançadas na voz de diversos cirandeiros no LP "Ciranda de Dona Duda", lançado pela antiga, e hoje extinta, gravadora Rozemblit, de Pernambuco sendo este o único registro de seus trabalhos.
Em 2002, foi homenageada ao ser colocada como tema do carnaval da cidade pernambucana de Paulista.
Discografia
Ciranda de Dona Duda (Rozenblit) (1975)
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