Parece que as merecidas manifestações em reconhecimento a sua importância dentro da música e as diversas homenagens pela passagem dos seus 70 anos não foram suficientes para conscientizar os governantes do nosso estado sobre a importância de Dominguinhos, esse baluarte da cultura não só pernambucana, mas da cultura brasileira como um todo. Figura mítica e de uma simplicidade surpreendente, esse patrimônio vivo de inestimável valor para a cultura nordestina parece ser muito mais valorizado longe de seu estado do que necessariamente em sua terra natal.
Na agenda presente no site do artista não constam as principais praças de festejos juninos de Pernambuco. O único show presente em sua agenda em terras pernambucanas será em Arcoverde. Até mesmo Caruaru (que procura auto ostentar o título de "A capital do Forró", não abriu espaço em sua programação para nomes como Genival Lacerda e Dominguinhos). Em compensação, por cachês astronômicos, estarão presentes nomes como o do grupo Chiclete com Banana e da dupla Gian e Giovanni. Nada contra ao trabalho destes artistas, mas isso só pode ser algo inusitado (para não dizer outra coisa...)
O que tem sido fato (e muitos têm observado) é que de algum tempo, de maneira lamentável, o prestígio local do mestre Dominguinhos tem sofrido diversos "revés" por conta de contextos que nada tem a ver com o incomensurável talento do artista. Falo desta forma fundamentado, dentre outros fatores, na cerimônia de despedida do então presidente e conterrâneo Lula (que nesta despedida aproveitou também para lançar a pedra fundamental do Centro Cultural Cais do Sertão Luiz Gonzaga) no último dezembro, quando para participar da cerimônia foram convidados diversos artistas, menos seu Domingos. A única explicação plausível em relação a tudo isso são as questões remetentes as divergências políticas existentes, pois Dominguinhos nas últimas eleições apoiou os candidatos derrotados da ala denominada de "direita". Esse é o típico caso que mostra a incapacidade de alguns governantes em discernir a obra do artista de suas ideologias políticas.
E nessa celeuma toda quem perde é a cultura pernambucana, que por conta de picuinhas partidárias priva-se de ter um dos maiores nomes da cultura nordestina, que é Dominguinhos, na festa mais representativa de seu gênero musical, o forró. Falo isso tudo porque acredito que depois talvez seja tarde para retratar-se diante dos absurdos tamanhos dos quais o maior sucessor de Luiz Gonzaga tem sido vítima. Minha total parcialidade diante dos últimos acontecimentos me remetem aos míticos versos do Guilherme de Brito e do Nelson Cavaquinho que disseram em certo trecho de "Quando eu me chamar saudade": "Me dê as flores em vida..."
Acho que deveríamos procurar dar o devido reconhecimento a este artista, que sem dúvida alguma tem o direito de defender suas concepções políticas como qualquer cidadão comum. É necessária a conscientização dos governantes de que a cultura de um povo é considerado tesouro inesgotável, considerada por muitos como a sua identidade; e as pessoas que representam todo esse tesouro são de um valor tão inestimável que seu brilho ofusca qualquer biografia política por menos mácula que ela seja. Abram os olhos! Depois que ele se chamar saudade não precisará do inexistente reconhecimento de agora, mas apenas preces e nada mais...
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