Downloads de LPs digitais superam venda online de faixas individuais e embalam setor.
O surpreendente desempenho dos álbuns na Grã-Bretanha ajudou a reafirmar o formato como carro-chefe da indústria fonográfica, apesar das várias previsões de que ele estaria com os dias contados por causa do avanço dos downloads de faixas individuais.
Dados recentes mostram que a receita com o download de álbuns completos ultrapassou a de downloads de faixas individuais por dois trimestres consecutivos - o último do ano passado e o primeiro deste ano.
De acordo com a British Phonograph Industry (BPI), entidade que representa a indústria da música na Grã Bretanha, a receita com o álbuns completos para baixar cresceu 22,7% nos primeiros três meses de 2012.
'Esta é uma boa notícia. E mostra que as pessoas ainda querem conhecer o artista através de seus álbuns', avalia o DJ Gilles Peterson, sobre o aumento das receitas com LPs, ainda que no formato digital. 'Mas os lucros ainda são os mais baixos da história', pondera ele, que é dono do selo Brownswood Recordings e DJ de um programa na BBC Radio 6.
Com a revolução no consumo de música promovida pela popularização da internet nos anos 90 e 00, não foram poucos os músicos, jornalistas especializados e representantes da indústria que anunciaram a morte do álbum - que chegou ao mundo nos anos 50 em vinil como LP, o long-play, a coleção de músicas de um mesmo artista compostas e gravadas em uma mesma época.
O fato é que os números mais recentes da indústria fonográfica mostram o oposto. O álbum não morreu e, mais ainda, voltou a ser aclamado como formato artístico mais importante da música gravada.
O produtor e músico Charles Gavin, que promoveu e supervisionou o relançamento de dezenas de álbuns em CD para várias gravadoras brasileiras, diz não estar surpreso com a virada dos álbuns. 'Embora nem sempre o álbum tenha um conceito, sendo eventualmente uma coleção de canções, é sempre um retrato de um momento da carreira do artista. E o fã gosta disso', nota ele, que apresenta O Som do Vinil, em sua sexta temporada no Canal Brasil, o programa mais assistido do canal.
Os novos dados deram à indústria mais certezas sobre a antes questionada força do segmento digital, que já domina mais de 50% de sua receita na Grã Bretanha, embalada pelo crescimento de serviços por assinatura, como Spotify, e pela venda de álbuns digitais. Por isso, Geoff Taylor, o presidente da BPI, qualificou a virada como 'um marco para a evolução dos negócios com música'.
Segundo relatórios das gravadoras, o fenômeno deveu-se muito ao bom desempenho de álbuns como 21, de Adele, ganhadora de diversos Grammy, o prêmio maior da indústria do disco, ou Mylo Xyloto, do Coldplay, respectivamente os mais vendidos mundialmente no ano passado pelas gigantes Sony e EMI.
Mercado premium
Mas, de fato, para além das previsões furadas, o álbum jamais perdeu seu reinado, em especial em seu formato mais popular globalmente, o CD.
'É preciso lembrar que 68% das receitas totais com a música gravada vêm da venda de álbuns, seja no formato físico ou no digital (CD)', ressalta Gabriela Lopes, diretora de Pesquisa de Marcado da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI), em Londres, entidade que representa mais de 1.400 gravadoras e afins em mais de 60 países, incluindo o Brasil.
Ela prevê que, assim como na Grã Bretanha e nos Estados Unidos, 'mercados no Norte da Europa, como Suécia e Noruega, e Ásia vão cruzar a fronteira entre formatos físicos, como o CD, e os digitais', obtendo a maior parte de sua receita com formatos digitais (downloads e serviços por assinatura). E o álbum continuará sendo o motor deste mercado.
Gabriela diz que os formatos premium, com faixas extras e conteúdo inédito, ajudaram a alavancar a venda de álbuns digitais.
'Os formatos premium de álbuns digitais vendem mais no lançamento do que os formatos simples, mais baratos. O fã gosta', acrescenta.
Gabriela nota ainda que, embora os álbuns digitais ainda não tenham superado os downloads de faixas individuais em mercados grandes como os Estados Unidos, no mundo inteiro suas vendas crescem mais rapidamente do que a dos chamados singles. Ou seja, a virada global parece ser uma questão de tempo.
'Disco de verdade'
Para colecionadores e aficionados, porém, o álbum sempre foi a menina dos olhos. Um confirmação disso vem do crescimento da venda de sua forma mais elementar, os LPs em vinil, que chegaram em 2011 ao nível mais alto desde 1997, após cinco anos consecutivos de crescimento. Ainda que muitos alertem para seu potencial essencialmente promocional, é uma peça irresistível aos olhos do fã de música.
'Tem gente que compra o álbum de vinil e nem toca-discos tem. Porque o vinil tem um carisma inigualável como peça promocional, e se tornou sinônimo de disco de verdade', nota Charles Gavin.
Gavin lembra que mesmo quando muitos artistas perderam as esperanças de alcançar as volumosas cifras obtidas até os anos 90 com seus álbuns e viram uma ou outra faixa segurando as vendas online, o formato estava vivo nas turnês em que artistas tocavam seus álbuns clássicos integralmente.
'Acabamos de lançar a demo do Cabeça de Dinossauro (álbum clássico dos Titãs, de 1986) junto com o álbum, em nossa edição mais preciosa. E isso foi motivado pela turnê que fizemos tocando o repertório do disco. Essas turnês temáticas têm acontecido no mundo todo porque as pessoas gostam de álbuns', avalia Gavin, que, embora tenha saído da seminal banda brasileira em 2010, voltou a integrá-la temporariamente na excursão do clássico Cabeça de Dinossauro.
A indústria ainda briga para se recuperar do tombo que trouxe suas receitas aos níveis mais baixos em cerca de 15 anos, dependendo do mercado. Muitos seguem culpando a internet. Mas o álbum, como formato predileto para retratar uma fase da carreira de um artista, parece estar a salvo.
Fonte: G1 / BBC
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