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quinta-feira, 8 de março de 2012

O ESPAÇO DA MULHER NA TRAJETÓRIA DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA

Desde o final do século XIX, o fenômeno Chiquinha Gonzaga abriu as portas para que muitas mulheres assumissem seus papéis no cenário musical brasileiro, contribuindo com a história da MPB no país.

Por Bruno Negromonte


Chiquinha Gonzaga literalmente abriu alas em nossa MPB, pois o nome dela quase sempre é lembrado como o mais remoto ao se tratar de figuras femininas dentro da música popular brasileira. Chiquinha ainda hoje é vista como uma artista que fazia parte da extrema vanguarda de uma sociedade que a repreendia, mas que não a impediu de ser a primeira chorona, primeira pianista de choro, autora da primeira marcha carnavalesca (Ô Abre Alas, 1899) e também a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil.

A necessidade de adaptar o som do piano ao gosto popular valeu a glória de tornar-se a primeira compositora popular do Brasil. O sucesso começou em 1877, com a polca 'Atraente'. A partir da repercussão de sua primeira composição impressa, resolveu lançar-se no teatro de variedades e revista. Estreou compondo a trilha da opereta de costumes "A Corte na Roça", de 1885. Em 1911, estreia seu maior sucesso no teatro: a opereta Forrobodó, que chegou a 1500 apresentações seguidas após a estreia - até hoje o maior desempenho de uma peça deste gênero no Brasil. Em 1934, aos 87 anos, escreveu sua última composição, a partitura da peça "Maria". Foi criadora da célebre partitura da opereta Juriti, de Viriato Corrêa.

Depois, ao longo do século XX, a mulher foi ocupando espaços cada vez mais significativos dentro do cenário musical nacional, um dos primeiros nomes femininos de destaque foi Hilária Batista de Almeida, popularmente conhecida como Tia Ciata, a cozinheira e mãe de santo, considerada por muitos como uma das figuras influentes para o surgimento do samba carioca no Rio de Janeiro era a dona de uma casa onde se reuniam os mais destacados nomes da música brasileira do início do século. Nomes como Donga, João da Baiana e Pixinguinha eram frequentadores assíduos de lá e muitos dizem que foi criado naquele recinto "Pelo Telefone", o primeiro samba gravado em disco, assinado por Donga e Mauro de Almeida.

Em seguida, com a popularização do rádio, principalmente a partir da década de 30, vieram para o conhecimento do grande público uma enxurrada de nomes femininos, onde podemos destacar, por exemplo: Araci Cortes, Carmen Miranda, Elisa Coelho, Bidú Sayão, Ruth Etting, Helena de Carvalho, Otília Amorim, Odette Pires e Sônia Barreto. Alguns desses nomes caíram no limbo do esquecimento, porém outros entraram para o hall dos grandes nomes de nossa música.

As décadas seguintes, vieram para sedimentar de vez as mulheres entre os grandes nomes de nossa música, a década de 40, por exemplo, nos trouxe nomes como Dircinha e Linda Batista, Aracy de Almeida, Ademilde Fonseca, Dalva de Oliveira entre outros. Já a década de 50 e a popularização de ritmos como o baião e a bossa nova trouxeram para contribuir substancialmente com o cenário musical nomes como Dóris Monteiro, Carmélia Alves, Silvia Telles, Carmen Costa, Nora Ney. Sem contar nomes como Dolores Duran, Maysa, Emilinha Borba, Marlene e Ângela Maria.


Sei que serei injusto ao deixar passar desapercebido nomes relevantes para a evolução de nossa música popular, mas é difícil lembrar nomes onde há uma quantidade sem fim de artistas de muito valor. Em que lugar do mundo podemos perder as contas por ter tantos talentos como aqui no Brasil? Em lugar nenhum no mundo há tantas pessoas de talentos tão imensos e intensos como aqui. São nomes como Elizeth Cardoso, Elza Laranjeira, Zezé Gonzaga, Celly Campelo, Lana Bittencourt, Isaura Garcia e tantas outras. Com o surgimento da Jovem guarda e da Tropicália veio à tona nomes como Wanderléia, Rosemary, Nalva Aguiar, Evinha, Sílvia Araújo. Sem contar que do samba nos veio Dona Ivone Lara, Alcione, Mart'nália, Clementina de Jesus, Beth Carvalho. Não é a toa que somo, como diria Benjor, abençoado por Deus e bonito por natureza, pois a sorte nos presenteou com verdadeiras divas da música como Nana Caymmi, Elis Regina, Nara Leão, Zizi Possi, Maria Bethânia e Gal Costa.

O que mais impressiona é que existem muito mais! só de tentar lembrar me faltam dedos pois há As frenéticas, Elba Ramalho, Angela Rô Rô, Fafá de Belém, Rosana, Núbia Lafayette, Amelinha, Baby Consuelo, Cássia Eller, Paula Toller, Vanusa, Célia e etc. Atualmente nomes outros grandes nomes vem em nossa música brasileira atestar que o processo evolutivo da mulher dentro da música popular não só enaltece a figura feminina como também mostra todo um processo de evolução, de modo que tudo se faz de forma bastante consistente com nomes como Luiza Possi, Marisa Monte, Adriana Calcanhotto, Roberta Sá, Ana Carolina, Marina Machado, Mallu Magalhães, e mais um número sem fim de artistas que surgem de forma independente a cada novo dia transbordando talento. Há também a música instrumental, onde a figura feminina também se faz presente com nomes como Délia Fischer, Duo Gisbranco, Helena Meirelles, Joana Boechat e tantas outras.

Sem contar que a partir da década de 60 começaram a surgir mulheres que além de cantoras se popularizaram também como compositoras como Joyce, Marina Lima, Fátima Guedes, Izolda, Anastácia, Joanna, Kátia, Rita Lee, Céu, Maria Gadu, Vanessa da Mata (e todas compondo maravilhosamente bem!). O que almejo é que daqui a alguns anos possamos engrossar cada vez mais esse cordão! Pois nomes maravilhosos estão surgindo a cada novo dia em nosso país de cantoras, que o diga por exemplo nossas parceiras musicais e tantas outras.

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