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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

MEMÓRIA MUSICAL BRASILEIRA

Um dos espetáculos de maior sucesso de crítica e público da artista baiana completa 40 anos de seu registro fonográfico.

Maria Bethânia - Rosa-dos-ventos (Show Encantado) (1971)

Em 1971, dois acontecimentos marcaram o início de uma nova fase na carreira de Maria Bethânia. Em janeiro ela gravou em estúdio, o LP A Tua Prescença, seu primeiro disco lançado pelo selo Philips e também o primeiro a receber generosos e unânimes elogios da crítica por sua qualidade técnica e artística. Em julho, depois da fase de boates e pequenos teatros, Bethânia partiu para espetáculos mais ambiciosos e platéias maiores. Rosa dos Ventos selava definitivamente a feliz parceria da cantora com o diretor Fauzi Arap, num estilo de espetáculo bem teatral, entremeando textos e canções populares de várias épocas e estilos. Dirigida por Fauzi Arap, acompanhada pelo Terra Trio, Bethânia estreava, no Teatro da Praia (Rio de Janeiro), o show. Um espetáculo diferente que dava a Bethânia a possibilidade de mostrar sua versatilidade no palco, atuando com atriz e intérprete dos mais variados gêneros de música popular, de bolero ao baião, passando pelo frevo, tango, samba, música jovem ou inspirada nos temas de candomblé; além de recitar poemas diversos ao longo do espetáculo.

Do show Rosa dos Ventos, resultou o disco do mesmo nome, lançado em setembro de 71, pela Philips, com produção de Roberto Menescal. Nele, a intérprete declamava, pela primeira vez, Fernando Pessoa e cantava jóias de letras, ora enigmáticas, como as caetânicas "Janelas Abertas no. 2" e "(Objeto) Não identificado", ora mágicas, como "Doce Mistério da Vida", "Minha História" e um pot-pourri de canções praieiras. Apesar de mal gravado e de picotar o roteiro original do show, este disco foi seu LP mais vendido até então, por ser um documento histórico deste espetáculo que exprimiu o sentimento de toda uma geração, causando uma verdadeira catarse no público e mudou até mesmo o conceito de "shows de cantores" que se tinha até então no Brasil.

Eis aqui, 40 anos depois alguns dos textos apresentados tanto no espetáculo quanto no LP:

Nessa vida em que sou meu sono
Eu não sou meu dono
Quem sou é que me ignoro
E vive através desta névoa que sou eu
Todas as vidas que outrora tive numa só vida
Mar sou; baixo marulho ao alto rujo
Mas minha cor vem do meu alto céu
E só me encontro quando de mim fujo

(Poema sem título de Fernando Pessoa)


Mestre meu mestre querido
A quem uma coisa feriu
Me doeu, me perturbou
Seguro como o sol
Fazendo seu dia involuntariamente
Natural como o dia mostrando tudo
Meu mestre meu coração não aprendeu a tua serenidade
Meu coração não aprendeu nada
Meu coração não é nada
Meu coração está perdido
E depois porque é que me ensinaste
A clareza da vista
Se não podias me ensinar
A ter a alma com que a ver clara
E por que é que me chamaste
Para o alto dos montes
Se eu criança da cidades do vale
Não sabia respirar.

(Texto de Fernando Pessoa)


E depois de uma tarde de quem sou eu
E de acordar a uma hora da madrugada em desespero...
Eis que as três horas da madrugada eu me acordei
E me encontrei
Simplesmente isso:
Eu me encontrei calma, alegre
Plenitude sem fulminação
Simplesmente isso
Eu sou eu
E você é você
É lindo, é vasto
Vai durar
Eu sei mais ou menos
O que vou fazer em seguida
Mas por enquanto
Olha pra mim e me ama
Não
Tu olhas pra ti e te amas
É o que está certo.

(Texto de Clarice Lispector)


Lado A
Assombrações (Sueli Costa – Tito Lemos)
O Tempo e o Rio (Edu Lobo – Capinan)
Ponto de Oxum (Toquinho – Vinícius de Morais)
Texto n° 1 (Fernando Pessoa)
O Mar, Canção Praieira (Dorival Caymmi)
Suíte dos Pescadores (Dorival Caymmi)
Avarandado (Caetano Veloso)
Toalha da Saudade (Batatinha – J. Luna)
Imitação (Batatinha)
Hora da Razão (Batatinha – J. Luna)
Cantigas de Roda (Folclore Baiano)

Lado B
Doce Mistério da Vida (Victor Herbert – versão brasileira por Alberto Ribeiro)
Texto n° 2 (Fernando Pessoa)
Minha História (Gesubambino) (Dalla – Pallottino - versão brasileira por Chico Buarque)
Lembranças (Raul Sampaio – Benil Santos)
El Dia Que Me Quieras (Gardel – Le Pera)
Rosa dos Ventos (Chico Buarque)
Texto n° 3 (Fernando Pessoa)
Janelas Abertas n° 2 (Caetano Veloso)
Não Identificado (Caetano Veloso)
Flor da Noite (Toquinho – Vinícius de Morais)
Texto n° 4 (Clarice Lispector)
Movimento dos Barcos (Macalé – Capinan)Texto n° 5 (Moreno)

Fonte: http://www.mariabethania.com

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