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segunda-feira, 17 de agosto de 2009

FIM DE SEMANA CULTURALMENTE AGITADO NA CAPITAL PERNAMBUCANA


Vanessa começa turnê por Recife
Por Eugênia Bezerra

Desde seu primeiro CD, que trazia o sucesso Não me deixe só, a cantora e compositora Vanessa da Mata vem colecionando hits e fãs calorosos – destes que sabem cantar cada verso das músicas e vibram quando a artista dança no palco. Ao menos foi isso que se viu na noite do último sábado, no Teatro Guararapes, onde Vanessa fez a primeira apresentação da turnê do seu novo trabalho, Perfumes de sim.

Este show marca o lançamento do primeiro DVD de Vanessa, o Multishow ao vivo, gravado na cidade de Parati (RJ) em novembro de 2008. O espetáculo é dirigido por ela mesma, com assistência de Chico Accioly e direção musical de Kassin.

Em Pernambuco, a estreia aconteceu em um teatro lotado e bastou as luzes se apagarem para que os fãs colocassem suas câmeras digitais a postos. Quando a silhueta de Vanessa surgiu atrás da cortina transparente que cobria o (bonito) cenário florido, muitos flashes e gritos receberam a cantora. Eles ficaram ainda mais intensos enquanto ela dançava pelo palco agitando o longo vestido amarelo ao som da primeira música da noite, Baú.

O repertório seguiu com Vermelho, Quando um homem tem uma mangueira no quintal, Pirraça e o carimbó Sinhá Pureza – com Vanessa sempre cantando acompanhada pelas vozes da plateia. “Que delícia isso aqui. Recife é uma cidade muito especial para mim e para a minha carreira. Por isso comecei a turnê aqui”, afirmou a cantora, que disse estar emocionada naquela ocasião e aproveitou a pequena pausa para apresentar a banda formada por Donatinho (teclados), Stephane San Juan (bateria), Alberto Continentino (baixo) e Gustavo Ruiz (guitarras).

Além dos sucessos da carreira de Vanessa, a seleção de Perfumes de sim traz músicas inéditas de autoria da cantora, como Era você, feita para o disco do guitarrista Lenny Gordin. Ela também apresentou parcerias e composições de outros artistas como A lua e eu (de Cassiano) e Último romance (de Rodrigo Amarante). Em Boa sorte/Good luck, contou com o tecladista Donatinho para cantar os versos que são interpretados pelo músico Ben Harper no original. Este trecho do show ainda contou com Amado, Novela das oito e Joãozinho, que ela compôs para a sua tia, Rita, e Ilegais/You dont’ love me.

Ao final da apresentação, mais sucessos. Após Não me deixe só, Vanessa exclamou: “Hoje estou com vontade de ouvir vocês. É uma coisa estranha, nem dá vontade de cantar, vocês estão cantando tão bonito”. Mesmo assim, a cantora voltou para o bis e as pessoas se levantaram para dançar e cantar junto com ela na música Acode. Vanessa arriscou uns passos com a sombrinha de frevo que alguém segurava na platéia e se despediu da cidade com outro hit, Ai, ai, ai. De Pernambuco, a turnê de Perfumes de sim segue para João Pessoa, São Paulo, Salvador, Goiânia, Brasília e Rio de Janeiro.



Melodia e Naná em noite inspirada

O Teatro da UFPE foi o palco do belo encontro entre a musicalidade de Luiz Melodia e Naná Vasconcelos na noite da última sexta-feira. Melodia recebeu o amigo percussionista no show acústico Estação Melodia – em formato inédito e exclusivo para o público pernambucano. A apresentação também contou com a participação do violonista Renato Piau e faz parte da turnê do primeiro DVD do carioca, Luiz Melodia ao vivo convida (2003), no qual ele canta ao lado de artistas como Gal Costa, Elza Soares, Zeca Pagodinho e do filho, o rapper Mahal Reis.

A platéia não chegou a lotar o Teatro da UFPE, mas era formada por um número considerável de pessoas, se levarmos em conta a quantidade de shows que aconteceram entre as cidades de Recife e Olinda no fim de semana passado. Para prestigiar Melodia, havia gente de várias idades, desde os que podem ter acompanhado o lançamento de Pérola negra (1973) até os que estavam mais para 14 quilates (1997).

O atraso de cerca de meia hora causou uma certa ansiedade, e umas quatro séries de aplausos, até que a cortina se abriu e Renato Piau começou a tocar seu violão. Luiz Melodia surgiu cantando Fadas e afirmou que esperava voltar para tocar mais vezes em Recife: “É um lugar onde sou bem tratado, como bem”, brincou, mesmo trocando o nome da cidade por Natal logo em seguida. Mas o artista logo fez a correção e relacionou o ato à sua relação afetuosa com esses lugares, antes de seguir com Maura e Constrastes. Nesta última, modificou a letra, fazendo uma referência ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP): “Quanto mais longe do circo/ Sarney/Mais eu encontro um palhaço”.

O show continuou com um clima intimista e simpático. Melodia brincou com o tamanho do banco destinado a ele no palco antes de cantar Estácio, eu e você – “Não cabe nem a minha bunda. É banco de criança”, dançou e interagiu bastante com o público durante a noite. Depois deste momento convidou Naná, a quem descreveu como um convidado especialíssimo, para o palco e contou a história de um dinheiro que teria emprestado ao percussionista e que ele nunca pagou.

Juntos, tocaram músicas como Congênito, Diz que fui por aí e Dama ideal. Ficou claro o entrosamento dos três, com participações que se somavam em camadas nas composições. Naná e Piau também tocaram em dupla Fé cega, faca amolada e, em um momento em que Melodia demorou a voltar ao palco, o violonista emendou com uma composição sua, Blues do Piauí, pedindo para a plateia perder a timidez e cantar com eles.

Com Farrapo humano, Melodia entrou em cena e seguiu com sucessos como Pérola negra e Cara a cara – sem falar em um trecho de Último regresso, de Getúlio Cavalcanti. Após despedir-se, voltou pedindo para que iluminassem a plateia que cantava com eles Estácio, holly Estácio, Codinome beija-flor e Mulher rendeira e que aplaudiu bastante o trio ao final do show.



Seu Jorge dá carinho e lição de moral à plateia

Em um fim de semana repleto de shows no Grande Recife, a noite de sábado esteve bem movimentada nas ruas. Nos espaços destinados aos espetáculos, como no Cabanga Iate Clube, não foi diferente. A área descoberta do clube, onde foi montado um grande palco para as apresentações de Seu Jorge, Casuarina e Sambão do Preto Velho, ficou simplesmente intransitável devido às milhares de pessoas atraídas para o evento.
A festa, uma aposta arriscada por ser a céu aberto – afinal, tecnicamente ainda estamos no inverno – valeu-se de uma noite quente e deu certo. A atração principal, Seu Jorge, subiu ao palco à 1h25 e se apresentou por duas horas com sua big band de música popular brasileira. A plateia queria se divertir, e o cantor sabe muito bem dar o que que o público gosta.

O repertório obviamente contemplou os sucessos da carreira do músico carioca, como Carolina, Chega no suingue, Mangueira, O samba taí e Hagua, do álbum Samba esporte fino, América do Norte, Trabalhador, Burguesinha, Mina do condomínio e Samba rock, do CD América Brasil, além de São Gonça (de Cru), Zé do Caroço (de Ana & Jorge), a nova Pessoal particular, e uma versão para Mas que nada (Jorge Ben Jor).

No palco, porém, Seu Jorge é o cara. Faz carinho, mas também bate e assopra, no melhor estilo vocês vão ter que me engolir. Dá espaço para seus instrumentistas (percussão, sopros e cordas) mostrar o talento de cada um em solos completos. Em clima de pura diversão, parte do público ligada apenas na vibe da azaração até consegue se concentrar no momento mais engajado do artista, quando ele recita Nego drama. Outra parte da plateia, contudo, aproveita para circular, alguns contestando a “morgação”.

E a atitude do cantor não se resume a sua obra. Sempre antenado, faz reverência à cultura pernambucana citando grupos como Cascabulho, Mombojó e Coral Edgard Moraes. “As coisas daqui têm muito valor”, ensina Seu Jorge, que é malandro, mas não é mané.



Fim de semana com alta sintonia
Sexta e sábado, o Teatro do Parque recebeu quatro representantes da cena musical recifense com apresentações diversificadas e impecáveis

Por Marcos Toledo


O teatro, definitivamente, é o lugar do artista. Músico, ator, dançarino, é no palco dessa casa de apresentações onde podemos observá-lo em sua melhor performance nos mínimos detalhes. Foi o que aconteceu nas noites de sexta-feira e de sábado passados, no Teatro do Parque, onde ocorreram os shows do Sintonizando Recife. China, 3namassa, Maquinado e Mombojó fizeram na cidade o primeiro show desde o lançamento, em São Paulo, do projeto da MTV em uma experiência modelo para a cena musical local que para muita gente funcionou como uma versão modernizada de eventos ocorridos no passado, como o Pixinguinha e o Seis e Meia.

A casa, com capacidade para quase mil pessoas, contou com um bom público, especialmente na primeira noite, quando não lotou, mas ficou bem cheia. Os dois dias foram marcados pela exibição de maturidade dessa nova antiga (ou antiga nova) geração da música pernambucana em sintonia com o que há de mais atual em termos de conceito e interpretação da música pop no Brasil e no mundo, e que mostrou ainda repertórios consolidados e já fase de renovação e evolução.

A grande expectativa ficou por conta do 3namassa – atração da sexta-feira –, projeto do baterista Pupillo e do baixista Alexandre Dengue (Nação Zumbi) e do tecladista/MC Rica Amabis (Instituto) no qual eles convidam cantoras e atrizes para interpretar suas canções. Um trabalho interessante e de formato ímpar, no qual os compositores interagem e dividem os holofotes com as intérpretes (em contraponto ao modelo tradicional em que se compõe uma canção que é entregue ao cantor). No palco, ocorre uma química muito boa de explosão de sensualidade das cantoras com o instrumental supracriativo dos demais músicos, que contaram ainda com a participação do guitarrista cearense Júnior Boca. Um clima descolado e pra cima só comparado à vibe do filme filme Pulp fiction, de Quentin Tarantino.

O show contou com a participação de três das 13 musas do álbum Na confraria das sedutoras – Karin
e Carvalho, Nina Becker e Lurdes da Luz –, além de Marina de la Riva, uma escolha bem apropriada, por sua voz potente e pela exigência de dramatização do espetáculo. O quarteto se revezou em dez temas do disco e os três restantes (com as atrizes Leandra Leal, Simone Spoladore e Alice Braga) rolaram no telão. Cada qual em seu estilo, mas mostrando uma unidade muito boa. O terço final do repertório contemplou um repertório de standards com temas de Olivia Newton-John (Loving you), The Greenhornes (There is an end), Roberto Carlos (Quero ter você perto de mim), Tom Waits (Jockey full of bourbon) e Madonna (Deeper and deeper) em arranjos peculiares ao som do grupo. Deixou gosto de quero mais.

Ainda na sexta – dia repleto de artistas na plateia, como músicos e cineasta – China e sua bem
lapidada H.Stern Band mostou um show redondinho todo em cima de seu segundo CD, Simulacro, com arranjos sutilmente modificados. Além de tocar 80% das canções do disco, o cantor incluiu novos temas, como o já conhecido Espinhos (gravado por Zé Cafofinho em Um pé na meia, outro de fora), mais Overlock e Distante amigo, dedicada ao músico O Rafa (Mombojó), falecido há dois anos. O baixista Hugo Gila, que gravou em Simulacro, fez uma participação em Jardim de inverno.

Foi No sábado, o guitarrista Lúcio Maia (Nação Zumbi) desconstruiu todo o repertório de seu projeto paralelo Maquinado. O músico, que entrou no palco usando uma máscara cirúrgica das que se tem usado para se proteger da gripe A(H1N1), lembrou as provocações do velhos tempos de mangueboy. Depois, tocou os hits Sem concerto, O som e Vendi a alma, do CD Homem binário, mostrou músicas novas, como Super-homem plus e Exter the dragon (homenagem a Bruce Lee), e destilou sua releitura para temas de Jimi Hendrix (Are you experienced?), Jorge Ben Jor (África Brasil) e até Tom Jobim (Wave) e Nelson Cavaquinho (Juízo final).

Os dois dias de tertútlia encerraram com um show preciso do Mombojó. Um espetáculo bem-arrumado para seus fãs, cada vez mais jovens e numerosos. Uma plateia peculiar, naturalmente desinibida, que canta todas as músicas, dança, pula e sobe ao palco para fazer coreografias.

o concerto mais longo do Sintonizando Recife, com uma hora e 20 minutos de duração. O repertório contemplou em sua maioria canções do disco de estreia, Nadadenovo, algumas do segundo, Homem-espuma, e outras novas, como Amigo do tempo, Triste demais, Justamente e Antimonotonia. Mesmo assim, não deu para quem quis. O que ficou de fora era incessantemente pedido para o público.

O DJ Tchêras, que compareceu nos dois dias, elogiou o formato do projeto, a escolha das bandas e o clima proporcionado por um evento em um teatro no Centro da Cidade. “O bom é que dá para prestar atenção, com penetração melhor, respeito e silêncio”, analisou. “Tanto é que deu certo. Deu muita gente.”

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