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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

CURIOSIDADES DA MPB

Uma tarde na Philips, alguns produtores mostravam suas novidades, procuravam músicas, trocavam ideias.
Parecia uma tarde como as outras, meio trabalho e meio festa, mas depois que Jairo Pires tocou a fita de seu novo artista a sala explodiu como num gol do Brasil.
Eram duas músicas, um soul romântico, com vocais elaboradíssimos, e um divertido funk-de-macumba, com letra toda em inglês, riffs de metais à Motown, frases curtas e muitos gritos celebrando uma popular entidade da umbanda carioca, a “Cabocla Jurema”.
“Joo-rey — mah! Joo-rey-mah!”, cantava Tim Maia em inglês.
E a sala delirava, se enchia de gente vinda de outros departamentos, da promoção, da imprensa, do comercial e até da contabilidade.
A outra música, “Primavera”, era lindíssima, um soul romântico de um doidaço chamado Genival Cassiano, com suas harmonias elaboradíssimas, que faziam dele um joão-gilberto do soul.
Os vocais harmônicos e dissonantes dos Diagonais formavam uma nuvem sonora de onde emergia, como um sol, a voz grave e vibrante, puro veludo, de Tim Maia. Assim que chegou às rádios e ganhou as ruas, antes mesmo de sair daquela sala, “Primavera” era um hit instantâneo.
Todo mundo perguntava a Jairo Pires: quem era, o que fazia, onde vivia aquele monstro?
Aquilo era novidade absoluta. Até então, a música brasileira se dividia entre a MPB nacionalista, o tropicalismo e o rock internacional. Tudo muito branco e muito inglês.
Tim Maia virava o jogo, introduzia a moderna música negra americana no pop nacional, aproximava o funk do baião, trazia o soul para perto da bossa nova, abria várias portas e janelas para novas formas musicais, que não eram tropicalistas, nem emepebistas, nem rock’n’roll: eram brasileiríssimas. Eram Tim Maia.

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