Gilberto Gil, o cantor que foi ministro por mais de cinco anos, deixa o palco do Ministério da Cultura nesta quarta-feira, após internacionalizar e aumentar a verba da pasta em mais de 100 por cento, sem deixar de lado sua música.
O anúncio da saída foi feito nesta tarde, em um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto.
Gil havia reassumido o ministério nesta quarta-feira, ao encerrar suas férias de um mês. Ele estava em turnê mundial desde junho, principal atividade de sua vida como músico, que conseguiu manter apesar das muitas críticas ao longo dos anos de sua carreira ministerial.
Baiano de 66 anos, cantor, compositor e integrante do movimento Tropicalista, Gilberto Gil estava desde 2003 no ministério, ano do primeiro mandato de Lula.
Ensaiou, por mais de uma vez, deixar a pasta. A última tentativa foi no final do ano passado, quando sofria problemas com sua voz, mas acabou ficando após pedidos de Lula e da classe artística.
Sérgio Mamberti, amigo pessoal do cantor por mais de 40 anos e secretário da Identidade e da Diversidade Cultural, disse no final do ano passado à Reuters que a pressão para Gil ficar era grande, mas que ele também estava angustiado demais com o problema na voz.
"Ao contrário do que muitas vezes se falou, que ele é cantor, viaja muito e tal, o Gil segue uma agenda muito pesada", disse Mamberti. "Eu diria que ele é hoje a maior liderança internacional da cultura, é a liderança do Brasil."
Ternos e trios
De terno de ministro ou de guitarra nos trios elétricos de Salvador e nos palcos da Europa, Gil nunca deixou de divulgar a cultura brasileira, como um verdadeiro embaixador.
Foi assim que se apresentou na sede da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, em 2003, a convite do então secretário-geral, Kofi Annan, que também tocou percussão. Gil também foi o "garoto-propaganda" do Ano do Brasil na França, em 2005, com impacto na área cultural, comercial e turística.
Entre os feitos dos quais se orgulhava, o ganhador de prêmios Grammy -- dois na categoria World Music, em 1998 e 2006, e dois Latinos em 2001 e 2002 -- sempre citava o aumento da verba do ministério.
Segundo Gil, o MinC ampliou em 130 por cento os investimentos na área cultural, de 706 milhões de reais em 2003 para 1,6 bilhão de reais em 2007, incluindo orçamento da pasta e recursos de renúncia fiscal. Mesmo assim, Gil ainda criticava que era pouco e lutava por mais verba.
A menina-dos-olhos de Gil era o Programa Cultura Viva, que envolve comunidades em atividades de arte, cultura, cidadania e economia solidária, por meio de Pontos de Cultura. Gil chegou a anunciar 2.000 pontos espalhados pelo país até 2008, com um investimento anual de 104 milhões de reais.
Derrota
Uma batalha perdida, no entanto, foi a não criação da Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual (Ancinav), que seria responsável pelo fomento e fiscalização do setor. O projeto foi defendido a duras penas por Gil, dividiu artistas e recebeu críticas pesadas entre 2004 e 2005, mas caiu no esquecimento.
Apesar de ter considerado sua gestão à frente do MinC como "positiva", Gil lamentou nesta quarta-feira, no Rio de Janeiro, que a comissão de ética o tenha impedido nos últimos dois anos de fazer shows simultaneamente com a função no governo.
Segundo Gil, muita gente via com preconceito um músico como ministro. Praticamente todos os anos de seu mandato Gil fez turnês pelo mundo, usando suas férias em julho.
Em maio deste ano, lançou seu primeiro álbum de inéditas em 11 anos, "Banda Larga Cordel". Em 2006, lançou outro disco, "Gil Luminoso", com canções regravadas.
O cantor e compositor já tem programados espetáculos em Itaipava (RJ), no próximo sábado; Curitiba (PR), dia 8 de agosto e Florianópolis no dia 9.
(Com colaboração de Rodrigo Viga Gaier)
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