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sexta-feira, 10 de julho de 2009

ETERNA PROMESSA, PEDRO MARIANO VOLTA COM UM NOVO (E VELHO) DISCO

Por Antônio Carlos Miguel

Sexto disco na carreira de Pedro Mariano, "Incondicional" era para ser seu quinto trabalho. Mas, num imbróglio que diz muito sobre a crise de identidade que a indústria da música atravessa, só agora chega ao mercado, cinco anos após ter sido finalizado. E, para finalmente vir a público, o cantor paulistano teve que criar o seu próprio selo, Nau, e negociar a liberação da fita com a EMI, gravadora que inicialmente bancara o CD e, em seguida, após uma mudança na sua diretoria, rejeitou-o.

O curioso nessa história é que, artisticamente, o novo (e velho) disco do filho de Elis Regina e Cesar Camargo Mariano pouco ousa, reafirmando o pop com apelo radiofônico que vem marcando sua carreira desde a estreia, em 1997, na Sony, com "Pedro Camargo Mariano" (como ele então assinava). Ou seja, traz o tipo de repertório e de embalagem instrumental que diretores artísticos das grandes gravadoras costumam gostar. Predominam baladas, entre o pop e o soul, assinadas por um elenco de compositores que passa por Frejat, George Israel & Mauro Santa Cecília ("Três moedas"), Jorge Vercillo ("Quase amor"), Lulu Santos & Marcos Valle ("Próxima atração"), Jair Oliveira ("Memória falha" e "Colorida e bela"), Moska ("O jardim do silêncio") e Samuel Rosa & Chico Amaral ("Simplesmente").

Melhor fase foi na gravadora Trama
Entre a sua estreia na Sony, em 1997, e a criação do atual selo próprio, Nau, Pedro Mariano passou também pela Trama - a gravadora independente dirigida por seu meio-irmão, João Marcello Bôscoli, na qual gravou seus três melhores discos, "Voz no ouvido" (2000), "Intuição" (2002) e, este em duo com o pianista Cesar Camargo Mariano, "Piano e voz" (2003) - e pela Universal, onde comemorou, em 2005, dez anos de carreira no CD "Ao vivo". Esse projeto foi uma tentativa de recuperar terreno após a traumática experiência na EMI, em 2004.

Na época, contratado pelo então diretor artístico Jorge Davidson, Mariano teve liberdade artística total: selecionou o repertório, coproduziu (ao lado do também arranjador e músico Otávio Moraes) as gravações, em março daquele ano, que foram masterizadas nos EUA. Também já tinha feito as sessões para as fotos de capa e encarte (que, coerentemente, agora foram usadas em "Incondicional") e preparava-se para rodar o clipe, quando, em junho de 2004, foi avisado de que a cúpula da EMI tinha sido trocada. O novo presidente, Marcos Maynard, recusou o CD, ou, como contou na época o cantor, quis botar a mão, mexendo no repertório - pretendia trocar pelo menos seis músicas. Mariano bateu o pé, não aceitando qualquer intromissão e rescindiu seu contrato. No entanto, perdeu o direito ao trabalho a que tanto se dedicara.

Nova diretoria da EMI negociou com o cantor
Ele perdeu o disco mas manteve o prestígio, tanto que, no fim daquele ano, assinou com outra gigante do setor, a Universal. A primeira ideia era levar o CD recusado para a nova casa, mas o alto preço pedido pela EMI inviabilizou essa opção. Daí o tal "Ao vivo", que, chovendo no molhado, foi lançado em 2005 e passou em branco.

Mas, como o mundo do disco dá muitas voltas, ainda mais nessa última década de turbulências, em 2007, uma nova diretoria, com Marcelo Castello Branco à frente, assumiu a EMI, e Pedro Mariano, já desligado da Universal, finalmente pôde negociar e trazer de volta à vida seu disco abortado.

Acertadas as contas com o passado recente, já é mais do que hora de Pedro Mariano, aos 34 anos, cumprir a promessa acenada em sua estreia profissional, em 1995, num tributo a Elis. Na época, também foi um dos "Artistas Reunidos" (ao lado de, entre outros, Jair Oliveira, Luciana Mello, João Marcelo Bôscoli e Daniel Carlomagno) da geração Trama. Ele confirmava o ótimo "pedigree", com belo timbre vocal, afinação perfeita, senso rítmico e demais fundamentos obrigatórios para um grande cantor. Talento que, no entanto, vem sendo desperdiçado em discos irregulares, como esse "Incondicional", de gestação tão conturbada. Teremos que aguardar seu novo disco.

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