Ao longo dos anos, a Mostra Internacional de Música em Olinda tem se mostrado cada vez mais vigorosa e com um público cada mais sedento por música de qualidade.
Por Bruno Negromonte
Depois de trazer informações sobre o primeiro dia da MIMO restou-me fazer um breve apanhado dos dias que sucederam a estreia daquele que já é considerado como um dos maiores festivais de música do Brasil. A cada novo ano a Mostra Internacional de Música em Olinda inova-se o suficiente para acolher mais adeptos às suas propostas; e com isso sedimenta-se como um dos porto seguro musicais de qualidade musical inquestionável em nosso país e nesta nona edição as coisas não dissonaram das edições anteriores chegando ao final do evento com sucesso tanto de público quanto de crítica. Essa afirmativa fundamenta-se em um público cada vez mais cativo e que a cada novo soma-se em maior número a um total dos mais 200 mil pessoas que já prestigiaram o festival ao longo de quase uma década, além dos mais de mais de 100 concertos apresentados desde a sua primeira edição em 2004. Isso já traz embasamento suficiente para considerarmos tal evento como indispensável ao calendário turístico de Olinda e a tendência natural é que venha também, em breve, as outras cidades envolvidas. Este ano, somando todos os concertos realizados no Nordeste, a MIMO contou com 23 concertos (três a menos que em 2011) e um público que compareceu em massa para alguns dos diversos principais concertos assim como também ao ao Festival MIMO de cinema, que este ano trouxe cerca de 24 filmes entre curtas e longa-metragens. Isso sem contar com as oficinas, workshops e outras atividades existentes nas etapas educativas da mostra.
Nesta nona edição o público presente pode acompanhar nomes como Richard Bona, Marcos Valle, Chucho Valdés, Letieres Leite e Orkestra Rumpilezz, Arismar Espírito Santo, Cyro Baptista, Duo Assad, Romero Lubambo, Arnaldo Batista, Calíope, Sylvain Luc, Duo Milewski, Paraphernalia, Projeto CCOMA, Borromeo, Projeto Coisa Fina, Maria João e Mário Laginha, Orquestra Contemporânea de Olinda entre outras atrações do cenário musical não só brasileiro, mas mundial, pois dentro do festival não há fronteiras, apesar da organização do evento procura dar uma atenção especial para a música brasileira, como explica a produtora, curadora musical e coordenadora da mostra Lu Araújo: "Há uma atenção para a música produzida no Brasil e acima de tudo para o repertório brasileiro em relação às orquestras."
De início vieram as etapas educativa iniciadas dois dias antes do começo dos concertos e que trouxeram diversas atividades divididas em algumas categorias ao longo da semana. Essa proposta já fez com que a MIMO até a oitava edição já beneficiasse cerca de 1000 pessoas em nas cidades envolvidas como sede do evento, procurando levar a partir deste contexto a música não só para aqueles que se dirigiam aos diversos espetáculos e oficinas apresentadas, mas também para as escolas públicas, onde a MIMO vem fazendo um trabalho bastante interessante de formação de público ao longo desses anos.
Para que o evento ocorresse da maneira bem-sucedida como vem ocorrendo desde o seu início, além da competência a Lume Arte contou-se com o apoio de centenas de profissionais (tanto das cidades sedes quanto advindos do Rio de Janeiro - sede da produtora), além da assessoria pernambucana da "Trago Boas notícias", nas pessoas da Aline Feitosa, Juuliana Renepont, Dulce Mesquita e Elayne Bione e que foram fundamentais para a nossa cobertura deste evento.
2º dia
"Eu dedico esta apresentação ao saudoso e querido José Roberto Bertrami que partiu recentemente." (Marcos Valle)
Diferente da primeira noite da mostra, onde na abertura centenas de pessoas compareceram ao concerto protagonizado pelo camaronês Richard Bona, o francês Sylvain Luc e o brasileiro Marco Suzano; a segunda noite teve um público um pouco mais escasso. Talvez por conta da noite chuvosa, onde fez com que o público não prestigiasse um dos melhores espetáculos do festival: Paraphernalia com a participação do cantor Marcos Valle e da cantora Patrícia Alvin. Comandado por Bernardo Bozízio e sua guitarra, o grupo trouxe muito suíngue para a o Convento de São Francisco em um chuvoso início de noite. Porém, o ponto alto do espetáculo se deu justamente com a presença do cantor, compositor e instrumentista Marcos Valle, autor de clássicos como "Os grilos" (canção executada na apresentação) e "Azimuth", outra presente no set-list da participação do músico carioca.
Em seguida apresentou-se o paulista Cyro Baptista e uma turma da pesada o acompanhando, dentre eles o violonista Romero Lubambo, que por vezes roubou a cena do espetáculo devido ao seu virtuosismo ao violão. Cyro trouxe, para deleite da plateia, diversos nuances percussivos na apresentação do trabalho "Villa-Lobos/Vira-Loucos", onde mistura suas técnicas percussivas com clássicos do cancioneiro brasileiro compostos pelo saudoso maestro e compositor carioca Heitor Villa-Lobos.
Isso sem contar com a apresentação da Orquestra Experimental de Câmara na Igreja da Misericórdia e do concerto da noite de abertura na capital paraibana nesta mesma data. Além disso, a noite contou também com a exibição dos curta e longas-metragens em três locais diferentes na cidade de Olinda que acabaram com um escasso público devido ao céu nublado que ameaça banhar as ladeiras do sítio histórico.
4º dia
Isso sem contar com a apresentação da Orquestra Experimental de Câmara na Igreja da Misericórdia e do concerto da noite de abertura na capital paraibana nesta mesma data. Além disso, a noite contou também com a exibição dos curta e longas-metragens em três locais diferentes na cidade de Olinda que acabaram com um escasso público devido ao céu nublado que ameaça banhar as ladeiras do sítio histórico.
3º dia
"Cê tá pensando que eu sou loki, bicho?" (Arnaldo Baptista)
Na programação do terceiro dia do festival estava presente um dos espetáculos mais esperados da MIMO: Arnaldo Baptista. O artista que dispensa maiores apresentações veio como primeira atração da MIMO na capital pernambucana e trouxe consigo um público maior que o esperado para o teatro de Santa Isabel. O espaço que conta com pouco mais de 650 lugares estava completamente tomado pelo público recifense e ainda havia fora do recinto por volta de 200 pessoas que não conseguiram entrar, mesmo alguns estando de posse dos ingressos. Segundo os organizadores não penas estar de posse do ingresso, mas também chegar ao local da apresentação que pontualidade, pois a própria direção do teatro não permitiu que ninguém entrasse após o fechamento das portas. No set-list canções da lavra do artista como "Corta jaca", "Balada do louco", "Será que eu vou virar bolor?", "Não estou nem aí", "Benvinda", e "Posso perder minha mulher, minha mãe, desde que eu tenha o rock and roll", entre outras. Ao som de canções como "Somewhere over the rainbow" Baptista apresentou-se ao piano tendo como cenário ao fundo algumas de suas pinturas. Sem os telões externos (impossibilitado por problemas técnicos) restou ao público que não teve a oportunidade de assistir ao espetáculo a frustrante volta para casa ou dar uma esticada até Olinda, pois a noite ainda prometia outros espetáculos.
Na Igreja da Misericórdia, em Olinda, no início da tarde ainda teve o Duo Milewski, formado pelo violinista polonês Jerzy Milewski e a pianista brasileira Aleida Schweitzer. No Mosteiro de São Bento (com um público bem menor) a apresentação da noite ficou a cargo do grupo Calíope,considerado pela crítica, de maneira unânime, como um dos melhores conjuntos vocais em atividade no Brasil e para o público presente eles mostraram que a crítica especializada de fato tem razão.
Olinda ainda contou com o concerto do Projeto CCOMA, um duo de jazz instrumental e contemporâneo do sul do Brasil no Seminário de Olinda e também, como atração principal na noite olindense, o Duo Assad, que formado pelos irmãos Sérgio e Odair Assad trouxe ao público presente números de João Pernambuco, Ernesto Nazareth, Piazzolla, Gnattali entre outros. Já o público paraibano ficou com o espetáculo do grupo Borromeu na Basílica das Neves na capital paraibana.
4º dia
"Essa mostra dá oportunidade de culturas diferentes se integrarem harmonicamente. As igrejas abrem as portas para o público sentir e respirar música. Incrível" (Telespectadora presente no espetáculo do cubano Chucho Valdes)
No penúltimo dia do festival houve a primeira noite de apresentações no palco montado na praça do Carmo (mesmo local em que se apresentou em 2011 o grupo franco-argentino Gotan Project) e isso fez com que as principais ladeiras e ruas de Olinda ficassem tomadas por um público ávido por boa música, somado a isso, as luzes e cores refletidas nos templos, trouxeran à cidade toda uma peculiaridade, onde até o público cativo sentiu-se em um novo lugar, acolhido de maneira ímpar pelas notas musicais que soavam das igrejas como foi o caso das pessoas presentes ao concerto dos portugueses Maria João e Mário Laginha no Seminário de Olinda. O penúltimo dia contou ainda com a Banda Sinfônica do Centro de Educação Musical de Olinda apresentando-se na Igreja São João dos Militares e do grupo Borromeo, que depois de uma excelente apresentação em João Pessoa trouxe para a capital pernambucana o espetáculo apresentado na noite anterior. Por falar na capital paraibana, a data contou com a apresentação do Projeto Coisa Fina e a sua reverência ao maestro Moacir Santos.
Vale salientar que pela manhã houve o concerto "MIMO in Concert" como encerramento das Oficinas de Formação de Orquestra no Teatro de Santa Isabel, local este que às 17 horas abriu suas portas mais uma vez para receber o público e o espetáculo da Orquestra Sinfônica de Barra Mansa.
Ao longo da noite a cidade continuou embuida de bastante sonoridade, pois trouxe para a catedral da Sé o instrumentista Chucho Valdes, um dos maiores pianista de jazz do mundo com mais de 50 anos de carreira e com oito Grammys na bagagem. O espetáculo contaria com Egberto Gismonti, mas, por recomendação médica, infelizmente ele teve que cancelar tal compromisso. Além do artista cubano a penúltima noite do evento trouxe para a praça do Carmo a Orquestra Contemporânea de Olinda e o lançamento do segundo trabalho de estúdio do grupo intitulado "Pra Ficar". O disco que foi produzido pelo cantor, compositor e guitarrista Arto Lindsay (ex-integrante do grupo The Lounge Lizards) foi apresentado ao público presente cujo repertório o grupo mesclou com o trabalho anterior e algumas releituras de canções como "Ciranda de maluco", composição do pernambucano Otto. A praça do Carmo estava tomada por um público pra lá de heterogêneo.
5º dia
“Para um festival que busca ressignificar o uso do patrimônio histórico estar em Olinda e agora Ouro Preto é estar nas duas cidades mais importantes do país” (Lu Araújo, idealizadora da MIMO).
O último dia da MIMO foi o que menos houve concertos como tradicionalmente vem acontecendo, na data do dia 09 de setembro houve apenas três. Porém foram três apresentações que prometiam encerrar o festival com chave de ouro. Por volta das 18 horas no Convento de São Francisco apresentou-se Andrea Luisa Teixeira. Em mais um ano, o público compareceu de maneira que todos os convites que dão acessos aos espetáculos encerraram-se em pouco tempo no local de distribuição, comprovando assim que em mais um ano o evento foi sucesso absoluto. A noite seguiu com a penúltima apresentação do Festiva ocorrida no Seminário de Olinda e que tinha como atração o virtuoso multi instrumentista Arismar do Espírito Santo. O músico que toca contrabaixo, guitarra, violão, piano e bateria mostrou porque foi considerado em 1998 pela revista Guitar player um dos dez melhores guitarristas do nosso país.
E encerrando com chave de ouro o evento, a praça do Carmo recebeu o espetáculo do músico soteropolitano Letieres Leite e de sua Orkestra Rumpilezz. Ogrupo que traz consigo uma sonoridade pra lá de brasileira e contagiante. Composta por cinco metais e 16 instrumentistas de sopro, o grupo regido por Letieres trouxe refinados arranjos usando para isso as peculiaridades rítmicas e percussivas da música de matriz africana.
Que em 2013, no décimo ano de existência da mostra, venham tantas gratas surpresas quanto estas que vêm acontecendo ao longo desses nove anos de existência da MIMO, evento este que traz para as seculares Igrejas das cidades uma alegria peculiar a cada novo ano. Parabéns ao público e a receptividade com a qual sempre acolheu o evento, a qualidade das apresentações e daqueles que passam o ano preparando o evento para um público cada vez maior. Mais uma vez agradeço em particular a equipe da Trago Boa Notícia (Aline Feitosa, Juliana Renepont, Dulce Mesquita e Elayne Bione), responsável pela assessoria de imprensa local.
Obs: O crédito de todas as imagens presentes nesta pauta são atribuídas a equipe do Ateliê Santo Lima.
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