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domingo, 10 de maio de 2009

JOÃO GILBERTO - REGISTROS NA CASA DE CHICO PEREIRA (1958)

Aqui estão registros anteriores ao primeiro disco de um dos precursores da Bossa-Nova, o baiano João Gilberto. Registros Gravados em clima de sarau, além das músicas tocadas por João, ainda há diálogos do encontro. Raro!

Por Ronaldo Evangelista


Surpresa! Vazou essa semana na blogosfera uma das gravações caseiras lendárias de um João Gilberto pré-disco, ali por 57-58. Feita na casa do fotógrafo Chico Pereira (co-responsável pelas lindas e cultuadas capas da Elenco), a gravação tem mais de 20 músicas curtas - algumas nunca gravadas por ele em disco, como "Beija-me" e "João Valentão" - e ainda conversas e atmosfera.

Quem recupera as gravações, com ajustes possíveis, é o blog Toque Musical, de raridades brasileiras pouco óbvias e sempre interessantes. Já circulam por aí mp3s dos primeiros compactos do João e do show O Encontro, mas é a primeira vez que vejo vir a público qualquer das gravações efetivamente caseiras, feita entre amigos em gravadores antepassados dos portastudios.

E estamos em 1958 - um ano antes de João gravar seu álbum de estréia, portanto. Mesmo ano em que participou tocando violão (e dando pitacos nem sempre benquistos) no disco "Canção do Amor Demais", tido como o movimento inicial do movimento.

João já sabia de tudo.

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No indispensável Chega de Saudade, Ruy Castro conta mais:

Uma das pessoas que João conhecera com Roberto Menescal e Carlinhos Lyra fora o fotógrafo da Odeon, Chico Pereira. Pela quantidade de hobbies a que Chico dispensava total dediacação - som, jazz, aviação, pesca submarina -, era difícil imaginar como lhe sobrava tempo para fazer um único clique como fotógrafo. Mesmo assim, Pereira conseguia dar conta das fotos de todas as capas da Odeon. Menescal era seu companheiro de pesca e os dois eram também irmãos em Dave Brubeck. Quando João Gilberto cantou pela primeira vez em seu apartamento, na rua Fernando Mendes, levado por Menescal, Chico experimentou a mesma sensação que tivera ao conhecer o fundo do mar. Com a vantagem de que a voz e o violão de João Gilberto podiam ser capturados. Não perdeu tempo: assestou um microfone, alimentou seu gravador Grundig com um rolo virgem e deixou-o rodar. Foi a primeira das muitas fitas que gravaria com João Gilberto em sua casa.

Antes mesmo que o 78 de "Chega de Saudade" invadisse as rádios - antes mesmo de ter saído o disco -, fitas domésticas de rolo, contendo a voz e o violão de João Gilberto já circulavam pela Zona Sul. Circulavam é força de expressão. Poucos possuíam gravadores naqueles tempos pré-cassete, o que limitava a audiência de uma fita aos amigos do dono do gravador. Uma dessas fitas tinha sido gravada pelo fotógrafo Chico Pereira, felizmente um homem cheio de amigos; outra, pelo cantor Luís Cláudio. Em quase todas João Gilberto cantava "Bim Bom", "Hô-ba-la-lá", "Aos pés da cruz", "Chega de Saudade" e coisas que nunca gravaria em disco, como "Louco", de Henrique de Almeida e Wilson Batista, e "Barquinho de Papel", de Carlinhos Lyra.

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