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segunda-feira, 1 de setembro de 2008

ADEUS MESTRE SALUSTIANO!!

Por Lúcia Gaspar (Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco)

Manoel Salustiano Soares, conhecido como Mestre Salustiano ou Mestre Salu nasceu em Aliança, zona da mata norte de Pernambuco, no dia 12 de novembro de 1945.
Seu pai, João Salustiano, era um tocador de rabeca e foi quem o ensinou a fazer e a usar o instrumento. Mestre Salu usa praíba, imburana, pinho, mulungu e cardeiro para fazer suas rabecas, pois segundo ele são as melhores madeiras para produzir o som.
Durante a infância participou de brincadeiras e folguedos populares existentes nos engenhos de Aliança. Sua grande paixão é o cavalo-marinho, que apesar de utilizar alguns personagens, músicas e coreografias comuns ao bumba-meu-boi, tem características próprias.
Foi um dos maiores dançadores de cavalo-marinho da região, interpretando diversos personagens: arrelequim, dama, galante, contador de toada, Mateus (durante nove anos), recebendo por isso o título de mestre. É considerado um dos grandes nomes do maracatu em Pernambuco, uma das maiores autoridades em cultura popular no Estado e o precursor ou “patrono espritual” do manguebeat.
Fundou o Maracatu Piaba de Ouro, em 1997, tendo participado com o grupo do festival de Cultura Caribeña, em Cuba. É o comandante do cavalo-marinho Boi Matuto, que criou em 1968, e do Mamulengo Alegre.
Mestre Salustiano também é um artesão. Além das rabecas é ele quem confecciona os bichos do bumba-meu-boi, cavalo, boi, burra; as máscaras do cavalo-marinho, feitas de couro de bode ou de boi e os mamulengos de mulungu.
É um dos grandes responsáveis pela preservação da ciranda, do pastoril, do coco, do maracatu, do caboclinho, do mamulengo, do forró, do improviso da viola e de outros folguedos populares do folclore nordestino.
Atualmente na Casa da Rabeca do Brasil, situada na Cidade Tabajara, em Olinda, espaço inaugurado recentemente pela família para apresentações de danças, oficinas, encontros de maracatus rurais e cavalo-marinho, além de shows de música regional, acontecem eventos o ano inteiro. Anteriormente, as apresentações eram organizadas por ele no Iluminara Zumbi, arena idealizada por Ariano Suassuna, durante sua gestão como secretário de cultura.
O espaço possui um grande terreiro para as diversas apresentações, bar, salão de danças e uma loja, onde são comercializados produtos de confecção própria, como rabecas, alfaias, pandeiro, mamulengos, além de peças do artesanato de barro de Caruaru.
Na época do carnaval, a Casa recebe caboclinhos, bois, burras, troças, ursos, além do seu maracatu Piaba de Ouro. No Natal, é palco para pastoril, ciranda, cavalo-marinho, entre os quais o Boi Matuto, com a participação de 76 figurantes e 18 pessoas brincando.
Foi agraciado com o título de doutor honoris causa pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1965, e já percorreu com a sua arte a maioria dos estados brasileiros e países como a Bolívia, Cuba, França e Estados Unidos.
Recebeu ainda, em 1990, o título de “reconhecido saber” concedido pelo Conselho Estadual de Cultura de Pernambuco e o de comendador da Ordem do Mérito Cultural, em 2001, pelo então Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso.
Tem quatro CDs gravados: Sonho da Rabeca, As três gerações, Cavalo-marinho, Mestre Salu e a sua rabeca encantada.
Mistura de músico, produtor, artesão e professor, Mestre Salu segue fazendo turnês nacionais e internacionais, tocando sua rabeca e mostrando sua peculiar fusão de ritmos do folclore nordestino.
Indicado pela Prefeitura de Olinda, foi escolhido pelo Governo do Estado, através da Lei nº 12.196 de 2 de maio de 2002, como Patrimônio Vivo de Pernambuco.
Criador do espaço cultural Casa da Rabeca, na Cidade Tabajara, em Olinda, morreu, vítima de problemas do coração a 31 de agosto de 2008, no Pronto Socorro Cardiológico de Pernambuco. Ele era portador do Mal de Chagas e utilizava marcapasso há 18 anos.


Sobre sua arte, ele diz: “Eu crio na hora. Não tenho dificuldade. Quando a gente cria, nunca esgota o que tem. A gente quando cria por conta própria, é uma fonte que é difícil secar. É coisa para a gente ser vitorioso sempre”.

Mestre Salustiano está hoje com 57 anos. Um de seus momentos de glória foi através de seu CD Sonho da Rabeca, de 98, que traz maracatu, cavalo-marinho, forró pé-de-serra, coco, samba, marchas, entre outros ritmos, em que Ariano Suassuna assinou o texto da contra-capa. “Hoje, compositores e intérpretes como Roberto Corrêa e Luís Eduardo Gramani percebem o que significam a viola para a música brasileira. Mas, o trabalho desses eruditos não teria um alicerce sobre o qual se apoiar se não existissem artistas como Mestre Salustiano... Das músicas do Mestre, chamo atenção para as Toadas de Cavalo Marinho e o Maracatu Rabecado. Foram peças como estas que me levaram a incluir Mestre Salustiano, ao lado de Villa-Lobos, na criação do espetáculo “A Demanda do Geral Dançado”, hoje conhecido e elogiado no Brasil inteiro”.

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