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sexta-feira, 11 de março de 2011

ROBERTO PAIVA, 90 ANOS

A cerca de um mês atrás foi aniversário do grande Roberto Paiva, que na oportunidade está completando 90 anos de vida e a maioria desses anos dedicado a boa música.

Por Bruno Negromonte*

O registro em sua carteira de identidade passa longe de seu nome artístico, se alguém por aí perguntar por Helim Silveira Neves poucas pessoas irão responder, mas caso falem o nome do cantor Roberto Paiva muitos irão lembrar desse carioca nascido em Vila Isabel em 1921.
Roberto deu início a sua carreira quando ainda era estudante do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro fazendo carreira a princípio como cantor romântico e posteriormente como cantor de marchinhas e carnaval. Depois de conseguir vencer um programa de calouros da Rádio Clube Fluminense, de Niterói, onde cantou a canção "A você", canção esta composta por Francisco Alves.
Na medida que o seu trabalho foi lhe abrindo as portas, Roberto por intermédio de Cyro Monteiro, passou a se apresentar no programa "Picolino", do radialista Barbosa Júnior, na rádio Mayrink Veiga, onde conheceu o pianista Nonô e o violonista Laurindo de Almeida, que acabou levando-o para a gravadora Odeon.
Em 1938, Roberto então com 17 anos tem o seu primeiro registro fonográfico com composições de seus padrinhos artísticos. Um samba de autoria de Laurindo de Almeida intitulado "Último samba" e uma valsa composta por Nonô e Fransisco Matoso intitulada de "Jardim das flores". Ainda em dezembro gravou antecipadamente para o carnaval do ano seguinte o samba "Foi um valso amor" de Valdemar de Abreu (Dunga) e a marcha "Palhaços azuis" de Vicente Paiva.
O início da carreira tinha tudo pra deslanchar, mas a família de Roberto não aprovava a ideia de ter um artista na família (o pai queria que ele terminasse os estudos) e viesse a prestar o serviço militar. O que acabou acontecendo foi que Roberto começou a usar um pseudônimo para poder dar conta das 05 gravações que o contrato impunha.

Foi ainda na década de 30 que ele gravou "Se você sair chorando", um samba de um até então desconhecido compositor chamado Geraldo Pereira em parceria com Nelson Teixeira. Geraldo se tornaria um dos grandes nomes da MPB e referência em se tratando de samba sincopado.
Na década de 40 recebeu francos elogios do rei da voz Francisco Alves (o rei da voz) e gravou diversos ritmos e compositores como por exemplo a marcha-rancho "Céu do Brasil" (Pixinguinha e Gomes Filho), o fox-canção "Minha vida triste", de autoria de Valemar de Abreu e Dias da Cruz, o samba "Amor de falsidade", de Nelson Teixeira, a valsa "Se recordar é viver", de Gastão Bueno Lobo e Laurindo de Almeida e tantas outras.



Fatos interessantes acerca da carreira de Roberto é que vale ressaltar que foi através das gravações do Roberto Paiva que sambistas do quilate de Geraldo Pereira (como já foi mostrado) Luís Vieira (Alguém que Não Vem, um samba-canção, e depois o estouro, O menino de Braçanã). e Nelson Cavaquinho tiveram a oportunidade de ter suas composições eternizadas em discos. Ele também foi o primeiro a gravar a trilha da peça de Tom e Vinícius intitulada Orfeu do Carnaval, além de interpretar em 1941 um dos grandes sucessos do carnaval de todos os tempos, o samba de protesto O trem atrasou (Paquito/Estanislau Silva/Villarinho), depois regravado por Nara Leão.

Patrão, o trem atrasou
Por isso estou chegando agora
Trago aqui um memorando da Central
O trem atrasou, meia hora
O senhor não tem razão
Pra me mandar embora !
O senhor tem paciência
É preciso compreender
Sempre fui obediente
Reconheço o meu dever
Um atraso é muito justo
Quando há explicação
Sou um chefe de família
Preciso ganhar meu pão
E eu tenho razão.


Também emplacou uma versão (de Paulo Roberto) que virou hino estadual, Vienne sul mare ("Ó Minas Gerais"). "Foi a maior praga da minha vida. Nunca fui a uma cidade, por menor que fosse, que não me pedissem para cantá-la", confessou numa entrevista em 1979, ao Jornal do Brasil.
Emplacou ainda sucessos como Tagarela (1946), do xará Roberto Martins, o compositor que mais gravou (16 músicas), ao lado de Paquito (o do Trem e de outro sucesso, A Marcha do Conselho, de 1957), com 10, e Geraldo Pereira (8).

Em mais um lance de pioneirismo, participou (com Francisco Egídio), em 1953, da primeira gravação em disco da polêmica entre Noel Rosa e Wilson Batista, refeita 11 anos depois em outra gravadora, com o caricaturista do samba, Jorge Veiga.

Em 1962, gravou um único disco para a Mocambo com os sambas "Deixa de sofrer", Nelson Cavaquinho, Pedro Martins e Renato Araújo e "Deixa ela rolar", de Nelson Cavaquinho, Pedro Martins e Valter Silva.

Segundo a crítica, seu grande equívoco foi o de recusar-se a gravar o samba "Falsa baiana", maior sucesso da carreira de Geraldo Pereira, gravado em 1944, por Cyro Monteiro. Em "A canção no tempo", de Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello, há uma declaração do próprio cantor: "Era de madrugada e o Geraldo, 'meio alto', cantou enrolando as palavras, dando a impressão de que o samba estava 'quebrado'. Um mês depois, ao ouvi-lo na voz de Cyro, descobri que aquela beleza toda era o samba que o Geraldo me oferecera".

Em 1974, voltou a gravar sambas da polêmica Wilson Batista x Noel Rosa, dentro da série "Temas e figuras da Música Popular Brasileira", desta vez cantando com Jorge Veiga. Nesta nova versão da polêmica interpretou os sambas "Rapaz folgado", "Palpite infeliz", "Feitiço da Vila", "João Ninguém" e "Eu vou pra Vila", todos de Noel Rosa. Em 2000, foi lançado o CD "A Música Brasileira deste século por seus autores e intérpretes" com um resumo de sua obra.

Para quem começou a carreira artística como calouro do Club Fluminense o então garoto Roberto teve obstinação e chegou lá com sua onipresença de sensibilidade interpretativa e bom gosto na escolha do repertório, Roberto Paiva sem dúvida marcou a história da MPB.

* Sob consulta ao site Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira

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