Mineira, Irah Caldeira vive no Recife desde os anos 80. Ela se fixou em Pernambuco depois de fazer pesquisas pelo Norte e Nordeste. Sua discografia começa em 1991, com Mistura Brasil, em seguida Canto do Rouxinol, Irah Caldeira canta Maciel Melo (songbook do compositor de Caboclo Sonhador), e Entre o calango e o baião, no qual une suas influências mineiras com as nordestinas.
Poe Luis Berto*
“Meu canto tem o chap-chap de uma cuia”
(Irah Caldeira, cantando Maciel Melo)
“Se minha fosse, eu prenderia essa patativa numa gaiola, penduraria na sala lá de casa, e ela iria cantar o dia inteiro pra eu ouvir”. Esse pensamento egoísta foi a primeira coisa que me veio à cabeça quando, pela vez primeira, escutei a voz de Irah Caldeira. E não me ocorre qualquer drama de consciência quando relembro disso hoje, agora, enquanto monto este texto. De lá pra cá, não canso de me deleitar com os trinados desse pássaro que preenche os ares agrestes da terra sofrida, desde o sertão até o litoral, entupindo o mundo de beleza e passando um recado que tangencia o diáfano e o imaterial.
De fato, a candura, a doçura e a fluidez da voz de Irah são capazes de nos fazer enroscar em pensamentos dessa ordem, tal o encanto que suas interpretações provocam lá dentro, no mais fundo da nossa alma e nos recantos mais escondidos dos nossos corações.
Irah Caldeira insere-se com extraordinária luminosidade em constelação onde fulguram talentos de rara virtuosidade entre as mulheres cantadeiras de uma nação chamada Nordeste. Com brilho e trajetória que fazem do seu desempenho estupenda demonstração do vigor da arte desse peculiar recanto de mundo.
Tendo a seu crédito três CDs – impossível salientar qual o melhor deles – essa mineira, assim como o Rio São Francisco, seu conterrâneo, se deu por inteira à Nação Nordestina, na qual se instalou com fidalguia e na qual foi recebida com a honraria da benquerença e a calidez do aplauso dos seus cidadãos. À riqueza propiciada pelas águas do Velho Chico nos sertões da Nação Nordestina ajunta-se agora a borbulhante riqueza do talento dessa mineira vigorosa e bonita, que bateu asas das Gerais e aqui pousou em vôo sereno e cheio de majestade.
Quando de suas apresentações, a figura imponente da artista mais e mais se agiganta e preenche cada espaço e cada recanto do palco, despejando brilho, luz, energia e alegria por sobre a platéia, um público fiel e atento, que não se cansa de prestigiar os espetáculos dessa ave encantada e sublime. Além da beleza física e do talento invulgar, Irah Caldeira é uma alma apaixonante, que encanta à primeira vista e que alia à sensibilidade de artista a sensibilidade da pessoa humana que adotou a Nação Nordestina como sua segunda pátria e dela fez a seara onde lavora seu talento, sua arte e sua dedicação de intérprete dos nossos ritmos, de embaladeira dos nossos sonhos e de apascentadora do nosso rebanho de esperanças.
Vai t’embora, Irah, te dana por esse mundão nordestino e brasileiro de Deus, espalhando teu canto e tua alegria, forrozando e preenchendo os ares do palco do mundo com tua arte, teu sorriso de meiga onça sertaneja, tua boniteza e teu talento.
Que Deus te proteja e te ilumine, estrela de todos nós !
*Luiz Berto é escritor, pernambucano, autor de diversas obras, entre elas a premiada
"O Romance da Besta Fubana".
bertofilho@terra.com.br
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