Em 2012 já são 05 anos sem duas das maiores intérpretes do nosso país. De um lado, a voz marcante de Núbia Lafayette e do outro a ex-doméstica que descoberta pelo patrão saiu da cozinha para marcar seu nomes dentro da música brasileira.
Por Bruno Negromonte
Dois grandes nomes de nossa música a cinco anos nos deixou e deixou não só a saudade por suas interpretações, mas também um espaço dentro da música popular brasileira que não mais será ocupado por ninguém. Eu particularmente cresci ouvindo um desses nomes e como procuro sempre trazer a este espaço os grande nomes de nossa música com esses dois nomes não poderia ser diferente: Núbia Lafayette e Carmen Costa.
Núbia Lafayette é uma artista que permeia minhas reminiscencias musicais mais remotas, pois quando criança me habituei a ouvir uma coletânea do acervo de minha mãe contendo grandes sucessos e que por muitos e muitos finais de semana o ouvia, até o momento em que o LP deu espaço ao aparelho de CD e o velho vinil foi aposentado. Ela foi uma artista que marcou toda uma geração com suas canções. Sucessos como "Quem eu quero não me quer", "Lama", "Casa e comida" e tantos outros sucessos Tendo iniciado a carreira no início da década de 60, Idenilde Araújo Alves da Costa (seu nome de batismo) trouxe de Assu (cidade localizada na microrregião do Vale do Açu, que está na mesorregião do Oeste Potiguar e no Polo Costa Branca, a 207 km da capital do estado, Natal) para o Rio de Janeiro um talento nato e aos oito anos de idade já apresentava-se em diversos programas mostrando o seu talento.
Núbia, que no final de década de 50 trabalhava como vendedora nas Lojas Pernambucanas e por achar com vocação para a música resolveu participar do programa de calouros "A voz de ouro", da TV Tupi. Entre os jurados havia o proprietário de uma casa de shows carioca e foi a partir daí que começou a cantar profissionalmente como crooner adotando o nome artístico de Nilde Araújo, nesse período em que atuou nas boites Michel, de São Paulo e Cave do Rio , onde interpretava canções do repertório de Dalva de Oliveira, Vicente Celestino e outros artistas da época. Foi em uma de suas apresentações que conheceu o compositor Adelino Moreira e gradativamente começou a ganhar o seu espaço com o apoio do novo amigo.
Antes de adotar o nome artístico com o qual ficou nacionalmente conhecido, gravou com o apoio do cantor e compositor Joel de Almeida e ainda com o nome de Nilde Araújo um disco pela Polydor. Posteriormente, em 1960, Adelino Moreira achou que o nome Nilde Araújo deveria ser substituído por outro mais marcante, e foi então que sugeriu Núbia Lafayette, nome este que foi aceito e adotado pela artista tornando-se assim seu nome artístico. Adelino também foi responsável por sua contratação (com o apoio de Nelson Gonçalves) junto à gravadora RCA e por muitas composições do seu repertório, dentre os quais o primeiro e maior sucesso de sua carreira, o samba-canção "Devolvi". Foi com esta canção que o Brasil veio a conhecer como cantora romântica e popular.
Já Carmen Costa, que tinha por nome de batismo Carmelita Madriaga, veio do interior do estado do Rio de Janeiro, onde seus pais eram meeiros na fazenda Agulha e ela ainda pequena, começou a trabalhar como doméstica em casa de uma família de protestantes. Foi nesse período em que trabalhou na casa desta família que aprendeu hinos religiosos e demonstrou seu talento de cantora. E em 1935, em busca de novas expectativas resolveu partir para o Rio de Janeiro, onde aos 15 anos conseguiu uma colocação como doméstica na casa do cantor Francisco Alves. Aliás, foi através de Francisco em uma das festas realizadas em sua casa que fez com que Carmen cantasse e demostrasse o seu talento. Nesta festa estavam presentes entre os convidados a cantora Carmen Miranda, que a estimulou de imediato o início de sua carreira. Daí a participar do programa de rádio de Ary Barroso como caloura e consagrando-se vencedora foi algo mais rápido do que se imaginava. Depois desta apresentação passou a cantar profissionalmente em dupla profissional e afetiva com o então cantor, ator e compositor Henricão, que em 1937 indicou o nome Carmen Costa para que ela usa-se profisisonalmente e a cantora acatou a sugestão.
Antes de sua primeira gravação fez alguns coros para famosos cantores de nossa MPB até que em 1942 passou a atuar de maneira solo quando, pela RCA Victor, gravou a a valsa "Está Chegando a Hora" (versão da canção mexicana"Cielito Lindo" composta por Henricão e Rubens Campos). Essa canção tornou-se um de seus maiores sucessos assim como também um dos grandes sucessos do carnaval daquele ano e de diversos carnavais posteriores. Ainda na década de 40 gravou canções como "A coisa melhorou" e "Não há" (composições do Heitor dos Prazeres), os sambas "Madalena" (Raul Marques e Vasco Gomes). Gravou "Chamego" e "Sarapaté", ambas de Luiz Gonzaga, sendo ela, uma das primeiras a gravar músicas do cantor e compositor centenário. Ainda na década de 40, vai morar nos EUA, e começa também a compor onde, como compositora, adotou o pseudônimo de Dom Madrid. Ao voltar no final da década grava o frevo canção "Sonhei que estava em Pernambuco", de Clóvis Mamede e participou do filme "Pra Lá de Boa" (1949).
Ao longo da década de 50 a cantora grava canções "Vai levando", de Ataulfo Alves e José Batistacomo, "Cachaça" (Mirabeau/ H. Lobato/ L. Castro/ Marinósio Filho), "Marambaia (Só Vendo que Beleza)" (Henricão/Rubens Campos), "Tranca rua" (Adelino Moreira) e "Tem nêgo bebo aí". É dessa década o seu envolvimento com o compositor Mirabeu Pinheiro com quem acabou tendo sua única filha, Silésia. Em 1955, participou do filme "Carnaval em Marte", de Watson Macedo e posteriormente dos filmes "Depois Eu Conto" (1956) e "Vou Te Contá" (1958). Talvez seja interessante trazer ao público leitor que Carmen foi também uma das artistas presentes no antológico concerto no Carnegie Hall em 1962, quando com o violonista Bola Sete apresentou a bossa nova ao lado de nomes como Tom Jobim, Vinícius de Moraes, João Gilberto, Stan Getz, entre outros e que na voz da cantora há diversos sucessos além dos citados anteriormente e que são da mais alta e inquestionável qualidade, dentre os quais a sua interpretação para "Eu Sou a Outra" (Ricardo Galeno) na década de 60 assim como também para "Garoto de aluguel", de Zé Ramalho em 1980.
Um pouco antes de falecer, por volta de 2003, Carmen chegou a propor ao então ministro da cultura Gilberto Gil que ela fosse "tombada" como patrimônio artístico nacional assim como ocorre em alguns países na Europa e aproveitou a oportunidade para apresentar a ministro a composição intitulada "Tombamento", de sua autoria: "Eu sou a raça/Sou mistura/Sou aquela criatura/Que o tempo vai tombar/sei que não serei a derradeira/Mas quero ser a primeira/para a história conservar/Senhor Ministro da Cultura/por que não se tomba/Uma criatura/Quando é patrimônio nacional?". O ministério não chegou a tombá-la, mas tanto os seus admiradores como também da Núbia Lafayette as eternizaram em seus respectivos corações para sempre e cabe a nós perpetuar para as gerações subsequentes não deixar nomes como o dessas duas artistas e tantos outros caírem no esquecimento.
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