Grupo abre turnê com apresentação em Viena e, no dia da final da Copa do Mundo, se apresenta para os holandeses
Por José Teles
No dia em que termina o Mundial da África do Sul, a Spokfrevo Orquestra apresenta-se no North Sea Jazz Festival, em Roterdã, na Holanda, um dos possíveis finalistas do campeonato. Esta é a sexta turnê da orquestra pela Europa e, cada vez mais, a SFO ocupa os palcos principais de festivais importantes como o do Jazz à Vienne, no qual estão escalados nomes feito os de Diana Krall, Elvis Costello, Bobby McFerrin ou o nigeriano Tony Allen (arranjador e baterista de Fela Kuti. Em Marciac, na França, as atrações da noite de 3 de agosto serão brasileiras: Spokfrevo Orquestra e Gilberto Gil. Vale a pena lembrar que o frevo, mesmo no auge, nos anos 60, quando era amplamente divulgado pela extinta gravadora Rozenblit, nunca ensaiou voos muito altos. Com a Spokfrevo Orquestra já chegou até o Extremo Oriente.
Obviamente não é um sucesso popular lá fora, mas pelas críticas em jornais e revistas especializadas tampouco é visto como um exotismo de Terceiro Mundo. No site do mais famoso clube de jazz londrino, o Ronnie Scott’s, onde a Spokfrevo Orquestra apresenta-se dias 20 e 21, lê-se: “A orquestra se propõe a dar ao frevo um tratamento diferente com arranjos modernos e harmonias refinadas. os músicos exploram a liberdade de expressão em improvisações com clara influência do jazz...O frevo é fora do Brasil um dos menos conhecidos de seus ritmos dançantes. É também, provavelmente, o mais contagiante”, o autor do texto compara o frevo a uma “polca turbinada”.“A aceitação do frevo em outros países se dá pela universalidade da música. O frevo tem tantas influências em sua formação que leva o europeu a se identificar com ele. Muita gente que nunca viu ou ouviu uma orquestra de frevo se encanta logo nos primeiros acordes. Ele tem a mesma força, a mesma sedução, de outros ritmos como o rock”, comenta Wellington Lima, empresário da orquestra.
O experiente músico e produtor Zé da Flauta, diretor artístico da SFO, analisa o que foi fundamental para a orquestra ter demarcado seu espaço em alguns dos principais festivais do verão europeu: “Se a gente fosse um time de futebol, estaria na primeira divisão. Na França, eles veem a Spokfrevo Orquestra como uma novidade do jazz. Claro que não é jazz. É a liberdade de expressão dos músicos, o improviso, que leva a esta comparação. além do mais, tem toda a sofisticação do frevo, a única música popular que não se faz de ouvido. Falo do frevo instrumental. O compositor tem que entender de harmonia, orquestração. Outra grande diferença da orquestra é que ele toca em um palco, para uma plateia que assiste ao show calada, sentada. Como não temos que fazer Carnaval, então não temos nem passistas”, diz Zé da Flauta, para quem a solidificação do prestígio da SFO é resultado de um processo que culminou com a apresentação na última Womex, acontecida na Dinamarca.Inaldo Cavalcanti, o maestro Spok, assim como quase todos os músicos da orquestra, vêm da periferia da Região Metropolitana. Quando criaram a Orquestra Pernambucana, em 2003 (o atual nome foi sugerido pelo empresário Wellington Lima), ele diz que não imaginavam até onde chegariam: “Quando vi aquele filme sobre a orquestra de Glenn Miller, meu sonho era um dia ter um filme da nossa orquestra (The Glenn Miller story, no Brasil, Música e lágrimas, de 1953). Vamos primeiro começar com um livro. E pensar que com a música que a gente tocava para o povão na rua estaremos no mesmo palco onde tocarão Stevie Wonder, Wynton Marsalis, Chick Corea”.
Com esta turnê a Spokfrevo Orquestra fecha o ciclo do CD Passo de anjo e abre o ciclo do ainda não lançado Ninho de vespa”. Neste segundo disco de estúdio, a Spokfrevo Orquestra inova com um repertório de frevos de autores não pernambucanos.
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