Roberto iniciou a carreira de cantor no rádio, na década de 30. Nos anos 40 realizou suas primeiras gravações, e foi do elenco das rádios Nacional e da Tupi. Nesta última ficou conhecido como "príncipe do samba", e suas interpretações são características pelo estilo sincopado e levemente dolente que encontrou para cantar samba, inspirado em dois ídolos anteriores, Cyro Monteiro e Orlando Silva.
Seu primeiro sucesso, lançado pela Star, foi "Mandei Fazer um Patuá" (Raymundo Olavo/ N. Martins). Em 1958 veio o LP "Descendo o Morro", que teve continuações, nos volumes 2, 3 e 4. Entre seus muitos sucessos destacam-se "Maria Teresa" (Altamiro Carrilho), "O Baile Começa às Nove" (Haroldo Lobo/ Milton de Oliveira), "Juraci Me Deixou" (Raymundo Olavo/ Oldemar Magalhães), "Escurinho" (Geraldo Pereira) e "Crioulo Sambista" (Nelson Trigueiro/ Sinval Silva), entre outras.
No total, gravou 350 discos de 78 rotações e perto de 20 LPs. Afastado das gravações nos últimos anos, teve vários de seus discos relançados em CD e em 1997 saiu a coletânea "Roberto Silva Canta Orlando Silva", extraída de seus vários LP na Copacabana.
“Quando entro no palco não sei se tenho 26 ou a minha idade real”, declara o cantor Roberto Silva, com juventude para dar e vender, aos 87 anos. Tempo mais do que suficiente para acompanhar a evolução hi-tech do mercado fonográfico. Roberto começou em 1938 - mais precisamente em 2 de janeiro, ou seja, há quase exatos 70 anos - gravando aquelas bolachas de 78 rotações. Foram 350, ao todo. Depois imprimiu a voz potente em 38 long plays até chegar ao moderno formato de CD, em lançamentos individuais e coletivos, com destaque para a participação no show ‘O samba é minha nobreza’, que ficou em cartaz no Cine Odeon, entre abril e junho de 2002. O nome do cantor de rádio no letreiro imprimiu um charme a mais no espetáculo, que rendeu, ainda, um primoroso álbum duplo, feito em paralelo à gravação do CD solo Volta por cima, reunindo clássicos, como ‘Gosto que me enrosco’ (Ataulfo Alves e Sinhô), ‘A primeira vez’ (Bide e Marçal) e 'Normélia' (Raimundo Olavo e Norberto Martins), um de seus maiores sucessos.
Roberto adora ser convidado para trabalhar. Não pelo cachê, mas pela satisfação de pisar mais uma vez no palco e amealhar aplausos do público – majoritariamente feminino, observa a mulher Syone Costa, 63 anos. Ela jura que não é ciumenta e, para dizer a verdade, até se diverte quando lembra do assédio que o marido sofre. Engana-se quem pensa que só as senhoras esticam o olho para o cantor. “Há muitas moças também”. Ponto para o ego de Roberto Silva, que vem participando de um punhado de coletâneas nos últimos tempos – cantou ‘Escurinho’ com Fernanda Abreu e ‘Juracy’ com Caetano Veloso em álbuns da Casa de Samba. Também está na caixa Timoneiro, de Hermínio Bello de Carvalho, e nos discos Ganha-se pouco, mas é divertido, de Cristina Buarque, e Ninho de Cobras, ao lado de Paulo César Pinheiro, Dona Ivone Lara e Monarco.
Monarco da Portela, aliás, é um dos autores que sempre falam de Roberto Silva com gratidão. Numa época em que as gravadoras detinham a palavra final sobre o repertório dos artistas, que se contentavam em sugerir uma faixa ou outra, Roberto atendia a todos os compositores com a mesma gentileza. Talvez porque ele mesmo fosse co-autor de duas músicas, sob o pseudônimo de Rosilva - ‘Não posso mais’ e ‘Trouxa’, escritas com Geraldo Barbosa e Miriam Nascimento. “Foi uma brincadeira. Cada um fez um pedacinho”. Foi a partir de encontros informais na rádio que Roberto virou um dos principais intérpretes de sambas de Wilson Batista, sobretudo daqueles que também eram assinados por Jorge de Castro. Tudo começou com ‘Mãe solteira’, em 1954. Roberto lembra que achou a letra trágica e duvidou se cairia no gosto popular, mas resolveu gravá-la assim mesmo. Os três levaram um susto quando a música estourou. Da dupla, o botafoguense Roberto gravou muitas maravilhas, entre elas ‘Samba rubro-negro’ (1955), ‘Me dê seu boné’ e ‘Samba do tri-campeão’ (1956), ‘Levanta a moral’ e ‘Vagabundo’ (1957). Roberto vendeu 22 mil discos com a marchinha ‘Vagabundo’, um número considerável para a época.
Raimundo Olavo também integrava o primeiro time de compositores do intérprete. ‘Mandei fazer meu patuá’, de 1948, parceria de Olavo e Norberto Martins, fez um sucesso retumbante. No ano seguinte, gravou quatro músicas dele com outros parceiros: ‘Você diz que é baiana’, com Elpídio Viana, ‘Você foi fazer feitiço’ e ‘Velho ditado’, com J. Kleber e ‘Juracy me deixou’, com Oldemar Magalhães. Olavo fornecia sucessos, mas ficava bravo quando Roberto gravava outros autores num dos lados da bolacha de 78 rotações. “Ele era muito ciumento, mas sabia que as músicas apareciam logo e combinavam com a minha voz”. Os dois se conheceram por volta de 1946. O compositor potiguar era ouvinte do programa Seqüência G3, dirigido por Paulo Gracindo na Rádio Tupi, e resolveu tentar a sorte no Rio de Janeiro como alfaiate e compositor. “Quando ele me procurou, havia acabado de chegar do Rio Grande do Norte e trazia na bagagem umas músicas sincopadas, brejeiras. Perguntei o que ele tinha de melhor e ele me entregou ‘Normélia’. Gostei na hora e disse que gravaria. E gravei em 20 dias”, recorda o cantor.
Roberto Silva entra no túnel do tempo para traçar um paralelo entre a indústria de discos de ontem e a atual. “Apesar da quantidade de gravadoras, acho que lançar disco é mais difícil hoje em dia. Antigamente, elas tratavam de tudo para a gente. Mas escreve aí na matéria que se aparecer um convite para fazer show ou disco eu aceito”, avisa. Reverenciado pelos sambistas da atualidade - entre seus fãs confessos está o criterioso João Gilberto -, Roberto tem disposição de sobra para mostrar sua levada sincopada e dolente, aprendida na escola de Mário Reis, Vassourinha e Luís Barbosa, pelo Brasil afora. “Felizmente, ele teve muito juízo nos áureos tempos da carreira e soube guardar dinheiro. É por isso que não temos problemas financeiros”, diz Syone. “Quando o sujeito faz sucesso só não vive bem se não quiser”, acredita Roberto, que antes de virar astro da música deu expediente como lustrador de móveis, marmoreiro e até mecânico.
Elegantíssimo, Roberto ficou conhecido como ‘Príncipe do samba’ quando fazia parte do elenco da Rádio Tupi. “Foi o apresentador Carlos Frias quem cunhou este apelido, e não Carlos José, conforme achei outro dia na internet. Os dois foram meus amigos, mas é sempre bom esclarecer”, diz, emendando mais duas correções históricas: Roberto Napoleão (o sobrenome Silva é exclusivamente artístico e foi criado por Evaldo Rui, provavelmente em homenagem ao ídolo Orlando Silva) nasceu na Praça Cardeal Arcoverde, em Copacabana, e não no Cantagalo, como reza a lenda. “Meu pai construiu uma casa bem ali onde fica a saída do Metrô”, situa. Descendente de italianos, Gilisberto era chapeleiro e andava na maior linha. “Ele e mamãe gostavam muito dos sete filhos. Papai morreu com 44 anos e nem chegou a ver minha carreira decolar”, lamenta.
Da mãe, Dona Belarmina, restou muita saudade e um episódio triste. Ele conta que estava fazendo o primeiro disco da bem sucedida série Descendo o Morro, em 1958, e varou a noite nos estúdios da Copacabana. “Gravei um samba que mamãe gostava demais, ‘Agora é cinzas’, de Bide e Marçal. A escolha do repertório era bem democrática e este samba entrou por sugestão minha. Sei que cheguei em casa com o dia clareando e recebi logo a notícia de que ela havia falecido. Eu cantando e mamãe partindo, exatamente como diz a letra: ‘Você partiu de madrugada/ E não me disse nada/ Isso não se faz/ Me deixou cheio de saudades’. Até hoje, quando canto este samba, me vêm lágrimas nos olhos”, confessa.
Discos de carreira :
VOLTA POR CIMA (2002) • CD
A PERSONALIDADE DO SAMBA (1979) • Vinil
PROTESTO AO PROTESTO (1978) • Vinil
INTERPRETA HAROLDO LOBO, GERALDO PEREIRA E SEUS PARCEIROS (1976) • Vinil
SAMBA DE MORRO (1974) • Vinil
SAUDADE EM FORMA DE SAMBA (1973) • Vinil
RECEITA DE SAMBA (1969) • CD/Vinil
A HORA É A VOZ DO SAMBA (1968) • CD/Vinil
O PRÍNCIPE DO SAMBA (1965) • Vinil
EU... O LUAR E A SERENATA Nº 2 (1964) • Vinil
O SAMBA É ROBERTO SILVA Nº 2 (1963) • Vinil
O SAMBA É ROBERTO SILVA (1962) • Vinil
DESCENDO O MORRO Nº 4 (1961) • CD/Vinil
EU... O LUAR E A SERENATA (1960) • Vinil
DESCENDO O MORRO Nº 3 (1960) • CD/Vinil
DESCENDO O MORRO Nº 2 (1959) • CD/Vinil
DESCENDO O MORRO (1958) • CD/Vinil
Extras:
A MÚSICA BRASILEIRA DESTE SÉCULO POR SEUS AUTORES E INTÉRPRETES - ROBERTO SILVA (2000) • CD
WILSON BATISTA, O SAMBA FOI SUA GLÓRIA - JOYCE e ROBERTO SILVA (1985) • CD/Vinil
ROBERTO SILVA CANTA ORLANDO SILVA (1997) • CD
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