Quarteto carioca desbrava, de maneira esfuziante, a obra de um dos ícones da música brasileira, e logo em seu primeiro trabalho mostram ao que vieram recebendo na categoria MPB, do maior prêmio da música brasileira, a indicação de melhor grupo.
Bruno Negromonte
Em 1936, a mãe de santo baiana Eugênia Anna Santos, a Mãe Aninha, no centro de candomblé ao qual tinha fundado criou uma espécie de título honorífico ao qual deu o nome de Obá de Xangô. Este título, geralmente concedido àqueles que de uma forma ou de outra eram amigos ou protetores do seu terreiro na Bahia (terra de profícua cultura africana) foi ao longo de todos esses anos distribuídos apenas a alguns nomes, dentre os ocupam este posto alguns ilustres, como o músico e compositor soteropolitano Gilberto Gil. Esta breve explanação se dá devido a um texto escrito pelo compositor e poeta carioca Paulo César Pinheiro, autor de centenas de canções gravadas por muitos dos principais nomes de nosso cancioneiro, certa vez escreveu que Dorival Caymmi seria o Obá mais velho de Xangô, uma espécie de Rei soberano de um território o qual domina como ninguém, em uma espécie de Insígnia concedida por Yemanjá que o mestre baiano soube honrar como se fosse um verdadeiro cavaleiro do oceano e soubesse o segredo de todas as marés.
O mestre baiano, que teve a carreira iniciada por volta de 1938 com a exitosa "O Que é Que a Baiana Tem?" na voz de Carmen Miranda, teve uma produção escassa se comparada aos anos de carreira, porém, por possuir um requinte ímpar, acabou transformando-o em um dos maiores referenciais dentro da cultura brasileira, sendo reverenciado pelos maiores nomes de música brasileira que o sucederam como um dos maiores ícones do nosso cancioneiro. Esse "título" fez com que sua obra acabasse caindo no gosto popular através de diversas vozes do universo musical brasileiro tornando-se razão inclusive para trabalhos fonográficos temáticos ao longo de todos esses anos. Diversos nomes, dentre os quais este que hoje o público do Musicaria Brasil terá a oportunidade de conhecer hoje, dedicaram discos ao universo musical do artista baiano.
Com trabalhos e trajetórias distintas, os integrantes da família Von Krüger (de ascendência holandesa) somaram seus talentos e hoje compõem o Quarteto Primo. Grupo este que é formado pelo primos Matheus, Rogério, e as irmãs Eliza e
Malu Von Krüger. Matheus possui uma carreira paralela ao grupo e vem desenvolvendo um trabalho que tece influências que vão do jazz ao soul, passando por gêneros como salsa, samba entre outros. Essa pluralidade talvez venha como influência dos diversos lugares por qual passou e pelos grupos com os quais atuou. Baiano, mas vindo de uma família mineira, o músico já morou em Belém, São Luiz, passando pela Nova Zelândia até se fixar na cidade do Rio de Janeiro onde hoje desenvolve a sua carreira e vem divulgando também os seus trabalhos solos, dentre os quais o cd "Outros Tempos"; as irmãs amapaenses Malu Von Krüger (contralto) e Eliza Lacerda (soprano) também mantem uma carreira paralela desenvolvidas ao longo desses anos que antecedem esse belíssimo projeto em forma de quarteto. Eliza começou a sua carreira ainda criança, mais precisamente aos 7 anos, quando participou da gravação corista e solista de um disco de músicas folclóricas. Os anos se passaram e ela foi acumulando diversas passagens interessantes em sua carreira, entre elas a participação com a Orquestra Sinfônica Brasileira e o Maestro Ray Lemma na abertura do Rock'n Rio III e em vários espetáculos pela Cia. da Voz Karla Boechat. Em 2006 lançou o seu primeiro CD, intitulado “Pé de Dança” (álbum este que lançado também no japão). Vale lembrar que assim como Malu, desde 2002 ela faz parte do grupo "Mulheres de Hollanda", cujo trabalho consiste em só canta o feminino da obra de Chico Buarque de Hollanda.
Já a contralto Malu Von Krüger fez aulas de percepção corporal e de canto com nomes como Ana Abbott e Maíra Martins participando inclusive do Coral Cia. da Voz. Assim como a irmã Eliza apresentou-se na abertura do Rock'n Rio III, gravou um cd independente intitulado “Meu Rumo”, somando-se a isso, atuou em diversos shows, dentre os quais o da dupla gaúcha Kleyton e Kledir e também participa, assim como a irmã do grupo "Mulheres de Hollanda". O único que não atua na área musical profissionalmente é o fotógrafo Rogério.
O disco, apesar de trazer um autor excessivamente recorrente, traz consigo um "q" de diferenciação, um cheiro gostoso da maresia e peculiaridades musicais que só alguém que conviveu anos com o saudoso algodão (apelido dado a ele devido aos cabelos brancos que remetia à lembrança de flocos de tal fibra) seria capaz de registrar. A participação do Muri Costa tanto na produção, arranjos e direção musical assim como na execução de algumas faixas (tocando seu violão) talvez tenha sido preponderadamente fundamental para dar ao trabalho esse molde. O álbum também conta com a participação dos gabaritados músicos Zeca Assumpção (baixo), Marcelo Costa (bateria e percussão), André Siqueira (violão de aço), Marcelo Caldi (acordeon) e os renomados Cristovão Bastos (piano) e Jaques Morelembaum (violoncello) que navegam no oceano musical do mestre baiano através das 13 faixas presentes no disco.
O repertório do álbum é abrangente, indo de clássicos à canções menos conhecidas da lavra do compositor baiano, trazendo como característica interpretações que prezam pelos arranjos vocais, porém encontram-se também no disco números solos de cada um dos integrantes do grupo. A primeira faixa do disco trata-se da canção "O bem do mar" do álbum "Canções Praieiras", de 1954. Do mesmo disco também consta a faixa "Quem vem pra beira da praia". Ainda na década de 50, do disco "Caymmi e o mar", vem as faixas "Promessa de pescador" e a épica canção "História de pescador" (faixa esta que conta com a participação do músico, cantor e compositor Danilo Caymmi nessa homenagem ao seu pai). As outras faixas presentes no disco são "Acaçá", "Festa de rua" (composição de 1949, a mais antiga presente no disco), "... das rosas (1964)", "Sargaço mar" (1984) e "Milagre" (1980), canção gravada também pelo autor no álbum "Setenta anos Caymmi" (1984). Destaque para o álbum "Caymmi", de 1972 sob produção de Milton Miranda, que trouxe para o álbum do quarteto nada mais que quatro faixas: "Vou ver Juliana", "Francisca Santos das Flores, também conhecida como Dona Chica", "Morena do mar", "Canto de nanã".
O agradável resultado sonoro do disco (que vocês podem adquirir a partir do link abaixo) ainda conta com os bordados, ilustrando o projeto gráfico, de Maria Esther Lacerda von Krüger sobre as pinturas de Dorival. Nosso Obá mais velho de Xangô com toda convicção está reverenciando este trabalho onde quer que esteja, o conduzindo de maneira firme aos caminhos mais seguros dentro do universo ao qual soube abordar como poucos e abrindo passagem para este grupo que tem tudo para ser um dos grandes grupos vocais existentes em nosso país do mesmo modo que foram e são tantos outros dentro da nossa música. Talvez essa seja a forma mais simples de explicar o sucesso (tanto de público quanto da crítica) do álbum. Prova disto é que o álbum "Dorival" depois de ter sido pré-selecionado ao 23º Prêmio da Música Brasileira, ficou entre os finalista e no próximo dia 13 de julho concorrerá na categoria MPB ao título de melhor grupo vocal mostrando que a junção da técnica em harmonia com a sutileza, quando bem feita, é capaz de além de dar qualidade ao produto também é capaz de chamar a atenção daqueles que buscam isso para si.
Maiores Informações:
Facebook (Página) - http://www.facebook.com/quartetoprimo
Youtube - http://www.youtube.com/user/KRUGERMARCIO
Flavors - http://flavors.me/quartetoprimo
Adorei! Eles possuem uma sintonia enorme. Trocam olhar com admiração. Lógico que nem preciso falar da postura vocal e nem do talento deles, né?! Boa revelação!
ResponderExcluirAdorei! Eles possuem uma sintonia enorme. Trocam olhar com admiração. Lógico que nem preciso falar da postura vocal e nem do talento deles, né?! Boa revelação!
ResponderExcluir