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sábado, 12 de março de 2011

SYNVAL SILVA, 100 ANOS

Próxima segunda-feira o compositor de Juiz de fora (MG) Synval Machado da Silva, ou simplesmente Synval Silva estaria completando 100 anos.

por Bruno Negromonte*

Synval era filho de músico. Seu pai foi clarinetista da Banda Euterpe Mineira, de Juiz de Fora, e isso o ajudou a enveredar para a música. Ainda pequeno, Synval Silva aprendeu a tocar viola ouvindo as aulas dadas por um professor ao seu irmão. Ainda criança Synval começou a tocar em festas na cidade natal. Embora tenha aprendido muito pequeno a tocar violão, instrumento no qual se desenvolveu num bom nível, despontou inicialmente aos olhos do público como clarinetista (instrumento o qual seu pai também tocava), tocando o instrumento na banda sinfônica da cidade. Além disso, para garantir o sustento, Synval tornou-se mecânico de automóveis e também motorista particular. Compôs sua primeira música em 1927, a valsa "Lua de Prata".

Apesar de mineiro de Juiz de fora, Synval aos 19 anos muda-se para a então capital do Brasil Rio de Janeiro e lá criou uma identidade tão arraigada com o estado que chegou até a figurar entre um dos fundadores da Escola de Samba Império da Tijuca, além de receber o título de Bacharel da Música Popular Brasileira pelo Conselho da MPB do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (recebeu um anel de sambista), o de patriarca do Morro da Formiga, e o título de Cidadão Carioca em 1967.

Compositor de méritos inquestionáveis e um dos expoentes máximos de nossa música popular, Synval começou sua carreira no Rio de Janeiro tocando violão no Regional de Jorge Nóbrega que era contratado da Rádio Mayrink Veiga e fez parte também do Regional Good-Bye, na mesma emissora. Nesse período, conheceu Assis Valente que, em 1934, o apresentou àquela que iria mudar para sempre a sua vida: Carmen Miranda.

Synval tornou-se o compositor favorito de Carmen - a primeira canção gravada por ela foi "Ao Voltar do Samba", ainda em 34, fazendo um grande sucesso. Carmen então prometeu-lhe dois contos de réis (um dinheirão para a época) se Synval lhe fizesse um samba que alcançasse metade do prestígio conseguido por "Ao Voltar... o resultado foi "Coração", sucesso em 1935:

Coração, Governador
Da embarcação do amor,
Coração, meu companheiro
Na alegria e na dor,
A felicidade procurada corre,
E a esperança
é sempre a última que morre.
(bis)

Coração que não descansa noite e dia,
Sempre aguardando uma alegria,
Esperando no mar desta vida,
Embarcação à procura,
De um porto feliz de salvação....

Carmen então ofereceu três contos de réis por nova composição, resultando dessa vez em "Adeus Batucada".

Adeus adeus meu pandeiro de samba
Tamborim de bamba
Já é de madrugada
Vou-me embora cantando
Com meu coração chorando
E vou deixar todo mundo
Valorizando a batucada
Adeus, adeus
Meu pandeiro de samba,
Tamborim de bamba
Já é de madrugada
Vou-me embora cantando
Com meu coração chorando
E vou deixar todo mundo
Valorizando a batucada
Em criança com samba
eu vivia sonhando
Acordava estava tristonha chorando
Jóia que se perde no mar
só se encontra no fundo
Samba e Mocidade sambando
sibosa neste mundo
E do meu grande amor
sempre me despedi cantando
Mas da batucada
agora despeço chorando
E guardo no lenço
uma lágrima sentida
Adeus batucada,
adeus batucada querida

A Pequena Notável gravou ainda "Saudade de Você" e "Gente Bamba".

Outros cantores também começaram a gravar suas músicas: Aurora Miranda cantou a marcha "Amor!Amor!", Orlando Silva interpretou o samba "Agora é Tarde", Ataulfo Alves gravou o samba "Geme Negro" que fez em parceria com Synval, Odete Amaral gravou "Alma de um Povo" e o Trio de Ouro registrou o samba "Madalena se Zangou", feito em parceria com Ubenor Santos.

No início dos anos 50, o compositor esteve durante seis meses nos Estados Unidos e participou de um show, juntamente com Carmen Miranda,que percorreu todo o país, do Atlântico ao Pacífico, divertindo os soldados hospitalizados e aqueles que iriam embarcar para a Guerra da Coréia.

Voltando ao Brasil, sem conseguir viver apenas de direitos autorais, Synval voltou a trabalhar como mecânico. Com o samba "Marina", defendido por Noite Ilustrada, o compositor participou da I Bienal do Samba, da TV Record, em 1968.

"Taí o samba que você pediu, Marina
taí, eu fiz tudo e você desistiu, Marina
taí, meu amor, toda a minha afeição
e você vai me matando pouco a pouco de paixão..."

Era 1968, ano da I Bienal do Samba, na TV Record, e, com essa outra "Marina", bem mais espevitada no ritmo e no proceder que a de Caymmi, Synval Silva, com a interpretação de Noite Ilustrada, brilhava numa das eliminatórias da contenda musical, ganha por Elis Regina com "Lapinha", de Baden Powell e Paulo César Pinheiro.

"Marina" é um samba que o próprio Synval regravou, aos 61 anos, na faixa de abertura do único elepê que lançou, em 1973, no qual interpretava sete músicas antigas e mais "Amor e Desencontro", composto com Marilene Amaral com arranjos de Nelsinho e Peruzzi, pela série Documento da RCA. Nessa mesma época se afastou da vida artística, vindo a falecer em 14 de abril de 1994.

E pela passagem do centenário do Synval, a cantora Fernanda Cunha estará nos dias 18,19 e 20 de março de 2011 no Teatro Café Pequeno, no Rio de Janeiro, com um show em homenagem ao mesmo acompanhada pelos músicos Zé Carlos (violão), Jorjão Carvalho (baixo) e participação especialíssma do percussionista Robertinho Silva. Vale a pena conferir!

Serviço
Fernanda Cunha homenageia os 100 anos do compositor Synval Silva
Teatro Café pequeno
Av. Ataulfo de Paiva 269, Leblon
Fone: (21) 2294 4480
18 e 19 de março (sexta e sábado) às 19 hs
20 de março (domingo) às 18hs
Ingressos: R$20,00
Vendas no local ou pelo site:
http://www.ticketronic.com.br/



* Sob cunsulta ao site http://www.samba-choro.com.br/

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