Por Abílio Neto
Maria de Fátima Palha de Figueiredo, a Fafá de Belém, é uma cantora brasileira nascida em Belém/PA em 10/08/1956. Seu nome foi dado pelo pai, por causa de uma promessa feita a Nossa Senhora de Fátima, em função de ter se curado da febre tifo, numa época de poucos recursos médicos na região Norte. Aos nove anos de idade já cantava em festas familiares e em casas de amigos.
Em 1973, fez sua estreia como cantora em um show no Iate Clube de Belém, incentivada por Roberto Santana, produtor musical da PolyGram. No ano seguinte, apresentou-se com Zé Rodrix na boate Pujol e no Teatro da Lagoa, no Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, participou, com Sérgio Ricardo, de um show realizado em Belém, e, no ano seguinte, apresentou-se, com este mesmo show, no Teatro Vila Velha de Salvador (BA). Ainda em 1975, gravou "Filho da Bahia", de Walter Queirós, para a trilha sonora da novela "Gabriela", da TV Globo, atingindo as paradas de sucesso. Gravou, também neste ano, seu primeiro compacto, com as canções "Naturalmente", de João Donato e Caetano Veloso, e "Emoriô", de Gilberto Gil e João Donato.
Foi contratada em 1976 pela gravadora PolyGram e gravou seu primeiro elepê, "Tamba Tajá", título de uma antiga composição do paraense Waldemar Henrique. Participou, ainda em 1976, do elepê "O dinheiro na MPB", gravando a faixa "Dinheiro Não É Tudo", de Roberto e Erasmo Carlos. O disco, produzido por Ricardo Cravo Albin, foi distribuído pelo Banco do Brasil, não chegando, contudo, a atingir as lojas especializadas. No ano seguinte, lançou o LP "Água", que atingiu a vendagem de cerca de 95.000 cópias. Os discos seguintes lançados pela gravadora foram "Banho de cheiro", em 1978, com produção musical de Sérgio de Carvalho, "Estrela radiante" (1979) e "Crença" (1980). Intérprete de vários estilos como a música regional, o rock, o bolero, ritmos caribenhos, guarânias, afoxés, lambadas, sambas-canções, forrós, clássicos do cancioneiro popular e da MPB, destacou-se no cenário artístico com a gravação de "Bilhete", de Ivan Lins e Vítor Martins, faixa do elepê "Essencial", lançado pela PolyGram em 1982.
No ano seguinte, gravou seu primeiro disco na gravadora Som Livre: "Salinas". Teve importante atuação no "Movimento das Diretas Já", em 1984, ao interpretar, para mais de um milhão de pessoas que lotavam o Comício da Candelária (RJ), a canção "Menestrel das Alagoas", de Milton Nascimento e Fernando Brant, uma homenagem ao então senador Teotônio Vilela. Ainda contratada pela Som Livre, gravou "Aprendizes da esperança" (1985), "Atrevida", premiado com o disco de platina pela vendagem de 500.000 cópias, "Grandes amores" (1987) e "Sozinha" (1988). Causou impacto com uma polêmica interpretação do "Hino Nacional", em gravação contestada pela justiça e bem recebida pelo público, no momento da transição democrática do país.
Em 1989, gravou "Fafá" e, dois anos depois, "Doces palavras", lançados pela BMG/Ariola. Em 1991, participou do CD da então iniciante dupla Zezé di Camargo e Luciano na faixa "Águas passadas", de Paulo Debétio. Em 1992, seu CD "Meu fado", lançado pela Som Livre, recebeu o disco de platina em Portugal, duas semanas após seu lançamento. A partir de então, passou a ser considerada uma legenda da MPB em Portugal, onde excursiona com regularidade, sempre com grande sucesso. No ano seguinte, novamente pela BMG/Ariola, gravou "Doces palavras". Em 1994 a Sony lançou o seu 16º disco, "Cantiga pra ninar meu namorado". Ainda contratada pela Sony, gravou os CDs "Fafá ao vivo" (1995), comemorando vinte anos de carreira, "Pássaro sonhador" (1996), que remete às origens nortistas da cantora, apresentando um repertório de toadas e carimbós da região amazônica, e "Ave Maria" (1997). Nesse ano Fafá foi escolhida para interpretar a canção homônima durante a festa religiosa em homenagem à vinda do Papa João Paulo II ao Brasil, realizada no Maracanãzinho (RJ).
Em 1998, contratada da Warner, gravou o CD "Coração pirata". Em 2000 lançou o CD "Maria de Fátima Palha Figueiredo", no qual interpretou, entre outras, as músicas "Sob medida", de Chico Buarque,"Amor em paz", de Vinícius de Moraes e Tom Jobim e "Tortura de amor", de Waldick Soriano. O disco foi lançado em show no Canecão, Rio de Janeiro. Em 2001 apresentou no Teatro do Estoril em Portugal o espetáculo "Se o amor tivesse preço", baseado nas músicas de seu CD do ano anterior. Em 2002, apresentou no Garden Hall no Rio de Janeiro o espetáculo "Fafá in concert", ao lado do pianista João Rebouças. No mesmo ano, lançou dois Cds, "Piano e voz", gravado ao vivo no Teatro Rival no Rio de Janeiro, e "O canto das águas", somente com músicas de compositores paraenses. Em "Piano e voz", de perfil mais jazzístico, interpreta, entre outros, "Escândalo", de Caetano Veloso, "Bilhete", de Ivan Lins e Vitor Martins, "Devolvi", de Adelino Moreira e "Abandonada", de Paulo Sérgio Valle e Sullivan. Em "O canto das águas", que teve arranjos de Sérgio Souto e Luis Pardal, com texto introdutório do historiador Vicente Salles, interpretou, entre outras, "Uirapuru", de Waldemar Henrique, "Destino marajoara", de Nilson Chaves e "Sangue caliente", de Maria Lídia, além de pout-porris de carimbó e siriá. Também no mesmo ano, gravou para registro em seu primeiro DVD, dois shows apresentados no Teatro da Paz em Belém, com cenografia de Gringo Cardia e regência do maestro Luiz Pardal, paraense, assim como todos os músicos, com repertório do CD "Canto das águas". Ainda em 2002, foi tema do enredo de uma escola de samba em Belém: "Rancho não posso me amofinar". Em 2003, recebeu a Comenda da Ordem do Mérito Infante D. Henrique , honraria outorgada a personalidades brasileiras que contribuem para a integração cultural entre Brasil e Portugal.
Em 2004, fez o show "Com açúcar e com afeto", na inauguração da casa de espetáculos "Estrela da Lapa", no bairro carioca da Lapa, interpretando apenas canções de Chico Buarque. Nesse período, Fafá fez um total de 16 apresentações pelo interior do Brasil e nas lonas culturais do Rio de Janeiro. O trabalho serviu de laboratório para a gravação, nesse mesmo ano, de um CD apenas com composições de Chico Buarque. O disco "Tanto Mar - Fafá de Belém canta Chico Buarque" - contou com a participação de músicos como Ricardo Costa no pandeiro, Raul Mascarenhas, no sax, o violonista português Pedro Jóia no alaúde e do norte americano Bruce Henry no contrabaixo. O disco, lançado em marco de 2005, foi o primeiro da carreira da cantora dedicado a um único compositor. Nele, Fafá interpretou acompanhada do pianista João Rebouças, responsável pelos arranjos, canções como "Dans mon coeur", que abre o disco (uma versão da cantora Bia Krieger para "Terezinha"), "Vitrines", "Olhos nos olhos", "Fado Tropical" e "Tanto Mar", canção que, em 1975, homenageava a Revolução dos Cravos, e da qual a cantora registra as duas versões, a primeira daquele ano que foi censurada e a segunda de 1978, que foi gravada pelo próprio Chico Buarque. A faixa "Calabar" conta com participação do próprio Chico Buarque, que recita o poema escrito pelo parceiro Ruy Guerra, além do violonista português Pedro Jóia. Ainda no repertório do disco, destacam-se, entre outros, "Gota d'água", "Com açúcar e com afeto", apontada por alguns como o ponto alto da integração da cantora com os músicos, "Olha Maria", parceria com Tom Jobim e Vinícius de Moraes, "Mulheres de Atenas", "Desalento", parceria de Chico com Vinícius de Moraes e a versão blues para "Vida". Merecem também destaque "Bastidores", esta gravada por sugestão de Cauby Peixoto e o novo registro para "Sob medida", uma das canções que se tornaram um marco na carreira da cantora (gravada há 25 anos), em que a cantora deixa registrado seu amadurecimento e também seu natural e notável talento para interpretações eloquentes. O disco foi lançado simultaneamente no Brasil e em Portugal, onde Fafá possui grande prestígio junto ao público. No mesmo ano, após longo tempo morando no Rio de Janeiro, mudou-se para São Paulo.
Após esse registro do que houve de mais importante na carreira artística de Fafá de Belém, devo dizer que ela sempre se deu muito bem cantando músicas gravadas por Luiz Gonzaga. Quando era preciso alegria, ela mostrou em “Xamego”, ao mesmo tempo em que esbanjou talento e sensualidade. A música, de autoria de Luiz Gonzaga e Miguel Lima, fez parte da trilha sonora de uma novela da TV Globo em 1976. Foi extraída do seu LP “Tamba Tajá” do mesmo ano.
Já outro registro sonoro de Fafá que mereceu elogios é a sua gravação para o baião “Andarilho”, de Orlando Silveira e Dalton Vogeler. Aqui ela deu um toque de dramaticidade à música, realçando o seu lado de grande intérprete, imprimindo a esse áudio a marca de registro definitivo para essa composição. Indiscutivelmente, Fafá se houve com muito brilho nessa interpretação de 1977, superando o Mestre Luiz Gonzaga na gravação de 1968 e até o grande Antonio Nóbrega que a regravaria também na década de noventa. Ela consta do seu LP “Água”, de 1977. É daquelas releituras que a obra autoral ficou mais rica ainda!
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